Combate ao racismo: uma lição de casa atrasada, a ser feita

A História e Cultura Afro-Brasileira precisa ser, de fato, praticada, na grade curricular.

Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO

O racismo nem sempre é velado e, nas redes sociais, sua manifestação é bem evidente. Na vida real, então, quando não há câmeras para comprovar, só ficam mesmo os sentimentos da vítima. Recentemente, como ato de repúdio, a professora Isabel Oliveira ficou apenas com roupas íntimas para fazer as compras. Foi o modo que ela encontrou de responder ao segurança do supermercado Atacadão, no bairro Portão, em Curitiba, que a vigiava.

Nesta semana, a Netflix sentiu a ira e as consequências de uma sociedade racista, que se aproveita do suposto anonimato do mundo virtual para expressar seu preconceito. Ocorre que a Netflix vai lançar uma série no YouTube, em maio, sobre Cleópatra. Porém, a atriz Adele James é negra. O argumento é que uma atriz negra, britânica, não poderia interpretar uma rainha grega.

Quem não aceita uma atriz negra no papel de uma rainha, supostamente branca, não está preocupado com a preservação da história. Até porque não há como comprovar as origens de uma rainha nascida em 69 antes de Cristo. Não se trata nem de preciosismo, mas é racismo mesmo. Tanto que a Netflix fechou os comentários no trailer apresentado no YouTube.

No livro “As Lutas do Povo Brasileiro”, Júlio José Chiavenato lembra que a história é contada sob a ótica dos vencedores, e isso fica muito claro quando nos remetemos aos próprios livros de História. Segundo uma pesquisa recente, divulgada pelo Instituto Alana e Geledés Instituto da Mulher Negra, sete secretarias municipais de Educação, a cada dez, não desenvolvem ações para ensinar a história e a cultura afro na rede escolar.

O Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, não basta para que as escolas dediquem atenção ao assunto. A temática deve estar presente em todos os outros dias do calendário.

Foi há 20 anos que se estabeleceram diretrizes, na Constituição brasileira, garantindo a inclusão, no currículo oficial da rede de ensino, da obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Mas na prática a história é outra. Os motivos para que a lei não seja cumprida são justificados pela falta de apoio entre os próprios órgãos governamentais e mesmo pelo desconhecimento sobre como aplicar a lei.

Se há ausência de conhecimento sobre os modos de aplicar a lei, é possível termos um parâmetro do que isso significa na vida de quem é vítima do racismo. O modo como ocultamos a importância da história e cultura afro-brasileira nos bancos escolares, se não incentiva, negligencia o racismo diário.

No intuito de furar essa bolha, a produtora Gávea, com apoio do governo do Rio de Janeiro, promoveu recentemente um evento, denominado Independência e Identidades: Histórias para pensar o Brasil, e reuniu uma série de escritores que defendem uma revisão na literatura que chega às escolas.

Olhe para o nome das vias mais conhecidas de sua cidade, do estado ou do Brasil. Onde estão as referências às nossas raízes, aos nossos povos? Como bem lembra a historiadora Ynaê Lopes dos Santos, o Brasil foi o último país da América a dar fim à escravização. E a história brasileira não deve continuar ocultando o genocídio dos povos originários e a constante exclusão dos negros.

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