
O rio é um guardador de memórias, ainda que as águas nunca sejam as mesmas. O seu testemunho é mais sobre o ajuntamento de humanidade ao seu entorno, de como as pessoas tratam o meio em que vivem, principalmente. E a consciência que mantêm sobre o presente e o futuro.
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Encravada na região do Morumbi, no Jardim Itália II, uma cachoeira urbana se forma a partir de um rio estreito. Todavia, quase invisíveis ao público, as águas batem sobre as pedras, como em ritual, como um sinal de que resistem, pois a ação humana no lugar é sinônimo de despejo de lixo e outros poluidores.

O rio também é quase invisível. Nem nome tem, porque nos registros, é um canal. Já para os moradores próximos, que o comparam ao Rio Tietê, pelo mau cheiro, é o “Rio Bostinha”, nomenclatura já aplicada a outros corpos d’água da cidade. Abaixo da cachoeira, forma-se uma piscina natural; mais adiante, o rio jorra em uma lâmina mínima de água, sufocada por dejetos.
Cachoeira urbana
O rio da cachoeira nasce pouco acima da Avenida Jules Rimet. O lugar foi ressignificado pela população para uma espécie de jardim público. Antigos moradores lembram que a área era de muitos mananciais e alagados. Os mais antigos ainda resgatam que o rio corria sobre a agora avenida, usado até para lavar roupa, nos tempos da corrida populacional para o Rincão São Francisco, motivada pela construção da Itaipu.

Assim, entre casas e ruas, as águas vão da Jules Rimet até a cachoeira, onde começam a correr para encontrar o Rio M’Boicy – um dos rios urbanos mais importantes de Foz do Iguaçu –, em uma área de vale às costas do Conjunto Libra. O ponto a favor é que seu percurso conta com uma boa faixa de mata ciliar. Contudo, não se livra dos descartes irregulares.
O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.(Manoel de Barros, em Mundo Pequeno I)
A cachoeira, por exemplo, fica dentro de uma área de muito verde, de embaúbas a ipês, com frutíferas como abacateiro e ameixeira. Sua beleza singular é ameaçada pelo efeito da ocupação humana e pelos frequentadores que deixam roupas, garrafas de bebidas, sacolas plásticas e outros objetos. Moradores da região pedem a limpeza da quadra à prefeitura.

A cachoeira do Morumbi e seu rio são uma demonstração dos prejuízos da degradação ambiental para a qualidade de vida das pessoas, afetando o lazer e a saúde física e mental. Em seu livro “A morte social dos rios”, Mauro Leal analisa a exploração dos recursos naturais amazônicos como exemplo da lógica predatória do consumo.
Portanto, a morte de um rio é sempre natural e social. Esse é o alerta.
Levantamento da prefeitura
Recentemente, técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente percorreram a área em que fica a cachoeira do Morumbi, no Jardim Itália. A iniciativa faz parte do processo de revisão do Plano Municipal de Saneamento Básico, que comporta, em sua estrutura, uma estratégia de recursos hídricos com as diretrizes para a gestão desses bens naturais em Foz do Iguaçu.
O levantamento, de acordo com o que apurou o H2FOZ, é para que a prefeitura tenha uma visão ampla sobre as nove bacias hidrográficas dentro da área urbana do município, inclusive para favorecer a fiscalização de poluidores, como esgotos irregulares e outros males.
Em breve, a pasta deverá apresentar desdobramentos dessa revisão e ações práticas em prol dos recursos hídricos.