Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Não é de hoje que esse tema vem sendo discutido, mas o problema está fugindo do controle. Mesmo que exista uma legislação para crimes virtuais, há muita gente cometendo-os na certeza da impunidade. Dias antes de encerrar o ano de 2023, dois casos fatais trouxeram à tona, mais uma vez, a discussão em relação à necessidade de regulamentar as redes sociais.
Jéssica Vitória Canedo, 22 anos, sofria de depressão e não suportou quando seu nome foi parar em páginas de fofoca, como se ela estivesse conversando com o humorista Whindersson Nunes. Ela explicou o ocorrido em suas redes sociais, sua mãe implorou para que as páginas que haviam divulgado a falsa informação tirassem o conteúdo e se retratassem. Não houve tempo. Jéssica não queria a visibilidade que seu nome ganhou, tampouco os ataques virtuais. Morreu no dia 22 de dezembro.
O youtuber PC Siqueira vivia da visibilidade. Ele ganhou fama e milhares de seguidores em 2010, quando nem se falava o termo “influencer”. Criou um canal no YouTube, o “Maspoxavida”, com mais de dois milhões de inscritos. Comandou programas de televisão e participou de filmes. Em 2020, um perfil no Twitter divulgou supostas conversas dele comentando fotos de uma criança de 6 anos que a própria mãe teria enviado. Ele sempre negou, e a polícia não encontrou provas contra ele.
A carreira de PC, até então procurado por marcas e anunciantes, por conta de sua grande visibilidade, afundou. Ele chegou a oferecer anúncios pelo valor de R$ 100 em seu Instagram, vídeo esse que está com um milhão de acessos, e propunha seu trabalho como tatuador. Seu último vídeo foi no dia 24, no qual deseja feliz Natal para quem não iria comemorar a data, pois não estaria só. Além de depressão e vícios, PC foi impactado com “cancelamento”, um boicote virtual. Morreu no dia 27 de dezembro.
Ambos os casos trazem à tona o impacto que as redes sociais provocam na vida das pessoas, quando acusações, ainda que não comprovadas, causam um efeito devastador. As fake news viraram uma fórmula certeira para dar visibilidade a quem as promove. E cabe à vítima o papel de lidar com as consequências. Porém nem todos estão preparados.
Antes de a internet virar essa espécie de Torre de Babel em que, teoricamente, todos falam para todos, cabia ao jornalista o papel de informar. E a primeira lição aprendida nos bancos universitários é checar as fontes. No mínimo três pessoas, instituições, que não estejam vinculadas, precisam confirmar um fato, antes de ser noticiado.
Mas isso é perda de tempo para quem não é jornalista ou não exerce a ética jornalística. Em um cenário digital, o que vale é primeiramente a notícia, e a checagem dos fatos fica a cargo da imprensa dita tradicional. Ou para que a vítima desminta.
PC e Jéssica tinham histórico de bullying e depressão e não suportaram a mão pesada das redes sociais, principalmente de quem se esconde por trás de perfis falsos. Do mesmo modo que é necessário responsabilizar quem divulga esse tipo de conteúdo, atrás de engajamento, é fundamental identificar quem “planta” as cópias das supostas conversas, as gravações escondidas.
Regulamentar redes sociais não é ser contra a liberdade de expressão. É, também, responsabilizar as plataformas que sejam coniventes com publicações falsas, por exemplo. Em nome da liberdade de expressão, há quem se aproveite para fazer da internet um campo minado, terra de ninguém. Inventam mentiras, julgam e condenam da noite para o dia pessoas famosas e anônimas, que nem sempre estão com saúde mental para se libertar da areia movediça em que as redes sociais foram transformadas.
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