Do antigo Mitre à Facisa, memórias da educação em Foz do Iguaçu

Carmen Ficht de Oliveira e Professor Afonso relembram os tempos áureos do ensino na cidade e sua expansão, e cobram valorização; assista.


“Formou muitas gerações de iguaçuenses, eu inclusive.” Essa é a primeira referência da professora Carmen Ficht de Oliveira sobre o antigo Colégio Bartolomeu Mitre, onde estudou, a partir de 1952, e depois lecionou. Em seguida, cobrou que a instituição “não era lugar para colégio militar: a história precisava ser preservada”.

Docente em colégios, cursinhos e universidades, o Professor José Afonso de Oliveira rememorou que começou a profissão no Colégio São Luís, seguindo para o Anglo-Americano, que estava sendo implantado e onde permaneceu por 19 anos. “Em 1982, eram 14.600 alunos, filhos dos trabalhadores da Itaipu, manhã, tarde e noite”, contabilizou.

Além da profissão, Carmen e Afonso têm uma vida em comum e relembraram os tempos áureos do ensino na cidade, expansão e momento atual no programa Marco Zero, produção do H2FOZ e Rádio Clube FM 100,9. As reminiscências e reflexões são parte do conteúdo especial pelos 110 anos de Foz do Iguaçu.

Assista à entrevista:

Colégio Mitre era para todos

A pedagoga resgatou que, além do Colégio Mitre, havia a Casa Escolar Jorge Schimmelpfeng. Depois, foi fundado o Instituto São José, de ensino pago. Na ensinança, contou, o foco era a aprendizagem, com liberdade em sala de aula, diferentemente da pressão e das cobranças da burocracia por meta que afirma ter hoje.

A educadora passou nos dois primeiros concursos realizados pelo estado. E sublinhou que o extinto Bartolomeu Mitre “era o sol para quem não tinha condição de pagar para estudar. Acolhia a todos, sem distinção de classe social, não importava se era filho do rico ou do pobre”, frisou.

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Histórico, o Colégio Bartolemeu Mitre formou gerações de iguaçuenses – foto: Acervo/IBGE

Expansão do ensino

Nos primeiros anos da década de 1980, lembrou o Professor Afonso, ocorreu uma mudança na educação em Foz do Iguaçu, no sentido da expansão. “Com o Anglo-Americano, estado e prefeitura se viram na obrigação de construírem unidades escolares para toda a população. Aí começaram os colégios nos bairros”, apontou.

Virada de chave também ocorreu com a conquista da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), a partir da união de cinco faculdades isoladas, uma delas a Facisa, em Foz do Iguaçu. O ensino superior passou a ser público e gratuito, contribuindo para uma mudança de perfil do município, analisou.

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Obras do campus Unioeste em Foz do Iguaçu, na década de 1990: depois da universidade, a luta pela sede – foto: Reprodução/Unoieste/Foz

Não foi caminho fácil, ponderou, elencando a busca pela federalização da Facisa, o que não ocorreu, o jogo de empurra de governantes em nível estadual e a demora na construção e término do campus da Unioeste/Foz. “Hoje podemos dizer que temos um grande polo educacional”, comentou José Afonso de Oliveira.

“Doces lembranças”

De similaridades do seu começo na educação com os dias atuais, Carmen Ficht de Oliveira apontou o salário baixo, falta de valorização dos professores e condições de trabalho, mas sobra hipocrisia dos governantes. “Mas naquele tempo éramos idealistas”, asseverou.

Conforme relembrou, salário de março era para preparar a Páscoa dos alunos; o de setembro ia para o Dia das Crianças. “A gente era feliz, eu tinha amor pelo magistério e um carinho enorme pelos meus alunos. Bons profissionais e cidadãos de Foz do Iguaçu se formaram na escola pública. São doces lembranças”, reviveu.

Escola não é empresa

Durante a entrevista, os professores criticaram o programa Parceiros da Escola, instituído pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) e aprovado pelos deputados com urgência. Para eles, haverá impacto na carreira docente e na qualidade do ensino.

“Todo mundo está de olho nesse percentual de recursos obrigatórios que a Constituição determina para a educação. Querem abocanhar esse dinheiro”, afirmou Afonso. “Estão citando Inglaterra como modelo. Não tem nada a ver com a realidade e a educação do Brasil, muito menos do Paraná”, concluiu.

“Não vejo com bons olhos essa privatização”, resumiu Carmen. “Onde já se viu escola virar empresa? Alunos não serão mais educandos, mas clientes. Quem é a favor entre no ensino particular e deixe a escola pública para quem quer e precisa estudar”, prosseguiu.

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