Em meio a tantos discursos ecológicos evasivos, Foz do Iguaçu traz para o visitante uma opção de turismo autossustentável. Com prática de permacultura, a pousada Guata Porã tem agroflorestas, plantio de orgânicos e estação de tratamento de esgoto natural, atraindo quem valoriza a natureza.
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Guata Porã (belo caminho, em guarani) é de Guilherme Custódio Jorge, 44 anos. Graduado em História, ele se interessou por agroecologia e aos poucos foi transformando a propriedade da família.
Assim, a partir de 2010, mudou a tradição de gestão convencional do lugar para agroecológica, aplicando a permacultura, pensando nas futuras gerações. As árvores são um dos exemplos. Foram plantadas 7.500 mudas e cortadas apenas quatro. “É preciso conhecer e trabalhar com o ciclo da natureza”, explica.
Na Guata Porã, a autossustentabilidade predomina, porque o trabalho tem sintonia a natureza. Guilherme, por exemplo, usa madeira da propriedade, pois faz o corte no período apropriado.
Lá ele construiu um espaço chamado bicicletário, feito de hiperadobe – técnica de bioconstrução. A obra não tem resíduo ou cimento. A terra é ensacada e compactada, assim as paredes são levantadas sem o uso de colunas ou ferragens, sendo possível fazer dois ou três pavimentos.
A parede recebe uma tinta natural para poder respirar. O telhado do bicicletário é verde, feito com uma caixa de madeira com uma geomembrana. Também há camadas de argila, mantas, cobertores velhos e plantas que não tenham raízes compridas, a exemplo das bromélias. Há conforto acústico e térmico.
Em toda a propriedade não são usados defensivos químicos nem adubo de origem animal.
Nos apartamentos, o piso é de concreto queimado e resinado para dar maior conforto térmico por absorver a temperatura. Os tijolos são ecológicos e não há cimento para ligar uns aos outros. As telhas, fabricadas exclusivamente no Paraguai, chamadas tegualon, funcionam como um isolante térmico, o que garante frescor no verão e economia no inverno, minimizando os custos de energia elétrica.
Esgoto tem tratamento natural
A propriedade apresenta três estações ecológicas de tratamento de esgoto, que funcionam com tanques anaeróbicos e filtros feitos de raízes. Os filtros são caixas nas quais há plantas com capacidade de filtrar água.
Esse sistema é voltado para filtrar a água cinza que vem de chuveiros e torneiras, e carrega mais poluentes principalmente de produtos cosméticos. Depois de filtrada, a água fica clara.
Há também biodigestores para filtragem da água negra que sai dos vasos sanitários. Esse sistema é anaeróbico (sem oxigênio), e a limpeza é realizada por bactérias que comem fezes e urina, liberando lodo livre de patogênicos. Assim a água sai pronta para ser devolvida ao meio ambiente e na pousada é direcionada para mais um filtro de raízes chamado ciclo das bananeiras.
Para isso, bananeiras são plantadas em volta de um círculo e a água é liberada ali para que a banana puxe o excedente e evapore no meio ambiente. Não há nenhum tipo de contaminação.
Fotocélulas instaladas na propriedade geram energia elétrica.
A propriedade tem agroflorestas, sistema de plantio que reúne várias espécies em um mesmo local com árvores primárias, secundárias e terciárias. A lógica é que uma árvore sirva de alimento para outra. Folhas que caem das árvores, por exemplo, não são recolhidas. Entre as espécies presentes estão acerola, carambola, pomelo, angico-vermelho e amora.
As hortas seguem a lógica do plantio orgânico e abastecem o restaurante da propriedade, onde é possível saborear uma comida em fogão a lenha.
A produção de peixes é realidade por lá. Guilherme recuperou nascentes que passam pela propriedade e fez um açude no qual hoje cria tilápias sem nenhum tipo de hormônio. Na contramão do cultivo tradicional, os peixes não passam pela reversão sexual, procedimento feito com hormônios para que as larvas se tornem peixes masculinos. Com isso, ganham peso e tamanho mais rápido para serem comercializados.
Os porcos são criados soltos e não ficam estressados, ao contrário da produção tradicional de frigoríficos, comum na Região Oeste. A criação de frangos e vaca de leite segue a mesma prática.
Como bons exemplos de sobra, a pousada se tornou local de referência para visitas técnicas de escolas e universidades.
A aposentada de Foz do Iguaçu Therezinha Mello foi em uma das visitas e se impressionou com o zelo do proprietário. “É algo bem futurístico para a próxima geração.” Durante a visita, ela disse ter ficado admirada com a criação de porcos, porque não há cheiro forte, e com as dicas de plantio e relação da natureza que são passadas.
A pousada tem apartamentos para quem quer pernoitar e para mensalistas. Também conta com restaurante, com fogão a lenha.
Mais pousadas ecológicas menos resorts !
Ótima matéria. Precisamos de mais propriedades assim em Foz. É a verdadeira prática da.sustentabilidade.