Ao observar capa de livros, cores de bandeiras, cartazes e objetos em miniatura é possível ter uma ideia da história de vida da escritora e socióloga Moema Viezzer, 85 anos de idade. Conhecida pelo trabalho com educação popular, ela viveu em 7 países da América Latina no período do exílio, entre 1973 e 1980.
Nessas andanças, Moema conheceu diferentes pessoas, passou maus bocados, escreveu livros e reuniu uma série de objetos e memórias que fazem parte de um acervo doado em 2017 à biblioteca da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA).
O colecionismo de Moema revela muito sobre ela. Cartazes mostram os inúmeros eventos que a socióloga participou na América Latina incluindo aqueles dedicados ao Dia Internacional da Mulher. Entre as coleções, algumas são de prêmios: ecofeminismo, ecologia e educação ambiental.
Com mais de 3 mil itens, o acervo tem algumas preciosidades, a exemplo do livro “Si me permiten hablar: testimonio de Domitila una mujer de las minas de Bolivia”. Considerada obra clássica na América Latina, o livro, escrito em 1976, foi traduzido para 14 idiomas e ganhou tanta repercussão que marcou uma nova etapa de vida para Moema, como ela mesma faz questão de dizer.
A educadora conheceu a operária Domitila Barrios de Chungara em um evento do Ano Internacional da Mulher no México e ficou impressionada com a participação dela no encontro por ser uma voz que vinha de um acampamento de mineiros. A partir daí, Moema começou a acompanhar Domitila e gravar seus discursos, o que resultou no livro.
No exílio, Moema viveu no México, República Dominicana, Haiti e também percorreu a Argentina, Chile, Peru e Inglaterra. Muitos desses países são lembrados nos itens do acervo, seja pelos cartazes, panfletos, camisetas e até móveis, alguns trazidos do Haiti. Entre os itens, há cerca de 47 livros e 20 camisetas.
“Ela é muito inspiradora para a luta de classes, para as mulheres”, diz a bibliotecária Francielle Amaral da Silva. Para a biblioteca, é interessante expor acervos de pessoas que têm relação com a América Latina porque os itens mostram que a vida delas vai ao encontro dos países, explica a bibliotecária-chefe, Suzana Mingorance.
Um dos objetivos da coleção feita por Moema foi justamente utilizá-los em estudos acadêmicos e no trabalho de educação popular que ela fazia.
O acervo, em fase de digitalização, é considerado importante porque tem valor de fonte histórica para os estudos de Conferências Internacionais promovidas pela ONU na área do meio ambiente e para a história dos movimentos sociais latino-americanos.
Em breve, a mostra do acervo estará exposta no Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP).
Um pouco de Moema
Gaúcha de Caxias do Sul e religiosa até os 35 anos, Moema começou a trabalhar com educação popular com base no método Paulo Freire. Coordenou comunidades que atuavam com educação, saúde e assistência social.
Foi exilada e era monitorada como informante internacional de Paulo Freire. Em entrevista ao canal de youtube da Unila, Moema disse que o exílio foi um período difícil porque não dá para escolher um lugar para ir. Por segurança, ela perdeu contatos com a família e pessoas com quem trabalhava.
Ao retornar do exílio, ela fundou a Rede Mulher de Educação, participou da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente no Rio de Janeiro em 1992. Foi uma das 52 mulheres brasileiras incluídas na candidatura de 1000 Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz, em 2005.
A história de Moema virou assunto da academia. Ela já foi tema de trabalho de conclusão de curso e o nome dela inspirou a criação do Observatório Educador Ambiental Moema Viezzer, vinculado a UNILA.
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