Aida Franco de Lima – OPINIÃO
A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a não concorrer às próximas eleições, dentro do prazo de oito anos, é o retrato de um país que tateia no escuro em busca de um salvador da pátria. Mesmo que tal salvador tenha como ídolo um torturador.
Bolsonaro sempre foi um político e levou seus filhos também para baixo das asas dos benefícios que a política proporciona, e ainda assim dizia ser contra a “velha política”.
O que está ocorrendo hoje no Brasil, com Bolsonaro perdendo seus direitos políticos, e parecendo ser apenas a ponta do iceberg de infrações que o político cometeu ao longo dos anos, lembra a história de Al Capone – que, apesar de todos os seus crimes no mundo da máfia, foi preso porque sonegou impostos.
No caso de Bolsonaro, o processo para sua inelegibilidade foi uma reunião que ele fez com embaixadores em 18 de julho de 2022, quando usou a estrutura do Palácio do Alvorada para atacar a segurança das urnas eletrônicas.
Mas, assim como Al Capone, esse foi só o motivo formal, protocolar, em que as provas estavam todas à mesa. Fora isso, o estrago, de ambos, vinha havia muito mais tempo. E onde fica a concretude, a materialidade dos fatos?
Uma vez li uma reportagem na qual o repórter questionava uma pessoa responsável por denúncias de crimes ambientais sobre o motivo de muitas vezes alguém humilde sentir a mão pesada da Justiça pelo simples fato de tirar uma casca de uma árvore. E, em contrapartida, uma pessoa que desmata grandes áreas não pagar por isso.
A explicação era muito simples. Não é porque um grande ilícito não é investigado que se deixará de observar os pequenos. O erro não está em condenar quem causou um pequeno dano, e sim em não responsabilizar aquele que cometeu algo mais grave.
No caso de Bolsonaro, foram inúmeros os exemplos em que ele causou um desserviço ao Brasil e ao mundo, quando despertou nas pessoas os sentimentos mais abjetos. Quando foi que uma parcela dos brasileiros passou a defender a destruição da Amazônia ou a dizer que a ONU é comunista? Sobrou até para o papa, com brasileiros xingando a maior liderança da Igreja Católica. E o culto à violência? E a discriminação à diversidade? A cobertura vacinal caiu de forma significativa, e isso tem relação direta com as notícias falsas.
Esses são apenas alguns exemplos que tiveram e terão consequências alarmantes, e que talvez nunca sejam julgados.
A reunião com os embaixadores foi apenas a cereja do bolo que transformou o Brasil em um espetáculo de maluco durante quatro fatídicos anos. Em que as famílias aprenderam a odiar-se por conta da política. E na divisão desse bolo, a democracia recebeu um grande presente de grego, cujo ápice foi no dia 8 de janeiro de 2023.
Bolsonaro inelegível é um recado para quem imagina que tudo se ganha com poder e violência. Tudo tem limite. Quer queira ou não, a Justiça em determinado momento abre os olhos, mesmo que não seja possível passar uma borracha em tantas manchas de sangue e dor, resultantes do negacionismo na pandemia da covid, que foi alicerçado na insensatez.
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Cassar direitos políticos dos adversários até nisso o Brasil está igual a ditadura Venezuelana,
Se um até um “ex-presidiário” pode hoje ser presidente então não resta nada nesse Brasil! Justiça hoje é de quem pode pagar mais e é isso!!!