Penso, logo pergunto. Professor em Foz estimula a filosofia presente no dia a dia

Idealizador do Café Filosófico, Professor Caverna fala sobre homem selvagem, homem bárbaro e homem civilizado; leia o texto, assista à entrevista.

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Idealizador do Café Filosófico, Professor Caverna fala sobre homem selvagem, homem bárbaro e homem civilizado; leia o texto, assista à entrevista.

Em um mundo em que seres humanos matam seus semelhantes em guerras e diante da peste, quando o remédio chega tarde e é distribuído de forma desigual, pensar o que é ser bárbaro e ser civilizado não é tarefa das mais fáceis. Eis que surge o Professor Caverna. Para explicar filosoficamente esse fenômeno? Não, para indagar e espalhar a dúvida.

Assista à entrevista:

O docente iguaçuense estimula o pensamento crítico, principalmente entre a juventude. Em sala de aula e fora dela, adotou figurino, personagem e humor para dessacralizar a filosofia, isto é, tirá-la do altar do academicismo e fixá-la no dia a dia, incentivando as pessoas a discutir os grandes temas que insistem em chamuscar a existência humana.

No programa Marco Zero, aborda o homem selvagem, homem bárbaro e homem civilizado. Fala de guerra, exclusão, niilismo, capitalismo, socialismo e tudo mais o que é humano. É duro em seu prognóstico: “Tudo é negócio!”, afirma, sem, no entanto, desestimular as pessoas a manter o passo em busca das próprias verdades.

O estímulo ao pensar é a missão do Professor Caverna, que pretende contribuir com “novos óculos, novas ideias para se olhar o mesmo o objeto”, frisa. Esse objeto seria o que “sempre buscamos, que é o entendimento da realidade e do ser humano, com várias problemáticas”, prossegue.

Nessa procura por respostas para as perguntas sobre a condição mundana do ser, o docente adverte que “nós achamos, é muito importante colocar nesse nível, achamos que entendemos tudo”, pondera. “Mas não significa que eu ou nós entendemos realmente esses problemas. São reflexões”, analisa o filósofo.

Povos civilizados e selvagens

Fazendo uma analogia para o fácil entendimento, Professor Caverna projeta-se ao trabalho de descrever o desenvolvimento da sociedade. Homem selvagem, cita, tem uma característica que é o grito; o bárbaro começa a usar a fala e a escrita, iniciando processos de organização. O homem civilizado bate palmas.

“Poderíamos fazer uma brincadeira dizendo que o like hoje de 2022 é o ápice da evolução da humanidade. E não estou afirmando que isso é positivo nem negativo”, reflete. “Se conseguimos entender essa brincadeira, podemos dizer que o selvagem não é dotado de regras, o bárbaro é o início das regras, e aí caímos no civilizado.”

As marcas do homem civilizado, entende o professor, sinalizam o “sistema de funcionamento de plena organização da sociedade. Se isso é bom ou ruim, cada pessoa deve entender ou buscar uma solução para esse problema”, expõe, convidando para a ampliação da reflexão sobre as características do homem selvagem, bárbaro e civilizado.

“Quando você nasce, entra no meio social, recebe certidão de nascimento, carteira de identidade, título de eleitor, carteira de motorista”, pontua. “A pessoa vai sendo ‘civilizada’. Passa no vestibular, que é uma prova – no passado, se matava um lobo para demonstrar a ascensão à fase adulta –, e tira uma foto para mostrar para a comunidade que ‘mim passou’”, brinca.

Guerra e negócio

No Marco Zero, o Professor Caverna aborda as guerras. Ele ressalta que “a civilização representa o ápice do negócio” e, portanto, também que “a guerra é um negócio, onde alguém lucra”. Para sustentar sua afirmação, menciona o atual conflito entre Rússia e Ucrânia, e outro mais antigo, a Guerra do Paraguai.

E avança: “O estilo de paz em que vivemos é um negócio. Um primata muito grande e poderoso, que é o chefe de toda essa tribo, acaba desenvolvendo a guerra, negócio que vai beneficiar um grupo tribal, que nós chamamos de homens civilizados, grandes famílias, grandes não sei o quê. Que para mim não passa de um primata alfa que está no poder no topo da árvore controlando toda a rede”, filosofa Caverna.

Civilização e barbárie

Para o Professor Caverna, a barbárie está presente no homem de hoje. Ele questiona os valores estéticos da sociedade e a exclusão social. “Nós não abandonamos a selvageria, a barbárie, e passamos agora para uma era civilização, a do metaverso, para o que estão vendendo até terreno. Tudo é negócio”, reforça.

Desenvolvendo a ideia de barbárie, lança avaliação enérgica: “Ninguém se importa com ninguém. Inclusão social é uma palavra linda, mas eu a vejo como um negócio. As pessoas estão morando na rua e só serão ajudadas se alguém quer ver nisso um negócio. Isso é bom ou ruim? Você decide”, provoca.

Sobre as ideologias, afirma que ficam no campo da teoria, denuncia as saídas fáceis apresentadas por políticos em busca de voto e transita pelo niilismo, que entende ser a “suspensão do juízo para chegar ao seu Eu”. E completa: “Levante da sua caverna, do seu trono de pedras, porque as coisas nunca foram fáceis em nenhum momento da história humana”.

Doses de filosofia

Na tarde deste sábado, no Zeppelin Avenue, o Professor Caverna realiza o terceiro Café Filosófico, um encontro com jovens para trocar ideias, preferencialmente ideias novas. O projeto foi lançado no ano passado, com 70 pessoas no primeiro evento, que evoluiu para 200 que são esperadas nessa nova edição, já com ingressos esgotados.

O ambiente dispõe de café, música autoral com banca ao vivo e filosofia. “O objetivo é desenvolver ideias sobre a nossa ideia de civilidade, sem julgamento preestabelecido. O Café Filosófico é um espaço móvel em construção para quem tem ideias malucas e ideias lúcidas, é para todos”, convida o Professor Caverna.

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