Enio Verri: tarifa de energia, casas da Vila A e investimentos em Foz do Iguaçu

O dirigente avalia a trajetória de 50 anos da Itaipu Binacional e faz um balanço das ações da empresa; assista.

A Itaipu Binacional celebra 50 anos de fundação em maio, com várias atividades institucionais e para a comunidade na programação. O meio século da empresa, as ações atuais e o planejamento futuro foram abordados pelo diretor-geral brasileiro da usina, Enio Verri, em entrevista ao Marco Zero, produção do H2FOZ e Rádio Clube FM 100,9.

Assista à entrevista.

A qualidade técnica do quadro de empregados, a prioridade para investimentos estruturantes e o novo norte da gestão, que objetiva gerar energia aliando compromissos sociais e ambientais, pautaram o programa. O dirigente detalhou os termos do acordo da tarifa de energia elétrica, que acaba de ser concluído entre Brasil e Paraguai.

Até 2021, explicou, essa definição era simples porque os recursos estavam comprometidos para o pagamento da dívida da construção da usina, o que mudou com a redução e o fim do financiamento em fevereiro deste ano. “Não terá aumento de tarifa para o povo brasileiro, isso é um fato importantíssimo”, elencou Enio Verri como o principal ganho da negociação.

“Segunda novidade: durante os próximos três anos, não terá negociação anual, já fechamos que não vai ter aumento, a tarifa será a mesma para a população brasileira. Isso é um grande avanço”, enfatizou. E outro entendimento a que chegaram Brasil e Paraguai é o compromisso para que a revisão da parte financeira do Anexo C do Tratado de Itaipu seja concluída em dezembro.

O Paraguai, hoje obrigado a vender para o governo brasileiro a parcela de energia que não consome, será liberado dessa obrigação a partir de 2027. “Isso é bom para o Brasil? É. Porque não vai mais ter a briga por tarifa, e o Paraguai vai vender a energia de acordo com o mercado. Isso implica que nós vamos poder baixar muito a tarifa no Brasil”, avaliou.

Em três anos, a tarifa elétrica de Itaipu será de US$ 16,71, caindo a partir daí para US$ 12. A isso, adicionou Enio, há o fato de que o país vizinho poderá vender ao Brasil a energia de Yacyretá, binacional argentino-paraguaia. “Com maior oferta, o preço cai. Energia de qualidade barata é inclusão social e incentivo para a indústria produzir mais. É o conceito do governo brasileiro”, declarou.

Modelo para o mundo

No Marco Zero, ao destacar as principais contribuições de Itaipu em seus 50 anos, Enio Verri disse que a binacional é exemplo bem-sucedido e modelo para o mundo. Realçou a qualidade da obra de engenharia empreendida em um tempo em que os recursos tecnológicos eram infinitamente menores.

Enio Verri: “Uma obra que 50 anos depois está intacta” – foto: Renato Sord/Divulgação

“É uma obra gigantesca feita baseada na experiência, só. Lembrem-se de que não tinha computador ou calculadora científica”, rememorou. “Uma obra que 50 anos depois está intacta, muito mais segura e sem risco nenhum comparada com outras que têm cinco ou dez anos”, enfatizou o diretor-geral brasileiro.

E argumentou que a empresa é a demonstração na prática de que a integração entre os países é viável e que a existência da usina está associada à ciência. “A grande lição dos 50 anos: a integração entre os países é possível e é um bom resultado econômico e social. E a ciência é indispensável. Vivemos um momento recente de negação da ciência, mas está provado que sem ela não haveria Itaipu”, analisou.

Itaipu e Foz do Iguaçu

Na entrevista, Enio Verri avaliou que a construção da usina trouxe ganhos para Foz do Iguaçu, mas reconheceu haver o que ele chamou de dívida da Itaipu com a cidade. E mencionou a explosão demográfica, que elevou o número de habitantes de cerca de 30 mil, em 1974, para mais de 110 mil uma década depois.

