Aida Franco de Lima – OPINIÃO
No último dia 16, Brasília ficou colorida de lilás, por conta das cem mil mulheres que foram em passeata até o Congresso Nacional, durante a sétima edição da Marcha das Margaridas. Mulheres que tiram o sustento da terra e ativistas dos movimentos sociais desde o ano 2000 aderem ao evento. O nome homenageia Margarida Maria Alves, referência feminina na direção de sindicatos rurais.
Com chapéus de palha e roupas de cor lilás dando o tom estético ao ato, a sétima edição da Marcha das Margaridas – composta por agricultoras, ribeirinhas, quilombolas, indígenas, marisqueiras, entre outras – trouxe ao debate público o tema “Pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver”. Participaram, ainda, representantes de movimentos populares de 33 países. Elas lutam pelo direito básico: vida com dignidade, sustentada por políticas públicas.
E passada uma semana, mais exatamente no dia 24, uma quinta-feira, uma multidão de homens e mulheres novamente se reuniu, em Salvador, na Basílica Santuário do Senhor do Bonfim e nas ruas do Brasil. Porém por conta da missa de sétimo dia e em protesto ao assassinato de uma mulher que trazia no seu nome a palavra pacífico e teve sua vida brutalmente ceifada.
Ocorre que, enquanto as Margaridas lutavam por seus direitos em Brasília, no dia seguinte a líder quilombola e ialorixá Mãe Bernadete Pacífico seria morta com 12 tiros no rosto. Uma liderança de 72 anos, coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). Pacífico perdeu sua vida no lugar ao qual dedicou a própria, na associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador.
O assassinato de uma líder como Bernadete Pacífico parece mesmo ser um recado repetido, escrito com marcas de sangue, assim como foi com seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como “Binho do Quilombo”, morto em 2017. Até hoje, ninguém foi preso.
“Ela foi brutalmente assassinada por ser uma mulher preta, quilombola e de terreiro. A gente tá denunciando o genocídio da população negra em todo o Brasil. Hoje é um dia simbólico para o nosso país, porque o povo negro está nas ruas demonstrando que a gente não vai mais tolerar o silenciamento das mortes diárias da população negra”, relatou a coordenadora do Unegro-BA, Samira Soares. (Fonte: G1)
E até quando? O assassinato de Bernadete Pacífico é mais um da listagem de lideranças que são exterminadas, como maneira de silenciar as lutas em prol de igualdade social. Assim como foi com Chico Mendes, Irmã Dorothy, Maxciel, Dom Phillips, Bruno Pereira, Paulino Guajajara, Tuica, Mariele, como já escrevi no texto A ‘pedra’ da Amazônia.
A impressão que fica é de que os nomes das lideranças mais combativas do país, nos mais variados segmentos sociais, compõem uma pétala de uma margarida. Uma flor que se destaca muito e por isso incomoda. E o crime organizado escolhe qual dessas pétalas irá exterminar, tendo segurança na impunidade de quem mata um ser humano como se fosse brincadeira.
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