Alta de preços e dos custos de importação e exportação nos três países, racionamento de energia no Brasil, emergência na Argentina…
Pode um rio prejudicar a vida e a economia de três países e provocar uma crise sem precedentes? Pode, se este rio é o Paranazão, com quase 5 mil quilômetros de extensão e vital para o Brasil, o Paraguai e a Argentina.
“A catastrófica reação em cadeia à seca do Rio Paraná, “mancheteia a BBC News Brasil, em reportagem assinada por Juliana Gragnani, de Londres, publicada nesta segunda-feira, 6.
Começa assim: “Quando um rio seca, a tragédia é visível. Suas águas desaparecem, dando lugar a uma paisagem terrosa e estampada em novas ilhas”.
Mas hã mais por trás dessa imagem: “uma série de eventos catastróficos começam a acontecer em cadeia, como num efeito dominó”.
NO BRASIL
Vamos começar pelo Brasil: a hidrovia Tietê-Paraná, uma das principais do País, encerrou atividades este ano. Não há água para escoar a produção de grãos do Centro-Oeste, parte de Rondônia, Tocantins, Minas Gerais e São Paulo.
Sem o transporte hidroviário, mais barato de todos os meios de levar grandes cargas do campo ao porto (no caso, o de Santos), já houve um impacto econômico de R$ 3,5 bilhões, segundo o Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Pulo, Luizio Rizzo, ouvido pela BBC.
Sem a hidrovia, não dá pra manter os operadores das barcaças, do chefe de máquina ao cozinheiro. Já há empresas que demitiram 90% de seus funcionários.
Sem a hidrovia Tietê-Paraná em ação, o transporte de 10 milhões de toneladas por ano que seguiam em embarcações agora seguem viagem em 250 mil caminhões. Mais poluição, mais acidentes, depreciação das vias, maior custo de transporte, algumas consequências.
Mas talvez a pior perspectiva provocada pela seca do Rio Paraná e de outros rios so Sudeste e Centro-Oeste seja o risco de racionamento de eletricidade.
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, já fez pronunciamento em rede nacional pedindo que a população economize energia. Que pode faltar, principalmente nos horários de maior consumo. O risco de apagões, como aconteceu em 2001, não é descartado.
E o consumidor de energia já sofre com o aumento das tarifas, pelo uso cada vez maior de eletricidade produzida por termelétricas, cuja matéria-prima é muito mais cara que a água.
PIOR NOS VIZINHOS
Em relação ao transporte agrícola de grãos, Argentina e Paraguai sofrem ainda mais que o Brasil.
O Paraguai leva cargas a portos do Uruguai e da Argentina para exportação e também importa produtos transportados pela hidrovia.
O governo paraguaio já alertou a população que o transporte terrestre é muito mais caro e vai impactar nos preços finais, conforme noticiou o Última Hora.
Como também o Paraguai não está conseguindo trazer contêineres de produtos da Ásia, terá que adquirir mais dos países vizinhos. A preços também mais elevados.
Quanto à Argentina, lembra por sua vez a BBC, é o maior exportador de farelo de soja do mundo, e agora está tendo que buscar outras rotas – mais caras – para escoar a produção, que normalmente segue por hidrovia até o porto de Rosario.
As embarcações que ainda continuam navegando tiveram de cortar a quantidade de carga, o que se traduz também em custo mais alto no transporte.
Desde julho, a Argentina está em emergência hídrica, declarada por 180 dias pelo presidente Alberto Fernández em diversas províncias, incluindo as de Buenos Aires.
Atividades como a pesca, da qual sobrevivem famílias no outro lado da fronteira brasileira, na Argentina, já foram afetadas. Milhares de famílias de pescadores enfrentam a crise causada pela seca do rio.
E O FUTURO?
A atual estiagem é a pior nos últimos 91 anos, lembra a BBC, e “essa reação em cadeia a um só evento ilustra temores do que nos espera no futuro, com a emergência do clima e mais eventos climáticos extremos, como previsto no último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU).
Já está dando pra ter uma boa ideia deste futuro sombrio…
UM ERRO BOBO
A matéria da BBC faz um bom balanço da crise hídrica e traz informações importantes sobre o que ela representa para os três países.
Mas tem um erro bobinho, Segundo a matéria, o Paranazão “trata-se do segundo maior rio da América do Sul depois do Amazonas, um que alimenta importantes afluentes, como o Iguaçu, onde ficam as cataratas”.
Como assim, BBC? Como pode um rio alimentar seu afluente? Que inversão é esta? É o Rio Iguaçu, “onde ficam as Cataratas”, que despeja suas águas no Rio Paraná. E, até alguns dias atrás, contribuiu para amenizar a estiagem do Paranazão águas abaixo, permitindo até uma certa navegabilidade das barcaças paraguaias e argentinas.
Agora, bem menos. A vazão nas Cataratas do Iguaçu estava, às 10h desta terça-feira, 7, em 534 metros cúbicos por segundo. Há 10 dias, por aí, passou facilmente dos 1.000 metros cúbicos por segundo.
Quanto ao Rio Paraná, a cota na Ponte da Amizade deve variar hoje entre 95,28 e 97,40 metros acima do nível do mar. No caso do valor máximo, o rio ainda está mais de 8 metros abaixo da cota normal.
Amanhã, quarta, o Rio Paraná sobe um pouco mais e fica entre 95,57 e 97,71 metros acima do nível do mar.
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