Por AIDA FRANCO DE LIMA | OPINIÃO
Todo dia uma mãe chora, no Brasil, porque seu filho é vítima de racismo, mais uma vez. Neste momento mesmo, tem alguma em pranto. As mães sofrem na pele, literalmente, por conta de pessoas que se acham no direito de ofender outras que elas não aceitam por causa da cor de pele.
Os crimes de racismo acontecem diariamente no Brasil. E se eles não são noticiados todos os dias, ocorrem do mesmo jeito. A diferença é que alguns ganham mais visibilidade que os outros. E basta que um desses crimes sejam divulgados para que a parte que os cometeu invente uma desculpa esfarrapada. Que foi mal interpretada, que estava sob efeito de remédios, que tem até amigos com aquele tom de pele ou que o procedimento faz parte da rotina…
Não demorou e, mais uma vez, vimos o deputado estadual do Paraná Renato Freitas sendo retirado de um voo para que revistassem sua mochila, no último dia 10. Afinal, qual será a frequência que uma pessoa caucasiana, no Brasil, é retirada do avião para saber se ela tem algo suspeito em sua bolsa de mão?
Na noite de 28 de abril, ocorreu algo parecido, dessa vez com Samantha Vitena Barbosa, que foi expulsa do voo da Gol, pois ela teria se recusado a colocar sua mochila no compartimento de malas. Quantas pessoas com aparência de origem nórdica, em território brasileiro, passam por essa situação? E o caso de Max Ângelo dos Santos, o entregador negro que foi açoitado no dia 9 de abril, domingo de Páscoa?
Lembra-se de Miguel Otávio Santana da Silva? O racismo para ele acabou com apenas 5 anos de idade, quando perdeu sua vida. Em 2 de junho de 2000, enquanto sua mãe, Mirtes Renata Souza, passeava com o cachorro da patroa, a ex-primeira-dama do município de Tamandaré, Sari Corte-Real, colocou-o sozinho em um elevador. O garoto, negro, morreu depois de cair do nono andar.
Como uma mãe comemora o dia dela, o dia reservado a ela, se o seu filho não está mais aqui? Ou, se está, vive em constante risco, porque a cor de sua pele é motivo de desconfiança?
A alternativa é uma só: lutar por justiça, por respeito aos direitos individuais e coletivos. E é esse o melhor presente que pode ser dado a essas mães que choram e aos filhos vítimas da violência das palavras e dos atos alheios.
A mãe de Miguel se matriculou no curso de Direito para lutar pelos direitos de outras pessoas, assim como Max ganhou bolsa integral para o mesmo curso. Renato também é formado em Direito. Samantha é graduada em Relações Internacionais. O estudo e o conhecimento de seus direitos não impedem de ser vítima de atos racistas, mas ao menos podem expor tais situações e exigir que o relógio da justiça trabalhe como o esperado.
Racismo é crime. E todo crime deve ser denunciado e punido. Nem todas as pessoas têm condições de dar uma guinada na sua vida e buscar formação profissional para ter mais forças para defender-se. Quem consegue tal conquista é digno de aplausos. Mas cabe ao Estado garantir que todos realmente sejam tratados de modo igualitário, independentemente da melanina e do poder aquisitivo.
Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.
Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br
Comentários estão fechados.