Rios secos esperam chuvas da primavera. Mas há fenômenos à espreita

Fenômenos climáticos podem alterar, pra pior ou melhor, regime de chuvas no Sul e Sudeste do País.

Apoie! Siga-nos no Google News

Fenômenos climáticos podem alterar, pra pior ou melhor, regime de chuvas no Sul e Sudeste do País.

É possível que nunca antes na história o Rio Paraná enfrente uma estiagem tão severa como a que vive agora e está por viver nos próximos meses.

A esperança está, ainda, na primavera, período mais chuvoso que o inverno. Ela começa exatamente na próxima quarta-feira, dia 22.

Com baixa probabilidade de chover até lá, ao menos na porção Norte do Estado. Na “metade Sul”, há tendência para pancadas de chuvas nas próximas 48 horas, isto é, vésperas da primavera. Mas nada significativo.

O mais grave, no entanto, é que há grande tendência de o tempo permanecer seco ou, ao menos, com poucas chuvas ao longo dos próximos três meses.

Tudo o que precisamos é de chuva. Mas em que isso nos afeta? Pois a estiagem, que rebaixa cada vez mais o Rio Paraná, atinge em cheio o Brasil, o Paraguai e a Argentina.

SETOR ELÉTRICO

A imprensa tem dado destaque ao aumento da conta de luz, por conta do uso de energia térmica, mais cara que a hidrelétrica, isto é, a gerada pelas águas.

Prepare o bolso, porque a situação não vai mudar. A conta pode até subir um pouco mais. E a economia está suscetível a uma pancada forte daqui pra frente.

Os reservatórios das hidrelétricas do Centro-Oeste e do Sudeste (Itaipu é incluída na Região Sudeste) estão com apenas 18,1% de água, neste sábado (18), segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

No Paraná, ainda de acordo com o ONS, o nível dos reservatórios usinas do Rio Iguaçu está assim: hidrelétrica Governador Bento Munhoz da Rocha, 10,45% de sua capacidade; Salto Segredo, 21,39%;; Salto Santiago, 26,95%; e Santa Clara, 32,95%. O reservatório da usina Capivari, por sua vez, está com 19,24% da capacidade.

Neste mesmo período, em 2020, as usinas do Sudeste e Centro-Oeste estavam com 20,8% de reservas. Como aconteceu o cenário catastrófico que nem era considerado – isto é, mais estiagem nos meses seguintes -, 2021 foi marcado por apagões, que eclodiram a economia.

O PIB cresceu apenas 1,42%, e isso graças ao campo. A agropecuária teve aumento de 5,71%, enquanto a indústria, abalada pelos apagões, ficou perto de zero.

Humor negro: pra que mais uma ponte, se daqui a pouco tempo dará pra atravessar a pé?

COM REBAIXAMENTO

Itaipu, que então respondia por mais de 20% (22% em 2001) da demanda brasileira, ajudou a segurar as pontas, rebaixando o reservatório para gerar mais.

Mas isso depende de vários acordos, a começar com os governos do Paraguai e da Argentina, e também de uma avaliação de riscos ambientais e, principalmente, de que fique garantido a água para as comunidades que se abastecem no reservatório, entre outras questões.

Na época, o Brasil contava com poucas alternativas para as hidrelétricas. Agora, há a energia solar, a eólica e, mais viável tecnicamente, pela rapidez com que as usinas podem ser construídas, a energia térmica. Essas usinas são movidas a carvão, a petróleo e a gás, principalmente, matérias-primas muito caras, o que repercute diretamente nas tarifas.

Nos últimos dias, entraram em operação duas térmicas, a maior e a segunda maior do Brasil. Devem ajudar a aguentar o consumo nas horas de pico, já que, além de tudo, as temperaturas no País estão elevadas e será uma primavera quente. Mas será suficiente?

NAVEGAÇÃO

O drama do Brasil, já num horizonte próximo, refere-se à energia elétrica, no caso das usinas localizadas na Bacia do Rio Paraná, as mais importantes do setor.

Em relação ao transporte hidroviário, o prejuízo chegou mais cedo. A hidrovia Paraná-Tietê, utilizada para o transporte de parte da produção do interior de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso rumo ao Porto de Santos, está paralisada desde agosto.

E é justamente o transporte hidroviário um dos principais problemas para o Paraguai e a Argentina, com repercussão no abastecimento, nos custos e na arrecadação de divisas.

RIOS SECOS

O Paraguai exporta e importa muito pela hidrovia formada pelos rios Paraguai e Paraná, que se interliga ao Rio da Prata e permite acesso aos portos de Buenos Aires e Montevidéu.

Barcaças não conseguem chegar a Assunção. Foto Centro de Armadores, publicada no jornal La Nación

O Rio Paraguai, que nasce no Mato Grosso e depois banha o Mato Grosso do Sul, a Bolívia e o Paraguai, vive a pior e mais longa seca da história.

