Tekoha. Indígenas viveram na região de Três Lagoas até a perda do território em 1976

Pesquisa resgata a história da Colônia Guarani ou Gleba Guarani, em Foz do Iguaçu, que ainda hoje abriga um cemitério indígena.

Pesquisa resgata a história da Colônia Guarani ou Gleba Guarani, em Foz do Iguaçu, que ainda hoje abriga um cemitério indígena.

A presença guarani em Foz do Iguaçu registra uma importante comunidade na região de Três Lagoas, espaço de vivência, produção cultural e interação na fronteira. Esse tekoha, que ainda hoje abriga um cemitério indígena, foi completamente desterritorializado em 1976, com a atuação de órgãos públicos que estavam militarizados na época.

Essa reconstituição é parte do estudo da acadêmica Osmarina de Oliveira, que acaba de apresentar tese de mestrado sobre o tema à Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). A área era oficialmente indígena desde 1913, conhecida como Colônia Guarani, Gleba Guarani ou Três Lagoas.

Assista à entrevista:

Durante o programa Marco Zero, Osmarina conta que a expropriação ocorreu com a titulação da terra, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em 1976, em favor de não indígenas que foram invadindo o tekoha ao longo dos anos. Esse processo, no período da ditadura civil-militar (1964–1985), teve a anuência da Fundação Nacional do Índio (Funai).

“Era um local onde os guarani viviam há muito tempo, mantinham a sua produção cultural e a agricultura, ou seja, sobreviviam desse local”, relata. “Era um espaço muito importante por conta da própria fronteira, servia de descanso a indígenas que vinham visitar os parentes no Paraguai ou na Argentina”, expõe.

Em seu estudo, Osmarina de Oliveira pesquisou e reuniu documentos e relatórios oficiais, além de depoimentos de indígenas e não indígenas, como o de um morador de São Miguel do Iguaçu que participou de um batizado nos anos 1950 na Colônia Guarani. Ela lembra que as comunidades viviam de forma harmônica até a desterritorialização.

A terra reservada aos indígenas foi demarcada pelo então Serviço de Proteção ao Índio (SPI), em 1913, resgata Osmarina. Segundo ela, nas décadas seguintes, os órgãos públicos federais atuaram para retirar os indígenas e eliminar as memórias dessa presença, que é retratada nos relatórios formais da Comissão da Verdade, nacional e estadual.

Documentos e processos comprovam a desterritorialização, aponta. “Tanto a Funai quanto o INCRA procuraram dizer que só teve índio naquela região no passado. O grande problema é que esses órgãos públicos trabalharam para tirar a terra dos guarani, oficializam essa espoliação e promoveram um apagamento dessa história”, assevera Osmarina.

Cemitério guarani

Na entrevista, a acadêmica da Unila resgatou a existência de um cemitério dos indígenas que fica na Gleba Guarani. Por seu significado, esse local motivou a tentativa de tombamento para preservação histórica pelo ex-vereador Sérgio Lobato, que exerceu mandato de 1983 a 1988, tendo falecido no ano passado.

Antigamente, o local do cemitério era ocupado por uma olaria, tendo sido aterrado e hoje está cercado, e há pastagem para gado. “Em seus depoimentos, os indígenas dizem que gostariam de preservar a memória do cemitério, pois têm parentes enterrados”, frisa Osmarina de Oliveira, rememorando o surto de maleita na região, nos anos 1950 e 1960, que vitimou muito indígenas.

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