Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Uma boa parte do Brasil, e quem sabe do mundo, foi pega de surpresa com a notícia de que uma região de Maceió deverá ir por mina abaixo. Talvez, no momento da leitura deste texto, milhares de casas já tenham sido engolidas ou estejam na contagem regressiva. A empresa responsável tem nome: Braskem, que explora minas de sal-gema. E as vítimas, sem sobrenomes conhecidos, são muitas famílias anônimas com suas vidas esfaceladas, amarguradas.
Mas o que foi surpresa para muita gente já tem sido um pesadelo desde 3 de março de 2018, quando surgiram os primeiros sinais de que algo não ia bem. Tremores de terra, rachaduras, afundamento do solo entre dez centímetros e um metro e meio obrigaram mais de 50 mil moradores a deixarem a região onde existiam cinco bairros.
E antes mesmo da instalação da empresa no local, início dos anos 80, professores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) já tinham alertado para o perigo de tal empreendimento em bairro residencial, próximo ao lago Mundaú. Foram ignorados; e um deles, perseguido. O local já é conhecido como a Chernobyl alagoana, em virtude do seu aspecto.
Em busca de explorar o sal-gema, produto muito usado na indústria petroquímica, o subsolo de Maceió virou uma espécie de queijo suíço. São 35 minas que foram abandonadas em 2019, porém o estrago já tinha sido feito. A mina que está em vias de desmoronar pode formar uma cratera do tamanho do Estádio do Maracanã. E ainda há o risco do efeito cascata, situação em que o desmoronamento de uma atinge as demais. Alguns moradores ainda resistiam a sair das áreas atingidas, mas na última semana, inclusive, um hospital precisou ser evacuado.
Há inúmeros fatores nessa história trágica, e uma delas é que, enquanto Maceió está afundando, a empresa está surfando na onda da Cop 28, em Dubai, saindo como boa samaritana em meio às discussões sobre o clima.
O que está acontecendo em Maceió é uma réplica do que as grandes corporações fazem com o pedacinho de terra que muitas vezes é o único patrimônio que uma família tem. Incomoda tanto que o proprietário se obriga a ir embora. O incomodado que se retira! Somente nos últimos quatro anos foram 14.446 imóveis desocupados e 40 mil pessoas afetadas. Com o aumento de áreas isoladas recentemente, o total chega a 55 mil pessoas.
O pesadelo que os moradores de Maceió enfrentam se repete em vários cantos do Brasil, com suas tragédias anunciadas. Brumadinho, Mariana… E há aquelas tragédias ambientais, tidas como sinônimo de progresso, como quando milhares de famílias são desalojadas e a fauna e a flora são devastadas com a presença das hidrelétricas. Como Itaipu, que engoliu as Sete Quedas!
Em Cianorte, Paraná, em 2016, também uma família na zona rural teve seus sonhos destruídos. Uma mina foi enterrada por uma empresa que ampliou sua área de exploração de cana-de-açúcar, até que em uma época chuvosa a mina “acordou”. Levou embora tudo que encontrou pela frente. O terreno, que era de uma família feliz, virou uma grande voçoroca. A família ainda aguarda justiça, mas os sonhos já foram esfacelados.
Isso que nem falamos de como os grandes monocultivos tomam conta das pequenas propriedades e, quando não abocanham as terras, comprometem o ar e a água.
Esses são apenas alguns exemplos de como os tentáculos das grandes corporações avançam em direção ao cidadão comum, que fica de mãos atadas, sem chão.
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