Em Assunção, as águas do Rio Paraguai estão esta semana no nível negativo de 0,45 metro. A régua vai de zero a 100 metros, mas o rio está abaixo de zero.

A tendência é que, já na semana que vem, o recorde histórico de – 0,54 seja ultrapassado. E esse recorde histórico foi atingido em 25 de outubro do ano passado, o que mostra o tamanho da seca que enfrentamos.

Na verdade, conforme o Centro de Armadores Fluviais e Marítimos do Paraguai, citado pelo jornal Última Hora, o setor enfrenta dificuldades há quatro anos, quando os rios Paraguai e Paraná começaram a sofrer com estiagens severas.

As barcaças não conseguem chegar a Assunção, por isso, mesmo com menor carga, atracam no porto de Villeta e, dali, caminhões fazem o trajeto até a capital.

Os contêineres que conseguem chegar pela hidrovia até Pilar, no departamento de Ñeembucu, são embarcados em caminhões e percorrem mais de 400 quilômetros até Assunção.

A mesma situação acontece no departamento de Alto Paraná, devido à queda do nível do Rio Paraná, onde o transporte hidroviário está sendo substituído pelo terrestre.

FINAL DO ANO

Nesta época do ano, deveriam estar chegando ao Paraguai, massivamente, importações relacionadas a produtos para as festas de Natal e final de ano. Mas o movimento é fraco.

Para os importadores, o problema começa com o frete no transporte da China para a América do Sul. Antes, pagavam em torno de US$ 2 mil para trazer um contêiner. Agora, o custo fica entre US$ 12 mil e 14 mil, segundo o Centro de Armadores.

Haverá um repasse aos preços equivalente a esses custos. Isto se os importadores se animarem a fazer as compras, pois a pandemia já havia provocado desânimo no setor.

“HOLOCAUSTO AMBIENTAL”

Nos últimos dias, o nível do Rio Paraná cresceu alguns centímetros ao longo da província argentina de Entre Ríos, embora bem abaixo do normal, provavelmente devido a chuvas localizadas.

No entanto, para os próximos meses, a perspectiva é “claramente desfavorável”, informou o Instituto Nacional de Água, conforme o portal El Territorio.

Pela hidrovia Paraná-Paraguai, a Argentina movimenta nada menos que 80% de seus produtos de exportações, em milhares de embarcações.

A situação é tão crítica que o advogado Rafael Colombo, da Associação Argentina de Advogados Ambientalistas, afirmou ao El Territorio que a queda dos níveis do Rio Paraná representa “um autêntico holocausto ambiental”.

Segundo ele, isso é resultado direto de uma série complexa de intervenções humanas, relacionadas ao extrativismo agroindustrial, à criação de gado, ao desmatamento e à mineração, entre outros fatores.

Disse que a seca do Rio Paraná “está ligada ao modelo agroprodutivo argentino de expansão da fronteira agropecuária, ao incremento de superfícies de cultivo como de soja, milho ou trigo, que são ao mesmo tempo parte de um modelo agroindustrial que traz muitíssimos impactos sobre a Terra, a partir do uso de milhões de litros de inseticidas agrotóxicos”.

LA NIÑA E DIPOLO

Pra fechar: a esperança de uma primavera chuvosa parece que cai por terra. Ou não.

Os meteorologistas dizem que a primavera será fetada pelo Dipolo do Índico (IOD), pelo fenômeno La Niña e também pelo padrão de temperatura do Atlântico Sul.

Complicado, hein?

Conforme os meteorologistas do portal Tempo.com, o Dipolo do Índico vai contribuir para maior probabilidade de chuvas no Oeste da Região Norte do Brasil, no Centro-Oeste, no Sudeste e no Norte da Região Sul. É “um ponto a favor para o início das chuvas”.

O trimestre será afetado também pela temperatura da superfície do Oceano Atlântico Sul, que proporciona um clima seco ou com irregularidade de chuvas na Região Sul, como aconteceu nos meses de julho e agosto.

Mesmo assim, “os sistemas frontais e ciclones podem contribuir para atrair umidade da Amazônia até o Oeste da Região Sul (olha onde estamos!) e estado do Mato Grosso do Sul”.

Já o fenômeno La Niña será de fraca intensidade, com reflexos a partir de meados de outubro e no mês de novembro, “o que deve proporcionar uma maior concentração das chuvas nas regiões Norte e Nordeste, e, provavelmente, na porção Norte do Sudeste. Já para a Região Sul, a expectativa é de irregularidade da precipitações”.

CONCLUSÃO

São tantos fenômenos a analisar e observar que só mesmo um meteorologista pode chegar a uma conclusão (se é que pode).

De tanto ler e reler, contudo, dá para deduzir que o Sul do Brasil deverá enfrentar mais um longo período de estiagem ou de chuvas abaixo da média normal. Aqui na região de Foz, pode chover até acima da média.

O resto é especulação, como o que fizemos acima.

LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.