A educação superior do PR e a segurança ‘virtual’

Universidades estaduais ainda são reféns da falta de investimentos reais em segurança.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

O governo do Paraná, que tanto alardeia ter os melhores índices de qualidade na educação brasileira, não faz o dever de casa. E não estou falando do ensino fundamental, cuja responsabilidade é dividida com os municípios. Estou falando, sim, das universidades.

Também não estou tratando dos diários de classe de papel, que ainda são os mesmos de há mais de duas décadas, quando fiz minha graduação na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Estou falando sobre o modo como a segurança – de alunos, professores e funcionários – é comprometida.

Fico pensando se é pelo fato de os filhos dos nossos mandatários não estudarem em nossas universidades públicas que os problemas não chegam até eles. Não há investimento, suficiente, preventivo em segurança. Quando muito há segurança privada, terceirizada, que fica nos portões de entrada. Mas não há controle real sobre quem entra nas instituições e com qual finalidade.

Se pensar pela lógica, que é sempre mais fácil prevenir que remediar, estamos enchendo-nos de remédios sem efeitos. Não há um sistema que controle a entrada de funcionários, de alunos e professores, que poderia ser por catraca, por senha, por reconhecimento facial.

O governo do Paraná, que gosta tanto de exibir números, deixou para os poucos profissionais de segurança terceirizados a responsabilidade de cuidar de nossas universidades. É humanamente impossível o vigilante que fica na entrada de uma de nossas sete universidades dar conta da segurança do campus, salas de aula, corredores, pátios… Adentrar em uma universidade e encontrar um desses trabalhadores gera uma sensação de segurança. Mas ela é falsa, porque o restante está desprotegido.

No site Paraná Educação, em publicação de 18 de setembro, é destacado o encontro Balanço Trimestral da Educação, apresentado no dia anterior em evento que reuniu mais de duas mil pessoas no Canal da Música, em Curitiba.

“No encontro, novos programas de iniciativa da Secretaria da Educação foram anunciados para os próximos meses, entre eles o Aprova Paraná, sistema de gestão de inscrições das universidades estaduais do Paraná que visa democratizar o acesso ao ensino superior, garantindo que 20% das vagas sejam destinadas a alunos concluintes de escolas públicas que realizaram a Prova Paraná Mais”, diz o texto.

Também há o seguinte destaque: “O sistema vai garantir, a partir de 2025, uma chance a mais para 100 mil alunos do Ensino Médio de escolas públicas do Estado de entrarem em uma das sete universidades estaduais do Paraná, que estão entre as melhores da América do Sul”, afirmou o secretário Roni Miranda.

Os alunos do ensino médio que sairão de escolas que ao longo dos anos conseguiram implementar medidas de segurança mínima, como câmeras de monitoramento, vão para faculdades que não conseguem vigiar o acesso de estranhos não somente aos pátios, mas às salas de aula.

Sempre houve a discussão em torno da necessidade de eliminar as barreiras que separam o mundo das universidades e a comunidade, porém não necessariamente dos muros, que deveriam proteger ambos da violência crescente. A bolsa revirada, o celular roubado, o notebook que sumiu, o carro furtado, a importunação sexual ou assalto no ponto de ônibus bem pertinho da universidade… A violência do lado de fora se faz presente no espaço dedicado ao conhecimento.

“Somente no primeiro semestre deste ano, o Governo do Paraná publicou cinco chamamentos públicos para atender demandas específicas da ciência. Um desses editais prevê recursos da ordem de R$ 153 milhões para a construção, ampliação e reforma de prédios acadêmicos, bibliotecas e outras instalações universitárias”, informou a Agência Estadual de Notícias em 25 de junho.

O valor parece significativo, contudo, se pensarmos que a reforma de qualquer praça de nossas cidades engole por volta de R$ 2 milhões ou que qualquer festa de aniversário de município abocanha o dobro desse montante… Sim, é dinheiro vindo de órgãos diferenciados, mas essa comparação demonstra o valor atribuído à educação, literalmente.

Uma maneira de aproximar os dois universos, o do mundo acadêmico e o da comunidade, tem sido a curricularização da extensão. Ou seja, o desenvolvimento de ações práticas com a comunidade não é mais uma opção aos estudantes mais interessados em ir além do conhecimento de sala de aula, é de fato uma obrigação que faz parte da grade, como as demais matérias. E essa medida é essencial, pois é uma forma também de retornar os impostos pagos mesmo por quem nunca acessou uma universidade.

Precisamos, também, aproximar a universidade do governo, para que este conheça de perto a necessidade de cada campus. Alguns são verdadeiras cidades universitárias, e tudo que há de bom e ruim em uma metrópole é dividido com o ambiente universitário. Assim, o radar da segurança precisa ser ampliado ainda mais.

Há campus mais pitoresco, com ar de cidadezinha do interior, que inclusive divide o espaço com alunos do ensino fundamental, como o da UEM em Cianorte. Só há pouco tempo que o espaço foi dividido com cercas. Mas ainda assim não há total controle de entrada e saída do público em ambos os espaços. No horário noturno, os cursos de Pedagogia e Contábeis ocupam as salas que durante o dia são usadas pelas crianças. Para ajudar, a atual administração local, reeleita, pretende rasgar uma avenida logo abaixo do últimos blocos. Além de estrangular qualquer chance de ampliação dos prédios, a segurança de modo geral ficará ainda mais comprometida!

O governo gosta tanto de falar de tecnologia em sala de aula, de terceirização, divide a função que é dos professores com gestores, com as tais empresas especializadas em gestão escolar. Passou da hora de fazer parcerias em busca de segurança realmente eficaz. Usar os mecanismos de inteligência artificial para garantir que a segurança seja acionada o máximo possível preventivamente. De remediar, já estamos bem adoentados.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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