Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Com tantos pais e mães de pet por aí e com a popularidade cada vez maior dos queridos vira-latas caramelos, muita gente se aproveitou da causa animal para usar como passaporte para a política. Esse é um dos piores tipos. Já entra comendo pelas beiradas.
É bastante comum a figura de um protetor ou protetora animal em determinadas regiões da cidade. Aquela pessoa da qual todo mundo lembra na hora de pedir socorro e que, normalmente, é esquecida quando a barriga de quem a procura para de doer. E muitas pessoas dizem que se ela fosse candidata votariam nela. Mas essa pessoa, que age por amor aos animais, não costuma ter estômago para esse outro universo.
E nesse vácuo surgem as falsas protetoras e protetores. Aproveitam-se da comoção que o sofrimento dos animais desperta e surfam na onda. Já definem, desde muito antes da corrida eleitoral começar, que vão candidatar-se a algum cargo.
Não contam pra ninguém, só aos mais próximos. E assim antecipam sua campanha e vão criando seu curral eleitoral, com o socorro imediato a um animal, do qual, passado um tempo, pouca gente se lembra de perguntar seu destino. Esse tipo de perfil fareja a chance de que cada foto de animal postada nas redes sociais venha render-lhe um voto. Cita muito números de resgates, de atendimentos, faz vaquinhas virtuais, cria uma rede de apoiadores, que na ânsia de salvar animais, não questionam sobre a prestação de valores arrecadados. Tem até as que tabelam os valores: R$50,00 a cada gato recolhido. O destino? Só Deus sabe. Recolhe, doa ou solta, mesmo doente. O importante são os números!
Também pode aproveitar-se do poder público para fazer uma dobradinha. Atende aos casos dos quais as secretarias não dão conta. Mas com isso ajuda a camuflar o problema, pois faz com que os gestores públicos fiquem acomodados e não criem políticas públicas efetivas para atender não a um caso isolado, mas às demandas sociais. Uma mão vai lavando a outra.
E assim se trocam as antigas cadeiras de roda, dentaduras, sacos de cimento e cal ou cestas básicas por castração, por adoção, por uma ajuda que vai dar com uma mão e já cobrar com a outra na hora da eleição. É, o voto é um prato que se degusta frio.
Esse perfil, que almeja uma vaga no Legislativo ou Executivo, vai ser mais do mesmo. Pior, aproveita-se de seres inocentes para construir sua escadinha rumo ao poder. Esse perfil não vai lutar por política pública alguma, pois precisa do problema para mostrar ser a solução.
E são pessoas assim que acabam atrapalhando as instituições ou pessoas físicas que fazem um verdadeiro trabalho de formiguinha, prestando atendimento emergencial, mas também ajudando a criar projetos e legislação que assegurem a continuidade dos trabalhos. Independentemente de quem estiver ocupando os cargos.
Outra situação bastante típica desse perfil é a ausência de preocupação com a sustentabilidade de modo geral. É como se os outros animais silvestres não dependessem da existência das florestas, dos rios, das riquezas naturais de modo geral para sobreviver. Ignoram o tema por falta de conhecimento mesmo ou de interesse em aprofundar-se, ou porque realmente não se importam e não querem aumentar a demanda que os motiva a pedir votos.
E nessa areia movediça ainda há os políticos que já estão a postos em nome da causa animal, que utilizam o estardalhaço e o apelo emocional para conseguir seguidores, que emprestam seus nomes aos pseudoprotetores. E assim a causa animal é tragada pela máquina eleitoral.
No design, existe uma frase que diz que menos é mais. Na política, isso se aplica também. De nada adianta um ser espalhafatoso, contador de vantagens, que transforma animais em números. Desse tipo já estamos cheios.
A causa animal não precisa de falsos messias. Precisa de políticos que apenas cumpram seu papel, afinal eles não vão atuar somente para uma causa.
No Legislativo, prezar pela aplicação da lei e fiscalizar os atos do Executivo. E quanto a este último, como o próprio nome já diz, que execute as ações. O que for além disso será somente conversa pra boi dormir. Simples assim.
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