A médica Regiane Kunz Bereza analisa tempo, pressa, hoje, futuro, ansiedade e frustração a partir da nova função do WhatsApp para adiantar áudios.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem o brasileiro entre os povos mais ansiosos do mundo. As 24 horas do dia parecem ser pouco para todas as demandas e tarefas. Com tanto a fazer, as pessoas muitas vezes embarcam em um pêndulo que leva da angústia à frustação.
Assista à entrevista:
Tempo, pressa, hoje, futuro e ansiedade são parte das preocupações da médica psiquiatra Regiane Kunz Bereza. Em entrevista no programa Marco Zero, do H2FOZ e da Rádio Clube FM, ela discute esses temas a partir da nova ferramenta do WhatsApp que permite acelerar áudios recebidos, já uma febre entre os usuários do aplicativo de mensagens.
O Marco Zero é um programa conjunto produzido pelo H2FOZ e Rádio Clube FM. Entrevista, opinião, enquete, entretenimento, esporte, cultura e agenda. Todo sábado, das 10h às 12h. Participe do grupo no Whatsapp para receber as novidades. https://bit.ly/3ws5NT0
A psiquiatra entende que o acelerador virtual de mensagens é uma ferramenta, mas que também requer contextualização com o meio e as práticas sociais. “A gente vai ficando cada vez mais habituado a acelerar tudo, talvez até incapaz de tolerar que algumas coisas têm um tempo predeterminado”, pondera.
“Fico imaginando que daqui a pouco as crianças na escola vão virar o amiguinho para procurar o botão de acelerar.”
“Fico imaginando que daqui a pouco as crianças na escola vão virar o amiguinho para procurar o botão de acelerar”, compara. “Principalmente com pandemia, estamos o tempo inteiro sendo contrastados com aquilo que a gente quer e aquilo que a gente pode”, expõe, fazendo menção a restrições e contextos impostos por causa da atual emergência em saúde.
Ela faz uma relação entre a aceleração dos áudios no WhatsApp e as relações humanas. “A gente acelera tudo, em vários contextos: vídeos, áudios… Daqui a pouco, quando a pessoa estiver na sua frente, não saberá lidar com quem fala um pouco mais devagar. É um problema sério, pois nem sempre o outro consegue ser rápido e objetivo”, diz.
A médica avalia que, ao apressar os áudios, perde-se parte importante da comunicação. “Fica tudo meio mecânico, robotizado. As pausas, a maneira como a gente fala também comunicam em relação como está se sentindo e o que está se esperando do outro. Essa parte vai sendo perdida, e isso é muito ruim”, ressalta.
Sociedade com pressa
Para Regiane, a sociedade está cada vez mais apressada, com as pessoas mais ansiosas buscando tudo de forma muito rápida. “E sem conseguir aproveitar o que está no passado, em busca de um amanhã, sendo que o hoje – que teoricamente é o mais importante, chamado de presente – acaba de lado”, reflete.
Segundo a médica, essa velocidade faz encher consultórios, com o aumento do número de pessoas em busca de tratamento. “É muito difícil não ter um amigo ou familiar que não esteja com problema psiquiátrico. O ritmo de vida atual é muito danoso para o nosso emocional”, frisa Regiane Kunz Bereza. Os dois principais problemas são a ansiedade e a frustração, aponta.
O tempo passa
Questionada sobre a percepção que as pessoas têm de que o tempo está cada vez mais efêmero, a profissional da saúde realça que a resposta envolve diferentes pontos de vista. Mas chamou a atenção para o que denomina “falta de ciclo” devido à pandemia, em que o passar dos dias não tem as marcações mais definidas como antes.
“Como a gente acaba não tendo a oportunidade, pelas restrições da pandemia, de comemorar e marcar datas que muitas vezes são simbólicas, vai ficando a repetição de que todo o dia parece o mesmo dia”, explica. “O tempo perde um pouco da nitidez”, enfatiza a médica psiquiatra, durante o Marco Zero.
Sua dica é para que as pessoas valorizem o presente e adotem práticas balanceadas. “Dá para inserir na rotina momentos para fazer as coisas de forma mais devagar, preservando aqueles que são mais importantes: uma boa refeição com a família, exercitar e aproveitar o contato com a natureza. Sempre fazendo o balanço para não passar o tempo inteiro em uma vida que é meio artificial”, conclui.
Comentários estão fechados.