Não dá para falar da vida de Tadeusz Chrostowski sem mencionar o Paraná. Naturalista, o polonês participou de três expedições que passaram pelo estado. Na última delas, em 1923, contraiu malária e acabou morrendo aos 44 anos de idade, em plena selva do Parque Nacional do Iguaçu, na localidade conhecida por Pinheirinho, região de Matelândia.
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Mas a memória de Chrostowski está viva em Foz do Iguaçu. Um busto do cientista foi erguido no Parque das Aves, em plena natureza e em meio aos pássaros, ambiente do qual ele mais gostava. Situado no Jardim das Bromélias, área nobre do recinto, o monumento é aberto para turistas e visitantes.
O busto, que marca o centenário da morte do ornitólogo, foi inaugurado na terça, dia 21 de novembro, com a presença da cônsul-geral da Polônia em Curitiba, Marta Olkowska; dos ornitólogos Fernando Straube e Pedro Scherer Neto; do chefe do Parque Nacional do Iguaçu, José Ulisses dos Santos; e da fundadora do Parque das Aves, Anna Croukamp.
Autor do primeiro livro sobre aves do Paraná, Scherer Neto considera a iniciativa de extrema relevância. “É algo extremamente importante pelo início das pesquisas com aves no Paraná. Em uma época que o Paraná tinha cobertura vegetal original e ele teve o privilégio de trabalhar no Paraná”, frisa.
Em meio às homenagens, Scherer Neto chama atenção para o importante papel do biólogo, ornitólogo e estudioso de Chrostowski, Fernando Straube, e do professor de história Maurício Dezordi. Morador de Matelândia, Dezordi foi responsável pela localização do túmulo, entre 2020 e 2021, com base em relatos e no diário do naturalista.
O trabalho de Straube e Dezordi foi decisivo para o resgate da história do naturalista pela região Oeste do Paraná.
Trajeto até Matelândia
As expedições de Chrostowski ao Paraná começaram no início do século passado. A primeira entre 1910 e 1911, a segunda de 1913 a 1915 e a última de 1922 a 1923. Ele é considerado patrono da ornitologia paranaense e pioneiro das pesquisas na área.
O material coletado nas viagens científicas está no Museu do Instituto de Zoologia de Varsóvia. São pássaros, mamíferos, répteis, insetos e moluscos. Porém, uma parte desse acervo foi roubada ou perdida em incêndio, conta Straube.
O que chama atenção é o zelo que os cientistas tinham com a coleção. “Na 2ª. Guerra, os próprios pesquisadores empunhavam armas para proteger o acervo”, diz Straube.
Nas pesquisas realizadas, Straube mapeou o trajeto da última expedição na qual Chrostowski veio ao Brasil com outros dois poloneses, Tadeusz Jaczewski e Stanislaw Borecki. Na época, o governo polonês, a exemplo de outros países europeus, financiava expedições.
O trio entrou no Brasil via Salvador, onde passou o ano-novo. Em seguida, os poloneses foram recebidos no Museu Nacional (RJ), passaram por São Paulo e chegaram a Curitiba.
Após deixar a capital, eles foram para Mallet, centro do estado, e subiram em direção ao Rio Ivaí, região de Cândido de Abreu. Na ocasião, Stanislaw se apaixonou por uma brasileira e deixou o grupo.
Com ajuda de mateiros, Chrostowski e Jaczewski percorreram o Rio Ivaí até o Rio Paraná. Chegando a Guaíra, pegaram um trem da Companhia Mate Laranjeira e aportaram em Foz do Iguaçu em 1923.
Nessa ocasião, ambos já tinham contraído malária, mas prosseguiram com a expedição. Jaczewski recebeu tratamento e se recuperou. Porém, Chrostowski não teve o mesmo destino e morreu em 4 de abril de 1923. Ele considerava a morte algo natural de um viajante que se arriscava em prol da ciência.
Com a morte de Chrostowski, Jaczewski perdeu o ânimo para prosseguir as pesquisas e voltou à Polônia. Ele chegou ao país em 1924, e uma das primeiras iniciativas foi fazer um obituário do amigo.
Straube destaca o pioneirismo dos cientistas que andavam pelas matas sem a mínima estrutura existente hoje, como a inexistência de antibióticos e até mesmo sacos plásticos para levar materiais coletados.
Memorial
Outra homenagem a Chrostowski foi feita em Matelândia. Em pleno Parque Nacional do Iguaçu, local onde ele deixou esta vida, foi erguido um memorial. Para chegar até lá, basta seguir pelo Circuito do Polonês, uma trilha aberta pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A ideia é permitir que turistas e visitantes da região tenham acesso ao monumento, que irá contribuir para o desenvolvimento de iniciativas educativas voltadas à história e à memória.
O memorial foi erguido com base em uma gravura que retrata como era a estrutura original, feita pela comunidade polonesa em 1933. Pedras e lápides foram recuperadas para serem usadas na restauração.
Em entrevista à jornalista Izabelle Ferrari, a sobrinha-bisneta de um pioneiro de Matelândia, Constantina Zatta, 65 anos, conta que os pais, avós e bisavós chegaram à região em 1924 e conheceram o trio de poloneses cientistas.
Eles ficavam na hospedaria do tio dela, Pedro Paulo Castelhano Marins, que também operava o telégrafo. Segundo Constantina, a família sempre falava dos poloneses e se referia a eles como homens que andavam a cavalo, a pé e faziam pesquisas. “Mas como deu a malária, dois escaparam e um faleceu e parou na hospedaria. Eles fizeram um túmulo bonito aqui com pedra do rio”, lembra.
A moradora ainda diz que o túmulo do polonês foi destruído na época em que ela era criança. “Alguém falava que tinha ouro.” A reconstrução foi financiada pelo Consulado da Polônia, com o apoio da Prefeitura de Matelândia, do Parque das Aves, da Agência de Desenvolvimento da Região Turística Cataratas do Iguaçu e Caminhos ao Lago de Itaipu (Adetur) e de um grupo de voluntários.
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