Aida Franco de Lima – OPINIÃO
É bastante comum que em toda cidade brasileira haja uma estrutura municipal responsável por resolver questões ligadas aos animais domésticos e silvestres. Se ela resolve é outra história. Mas que as pessoas recebem salários para isso mensalmente, isso é notório.
Ocorre que, quando falamos de animais domésticos, desperta-se uma grande paixão, sendo bastante comum que os municípios se escorem nas entidades protetoras, nos voluntários anônimos, no cidadão comum. É corriqueiro passar a batata quente para os outros, como se essa fosse uma questão menos importante.
E é por isso que as coisas não progridem e presenciamos tantas situações conflitantes, as quais poderiam ser solucionadas se o Poder Executivo chamasse para si a responsabilidade que é lhe própria; que não se aproveitasse do afeto que os animais despertam em boa parte das pessoas para empurrar com a barriga essa grande responsabilidade que sobrecarrega os que se comovem com a dor dos animais.
Normalmente nessas estruturas públicas, como secretarias de Meio Ambiente, divisões de Bem-Estar Animal, estão pessoas em cargos em comissão e funções de confiança, que ocupam tais postos não necessariamente pelo histórico com a causa e currículo. Como o nome diz, o cargo é destinado a em quem o mandatário confia, que não vai causar-lhe problema, que vai facilitar a sua vida. Ou é fruto dos acordos políticos, do conhecido toma lá dá cá.
Essas pessoas estão confortáveis em suas cadeiras, no ar condicionado. Reclamam quando a população lhes procura para buscar seus direitos. Há raras, raríssimas exceções, mas grande parte se apega à lei para justificar o que não pode fazer. Há casos, por exemplo, em Cianorte, Paraná, em que há veterinária concursada recusando realizar um único atendimento a um animal que esteja agonizando ou verificar animal de grande porte em estado de sofrimento, porque alega não fazer parte do requisito de seu concurso. Balela, não quer é pôr a mão na massa. Quer apenas o salário.
Virou moda, por exemplo, criar “Banco de Ração”, mas fazer cortesia com o chapéu alheio. Então ficam os municípios mendigando ração para os empresários, para distribuir à população a conta-gotas. Aos poucos estão tomando coragem e instituindo a obrigatoriedade de se comprar esses produtos, e não passar na frente e tomar a ração que deveria ser doada a organizações não governamentais (ONGs) e protetores independentes.
Então, fica um jogo de empurra-empurra no qual as secretarias e as divisões querem os cargos, os salários, porém não a responsabilidade. Ficam jogando os animais de um lado para outro. Não se debruçam para criar políticas públicas. Somente esperam licitações e transferem o problema para empresas que nem sempre têm vinculação com a área, querem também só o dinheiro.
E nesse jogo de interesse ficam os animais e os voluntários anônimos, que tentam atender a população que busca auxílio nos órgãos oficiais e só escuta: “Não prestamos esse tipo de atendimento.”
Esses mesmos ocupantes de cargos comissionados passam os telefones das ONGs, de pessoas voluntárias, para resolver o problema da população. Os mesmos órgãos com folha de pagamento, com veículos, com combustível, com estrutura, contudo sem interesse em desempenhar um trabalho de verdade. Apenas enrolam, enchem linguiça.
Enquanto isso, as ONGs e demais pessoas voluntárias, que não têm nada disso, desdobram-se. Pessoas adoecem, entram em sérios problemas financeiros, conjugais, familiares e todos os imagináveis, porque o sentimento de amor pelos animais começa a ser maior que suas reais possibilidades de ajudar. Eu já tratei desse assunto aqui, e muitas vezes a pessoa se sente sozinha, desamparada.
Agora, chegando o período eleitoral, surgem de todos os lados os aproveitadores – que, além de comer pastel na feira, também vão abraçar cachorro vira-lata em busca de votos. Os cargos comissionados continuarão. Os aproveitadores da causa animal também. Por isso, precisamos lutar por políticas públicas para obrigar que o Executivo, principalmente, assuma seu papel de tutor dos animais como um todo.
Se hoje os municípios castram animais e muita gente ganha voto com isso, é porque os defensores da causa lutaram muito. E isso não basta. Precisamos de guarda responsável, de mais castração em massa, de chipagem, de educação ambiental, de fiscalização, de multas. Precisamos de Cetas (Centros de Triagem de Animais Silvestres), para que os animais não domesticados tenham possibilidade de voltar para a vida livre; precisamos de combate à caça, à comercialização, ao tráfico de animais. Necessitamos de hospitais veterinários públicos, afinal pagamos impostos, e os animais também têm esse direito!
E não podemos esperar isso apenas da boa vontade de políticos, de ocupantes de cargos comissionados que muitas vezes caem de paraquedas naquele setor. Precisamos de leis, para que ao menos tenhamos condições de exigir que esses cabos eleitorais comecem a trabalhar de verdade. Não somente no período eleitoral, mas no resto do tempo. Para que aprendam que são funcionários do público, não o contrário.
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