Consulta sobre futuro do Bosque Guarani não tem data para iniciar nem será deliberativa

Prefeitura diz que prioriza “concorrência e início das obras de revitalização das estruturas essenciais de passarela, rampas e acessibilidade”.

Prefeitura diz que prioriza “concorrência e início das obras de revitalização das estruturas essenciais de passarela, rampas e acessibilidade”.

Anunciada pela gestão municipal como instrumento para ouvir a população, a consulta pública sobre o destino do Zoológico Bosque Guarani não tem data definida para iniciar. O procedimento, informou a prefeitura, terá caráter consultivo, ou seja, reunirá sugestões, sem poder de deliberação.

LEIA TAMBÉM:
Entidade pedirá proteção do Bosque Guarani como bem tombado
Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNILA apoia preservação do Bosque Guarani
Transferência dos animais do Zoo Bosque Guarani ainda não tem data para acontecer
Prefeitura afirma que busca ‘novo ambiente’ para animais do Bosque Guarani
Podcast: “Bosque Guarani com bosque, por favor!”

Fechado, o zoo público passou a ser desativado, com a transferência de 150 animais. A decisão da remoção foi tomada depois que o Instituto Água e Terra do Paraná (IAT) “constatou que os animais ficam expostos à poluição sonora e à intensa movimentação de pessoas na região”, relatou a Agência Municipal de Notícias (AMN), em agosto de 2021. Na ocasião, o órgão estadual emitiu relatório técnico solicitando adequações na estrutura.

Em fevereiro deste ano, o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP) pediu o tombamento da área para proteção do remanescente de Mata Atlântica encravado na área central da cidade. A solicitação baseia-se na Lei Municipal nº 4.470/2016, do Patrimônio Cultural, Histórico, Artístico e Ambiental de Foz do Iguaçu.

Ao H2FOZ, a assessoria da prefeitura relatou que a prioridade, “por ora”, é concluir a concorrência e iniciar as “obras de revitalização das estruturas essenciais de passarela, rampas e acessibilidade”. Essa intervenção será realizada com recursos de emenda parlamentar federal e próprios do município.

Entidade pede proteção por meio do tombamento da área, que é uma floresta urbana de Mata Atlântica – Foto: Marcos Labanca

Questionada se a população poderá opinar na consulta pública sobre a forma de aplicação da emenda, a prefeitura disse que o dinheiro será destinado às obras de revitalização das estruturas. Esses serviços são considerados “essenciais”, abrangendo “passarela, rampas e acessibilidade, que oferecerão a funcionalidade necessária ao espaço”, afirma a nota oficial.

Em entrevista ao programa Marco Zero, em fevereiro deste ano, o diretor de Captação, Projeto e Inovação, Edinardo Aguiar, informou que o valor da emenda em recursos federais é de aproximadamente R$ 560 mil – sem incluir a quantia municipal. Destina-se, formalmente, à reparação de áreas de interesse turístico (clique aqui para assistir à entrevista).

Consulta pública

A administração sustenta, por meio da Diretoria de Captação, Projeto e Inovação, que a divulgação da consulta pública sobre o Bosque Guarani será divulgada “no momento em que for definido o formato e as ferramentas que serão utilizadas. Poderão participar todas as pessoas que receberem o disparo de mensagem e optarem por responder”, lê-se na nota da prefeitura.

O procedimento deverá ser por mensagens automatizadas e utilizando chatbots. Esse sistema, entende a gestão municipal, deverá “garantir um bom fluxo de comunicação com a população”.

Proteção pelo tombamento

O processo de tombamento teve início em 24 de fevereiro deste ano e segue tramitando na prefeitura, sem ter sido submetido ainda para o conselho da área. O CDH pede a proteção da área, que inclui a “defesa das cerca de mil árvores nativas e quatro lagos, além de duas nascentes” que integram a paisagem natural do Bosque Guarani.

Anúncios de intervenções no local preocupam os ativistas ambientais ligados à entidade de direitos humanos e memória da cidade. Isso porque a lei municipal do Patrimônio Cultural, Histórico e Natural, concede tratamento de bem protegido enquanto tramita o processo de tombamento.

“Com a abertura do processo de tombamento, o bem em exame terá o mesmo regime de preservação do bem tombado, até a deliberação final do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural”, diz a legislação iguaçuense. O conselho delibera sobre o pedido a partir de relatório exarado pelo poder público municipal.

Motivos para preocupação existem, dizem ativistas ouvidos pela reportagem. A comparação que vem à tona é com o caso recente do Bosque dos Macacos, pois mesmo sob pedido de tombamento e proteção em andamento a reserva teve parte de suas árvores derrubada, no bojo da supressão vegetal em terreno particular ao lado.

Na Câmara

O futuro do Bosque Guarani também ecoa na Câmara Municipal. Requerimento do vereador Adnan El Sayed (PSD) cobrou do Poder Executivo o inventário de árvores e vegetação da área. “O inventário traduz-se pela catalogação de quais espécies são plantadas, qual sua distribuição, localização e estado fitossanitário, possibilitando um panorama geral da arborização do Bosque”, diz o Legislativo.

Como resposta, a pasta ambiental remeteu uma listagem, advertindo que ela “não informa todas as espécies inseridas no bosque, todavia apresenta um panorama indicando ampla variedade de espécies, confirmando a riqueza local e importância ecológica e ambiental”. São elencados de ipês a embaúbas.

“Tal levantamento confirma que a floresta apresenta número superior a 30 espécies diferentes, fator qual indica se tratar de floresta em estágio avançado de regeneração”, informa o relatório ambiental remetido ao Legislativo.

O documento reitera a existência de espécies da flora ameaçadas de extinção. “Embora o levantamento em anexo não apresente as espécies Araucaria angustifolia e Aspidosperma polyneuron, estas espécies são facilmente observadas no local”, explica a resposta da Secretaria Municipal de Meio Ambiente à Câmara.

Bosque foi criado em 1996 e fica na região central de Foz do Iguaçu – Foto: Marcos Labanca/Arquivo

Essas espécies, presentes em listas da flora brasileira e paranaense sob ameaça de extinção, foram identificadas e apresentadas como: Araucária (Araucaria angustifolia); cedro-rosa (Cedrela fissilis); pau-marfim (Balfourodendron riedelianum); e peroba (Aspidosperma polyneuron).

O texto do órgão de meio ambiente da cidade menciona haver pelo menos duas nascentes que dão origem a dois dos lagos, além de área em que ocorre afloramento de água sazonal.

“Desta forma, é confirmado que cada nascente caracteriza APP [Área de Proteção Permanente] em raio de 50m a contar da posição de cada uma das nascentes”, expõe a nota. Pode, ainda, “haver outras modalidades de APP caso constatada área protetiva em caracterização geológica”.

Em 2021, a mesma Câmara de Vereadores debateu a desativação do zoológico, sem grandes desdobramentos em termos propositivos e de acompanhamento do caso. Além disso, um edil é autor de proposta para que as estações-tubo de ônibus, desativadas, sejam empregadas no Bosque Guarani.

Mata Atlântica

Com 4,5 hectares, o Zoológico Bosque Guarani foi criado em 1996, sendo um remanescente da Mata Atlântica no centro da cidade, na frente do terminal de ônibus e próximo da área comercial. O local era visitado por turistas e moradores, gratuitamente, inclusive como espaço de descanso de trabalhadores comerciários nos intervalos de jornadas.

Vc lê o H2 diariamente? Assine o portal e ajude a fortalecer o jornalismo!
LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.