Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Para nós que não estamos no Rio Grande do Sul é impossível ter ideia da dimensão da tragédia que é metade do estado estar encoberta pelas águas. A população é pega de surpresa com o avanço da água, que sufoca tudo pela frente. Nem quem mora em pequenos prédios ou sobrados está seguro, pois a enchente passa os telhados das casas e entra pelo terceiro andar.
Nas redes sociais, as pessoas pedem socorro às ilhadas. E quando você olha o horário da postagem, é bastante recente, é em tempo real. “AJUDA! Meu amigo e mais umas 300 pessoas ilhadas em Canoas -RS, na Rua Florianópolis esquina com a Tupancireta, no teto da FACHI Materiais de Construção. a água já passou o terceiro piso. A maioria não tem mais bateria no celular. Os números da defesa civil e etc não tem retorno.” Ou: “Preciso de resgate URGENTE, um senhor idoso preso no telhado de casa, RUA JOSÉ VERÍSSIMO 1096 HARMONIA e Rua Coronel Machado 91, nessa segunda rua tem 2 adultos e 2 idosos!!”
Não conseguimos imaginar o que é viver em uma região e ter de sair às pressas ou refugiar-se no telhado, à espera de um barco, que chegue por meio do que antes eram ruas.
O Brasil inteiro está mobilizando-se para ajudar nos resgates, a começar pelos vizinhos que estão em áreas que não foram atingidas e por outros estados que estão enviando homens da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros para colaborar.
As principais vias, como estradas e pontes, foram engolidas pelas águas, e as cidades estão isoladas. Desse modo, é impossível ter a dimensão exata do que houve e do que está por vir, como no depoimento de uma moradora. “Eu moro na Serra Gaúcha. B.Gonçalves e Veranópolis. Os telejornais não estão mostrando o que aconteceu aqui no Rio das Antas. Até pq não é possível chegar até aqui de nenhuma maneira. Houve inumeros deslizamentos de terra. Aconteceram todos ao mesmo tempo.”
Mas o fato é que, mais uma vez, essa tragédia vem anunciando-se a cada intervenção humana na natureza e pela falta de medidas preventivas, para se pensar em estratégias para lidar com os efeitos devastadores das mudanças climáticas, que muita gente ainda insiste em negar.
Há quem relembre a cheia do Guaíba em 1941 para justificar que essa situação é recorrente no RS. Porém, o fato é que não dá tempo de a população e a economia se recuperarem de uma enchente, vem outra em seguida. O ritmo e a gravidade estão cada vez mais fortes.
O Rio Guaíba, que banha Porto Alegre, recebe a demanda de água de outros rios e já extravasou cinco metros, nível histórico, obrigando pessoas das cidades da região metropolitana irem para abrigos.
Recentemente, o Rio Grande do Sul aprovou uma lei que permite transformar áreas de preservação permanente (APPs) em barragens para segurar área para ser usada na agricultura. A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), mais uma vez, fez o alerta: “Se o objetivo for estocar água das chuvas, é preciso que se garanta todas as condições necessárias para que as chuvas aconteçam. As APPs têm grande papel nesse processo. É pouco inteligente, e até perverso, recorrer a essa sistemática proposta pelo projeto aprovado na Assembleia Legislativa do RS. Esses reservatórios artificiais são antiecológicos, portanto, não podem estar dentro de Áreas de Preservação Permanente. Não devemos permitir, principalmente através de leis, que se ameace a biodiversidade capaz de nos proporcionar a produção necessária à vida.”
É hora de salvar as pessoas, e animais também, e de transformar as mudanças climáticas na peça-chave das próximas eleições. Que os candidatos se comprometam com o meio ambiente ou ajudarão a afundar o barco de uma vez por todas.
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