
Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Marcelo Arruda foi morto durante a comemoração de seu aniversário de 50 anos, em 2022. O guarda municipal e tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) suspirou pela última vez quando sua festa foi invadida pelo ex-policial penal, bolsonarista, Jorge Guaranho. Ambos com porte de arma, Arruda ainda tentou defender-se e atirou em Guaranho. Caído no chão, este foi chutado pelos convidados da festa, revoltados pelo ataque ao aniversariante. Guaranho foi internado e, após a alta, ficou preso no Complexo Médico Penal de Pinhais até setembro de 2024. Depois, passou a cumprir prisão domiciliar. Arruda era pai de três filhos – a menor na época estava com apenas 40 dias.
O julgamento já tinha sido adiado três vezes, e o processo tramitou durante 937 dias. Guaranho foi levado a júri popular. Seu julgamento teve início na última terça-feira, 11, sendo finalizado no dia 13. A sentença condenatória estipulou 20 anos de prisão, mas no dia seguinte, 14, a Justiça atendeu a um pedido de habeas corpus impetrado pela defesa e deu direito ao condenado cumprir prisão domiciliar. Conforme aqui noticiado:
- A primeira testemunha a depor na quarta-feira, 12, foi Edemir Riquelme Gonsalvez, um dos amigos de Marcelo Arruda presentes na festa de aniversário. Ouvido por videoconferência no Fórum de Foz do Iguaçu por mais de três horas, Edemir disse que o aniversário de Arruda ocorria em clima de harmonia e reunia, inclusive, convidados que se declaravam bolsonaristas na época, incluindo ele.
- O relato da testemunha reafirmou o depoimento da companheira do guarda municipal, Pâmela Silva, prestado no primeiro dia de júri. Ela declarou que o marido não demonstrava qualquer animosidade política contra quem pensava diferente dele.
- A decoração da festa, inspirada no Partido dos Trabalhadores e no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi uma surpresa feita ao aniversariante pelo próprio Edemir, que é tio de Pâmela.
De acordo com as investigações, Jorge Guaranho invadiu a comemoração de aniversário de Marcelo Arruda gritando o nome de Bolsonaro. Os dois discutiram, e foi pedido para que o invasor fosse embora. A festa ocorria na sede da Associação Recreativa e Esportiva de Segurança Física de Itaipu, na Vila A. Cerca de dez minutos depois de retirar-se, o policial penal voltou armado ao local.
O caso obteve repercussão mundial, por refletir a insanidade que uma parcela da população passou a apresentar com relação a posições políticas, em que se mata e morre por defender pessoas que jamais saberão de suas existências.
Na mesma semana, quarta-feira, dia 12, mais um caso de assassinato foi relembrado pela mídia: Dorothy Stang, assassinada há 20 anos, no Pará, por defender os colonos que sofriam com a invasão dos grileiros. Dorothy e as irmãs de Notredame foram para o município de Anapu, na região do Xingu, no Pará, em 1982. Elas criaram os Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDSs). Toda a mobilização, que envolvia entidades preocupadas com o direito dos povos locais, gerou revolta nos coronéis.
Entre os cinco condenados pelo crime, somente um segue preso em regime fechado: Rayfran das Neves Sales, o “Fogoió”, que atirou seis vezes em Dorothy. Seu comparsa, Clodoaldo Carlos Batista, e outros dois mandantes, Regivaldo Pereira Galvão e Vitalmiro Bastos de Moura, estão em prisão domiciliar. Amair Feijoli Lima cumpre pena em regime aberto.
Se o lar é o melhor lugar do mundo, se as pessoas que ceifam vidas são “condenadas” a ficar em casa, qual é o papel da Justiça?
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