Muitas pessoas, ao final da obra, não tinham alternativa de emprego, e a cidade não possuía infraestrutura adequada para o inchaço populacional. “Nós entendemos que Itaipu tem uma dívida com a sociedade de Foz do Iguaçu. Por isso, ano passado, anunciamos R$ 1,3 bi de investimento só em Foz do Iguaçu. É favor? Não. É um reconhecimento de que essa comunidade contribuiu muito para que a gente chegasse aonde chegou”, ponderou.

Entrevista especial abordou história, ações atuais e projetos futuros – foto: Renato Sord

Perguntado sobre o papel da estatal para fomentar o desenvolvimento da cidade, no contexto da “dívida” mencionada, Enio Verri frisou que a “Itaipu não é governo, não é prefeitura, e em uma democracia é preciso se respeitar os poderes. Quem decide os investimentos, a linha estruturante do futuro da cidade, é a prefeitura”, argumentou.

Segundo ele, a população irá escolher o próximo prefeito ou prefeita e seu plano de governo para a cidade. “Nosso papel é sentar com os gestores. Nós temos uma avalição do que é importante para a cidade. Qual é a visão que o povo tem quando o elegeu [próximo gestor]? E tentar, somado a isso, olhar adiante”, pontuou.

Apoio aos gaúchos

Em um balanço da ajuda da Itaipu Binacional à população do Rio Grande do Sul, que passa por uma calamidade, o diretor afirmou que há uma campanha de arrecadação interna grande. E que a usina foi uma das primeiras a enviar bombeiros para buscas e salvamento e que ofereceu quadros técnicos para acompanhar a segurança das barragens.

“A grande novidade é que a Itaipu tem um saldo de R$ 1,2 bilhão. Há um debate entre usina, o Ministério de Minas e Energia e o presidente Lula desse recurso, parte ou integral, também ser repassado para o Rio Grande do Sul”, informou Enio. Não é transferir o recurso, mas convertê-lo na forma de ajuda, como isentar a conta de luz por um período, exemplificou.

Casas da Vila A

Ao vivo, no Marco Zero, Enio Verri abordou o processo de venda das casas da Vila A. Disse que buscou instituir um modelo mais justo e com mais vantagens ao morador do que as normas praticadas na gestão anterior da Itaipu. Residentes pedem mudanças em critérios.

Uma empresa avalia o valor do imóvel, sem incluir as melhorias que foram feitas, estabelecendo precificações mínima, média e máxima. “Pegamos a mínima, aplicamos 25% de desconto e oferecemos. Se o morador não tiver interesse, aí é que vai para leilão. O morador tem chance de pagar até menos da metade do que será vendido no mercado”, expôs.

Segundo ele, não se pode doar as casas por serem de propriedade de empresa pública. E a legislação não permite encaixar a oferta por renda, revelou. “Estamos fazendo algo que eu imaginei que seria motivo de aplausos, afinal de contas vai ser possível comprar a casa por quase a metade do preço em relação ao que era feito na gestão passada”, completou Enio.

Conforme o diretor da usina, a empresa segue aberta para o diálogo e busca de soluções, e não serão cometidas injustiças. “As pessoas que têm problema de renda, nós vamos tratar disso. Mas não vamos deixar transformar esse período em um período de ganhar dinheiro com especulação imobiliária, nós vamos fazer justiça habitacional com transparência”, terminou Enio Verri.

Moradores que criticam o modelo adotado pela Itaipu afirmam que ele dificulta a aquisição, reclamam do preço cobrado e pedem a realização de uma revisão da avaliação. Muitos dizem não ter condições de fazer o financiamento, seja pelo comprometimento da renda e até pela idade avançada.

Outros temas da entrevista:

  • Sessão solene da Câmara dos Deputados em homenagem à Itaipu;
  • Mercado Público;
  • Revitalização da Avenida JK;
  • Parque Tecnológico Itaipu;
  • Cronograma de execução da Perimetral Leste e da Rodovia das Cataratas, de responsabilidade do governo estadual (recursos foram destinados pela Itaipu).
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