Fato ou Mito? A Unesco pode mesmo tirar um título de Patrimônio Mundial?

Situação é rara, mas três locais já perderam o status devido a mudanças que levaram à descaracterização.

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A nova tentativa de reabertura da Estrada do Colono, em área já recuperada pela vegetação no interior do Parque Nacional do Iguaçu, trouxe à tona a discussão sobre se a Unesco, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a cultura e a educação, pode mesmo chegar ao ponto de cancelar um título de Patrimônio Mundial, concedido a uma paisagem natural ou de importância cultural para a humanidade.

Em 1986, a unidade que abriga as Cataratas do Iguaçu foi inscrita pela Unesco na lista de Patrimônio Mundial Natural, tendo como mote a necessidade de preservar o cenário das quedas d’água e a biodiversidade de um dos últimos remanescentes da vegetação que já cobriu grande parte da Região Sul do Brasil. Dois anos antes, o Parque Nacional Iguazú, no lado argentino, já tinha recebido a honraria.

Apesar de rara, a possibilidade de remoção do título, no caso de descaracterização do ambiente protegido, realmente existe. A reportagem do H2FOZ apurou que a primeira situação ocorreu em 2007, em Omã, país do Oriente Médio. Em 2009, uma paisagem alemã foi excluída da listagem. No último dia 21, a cidade inglesa de Liverpool perdeu o status, após seguidas advertências da Unesco.

Liverpool

Em 2004, a área do porto de Liverpool foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Mundial Cultural, em razão do importante conjunto de prédios e monumentos arquitetônicos do período vitoriano (século 19), que tornava o local único. Há mais de dois séculos, o terminal da cidade é um dos mais movimentados do Atlântico Norte.

Entretanto, o surgimento de prédios modernos nos arredores prejudicou, na avaliação da Unesco, a “autenticidade e integridade” do espaço. A prefeitura de Liverpool foi advertida, mas a existência de novos projetos que visam até mesmo à construção de um estádio de futebol em local próximo levou o Comitê do Patrimônio Mundial a remover o título.

Em declarações a agências internacionais de notícias, a prefeita Joanne Anderson protestou contra a decisão, que qualificou como incompreensível. A cidade pretende recorrer da perda, por entender que pode prejudicar a atividade turística e cancelar linhas de financiamento voltadas à restauração dos prédios e à promoção da cultura portuária.

Omã

Durante reunião na Nova Zelândia, em 2007, o comitê da Unesco determinou, pela primeira vez, o cancelamento de um título de Patrimônio Mundial. A exclusão foi após o governo de Omã, país do Oriente Médio, mutilar a área do Santuário do Órix-da-Arábia, que servia para a preservação de uma espécie rara de antílope.

“A decisão de Omã de reduzir em 90% a superfície protegida do sítio destrói o valor universal excepcional que motivou sua inscrição na lista”, escreveu o comitê, citando também os planos de exploração de petróleo em terrenos próximos e a existência de caça ilegal de antílopes e outras espécies ameaçadas.

Alemanha

O caso alemão ocorreu em 2009, quando a Unesco retirou o título de Patrimônio Mundial concedido ao centro histórico de Dresden e à paisagem cultural do Vale do Rio Elba, após a construção de uma ponte com quatro pistas, reivindicada pela população. A alternativa de fazer um túnel, sugerida pelos membros do Comitê do Patrimônio, foi rejeitada.

“Para a cidade, a perda do título terá sérias consequências financeiras. Além de eventualmente receber menos turistas, Dresden deixará de receber a verba relativa ao programa de apoio aos Patrimônios Mundiais alemães, dotado de 150 milhões de euros”, noticiou a emissora alemã Deutsche Welle, em reportagem publicada na época.

Para que serve?

O selo de Patrimônio Mundial permite, além do reconhecimento e da divulgação para públicos de diferentes partes do globo, o acesso a fundos de conservação mantidos pela ONU, que podem ser usados, no caso de uma área natural como o Iguaçu, para projetos de preservação da fauna, flora e relacionamento com a comunidade vizinha.

Antes de uma eventual perda, a Unesco emite uma série de advertências. Patrimônios considerados em risco são incluídos em uma lista amarela e passam por avaliação constante. Na América do Sul, dois locais são considerados ameaçados: Santa Ana de Coro e seu porto (Venezuela, desde 2005) e Zona Arqueológica de Chan Chan (Peru, desde 1992).

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