Sobre Rodas – Abilene Rodrigues
Depois que fechou as portas, o pátio de um dos maiores supermercados de Foz do Iguaçu na década de 90, tornou-se a “casa” para usuários de drogas. A localização do antigo supermercado, na região central da cidade, é um dos chamarizes para os dependentes químicos. Também uma preocupação para os vizinhos, pois já ocorreram assassinatos, roubos e brigas no local.
Na quarta-feira (27) a reportagem da Sobre Rodas conversou com um grupo de moradores do local. Eles ganharam tintas e dedicaram o dia a reformar o espaço, considerado o único lar para a maioria deles. Atualmente, vivem sob as marquises do antigo supermercado Lembrasul, pelo menos 15 pessoas. Alguns estão ali há mais de três anos.
“Atendemos essas pessoas com sopa. Nosso objetivo é tira-los daqui, mas já que consideram esse espaço como casa, resolvemos ajuda-los a ter um pouco de dignidade. Doamos as tintas”, disse o coordenador do Projeto Sopão da Madrugada, Johnson Santos.
Ex-jogador de futebol
Os moradores do local mostram que a droga pode atingir pessoas de qualquer idade e toda classe social. Um deles é Nivaldo de Souza, de 49 anos. É aposentado por invalidez e não precisaria morar na “rua”, mas o vício não o permite viver com os filhos. “Se eu tenho vícios? Sim, mas nem quero dizer quais são”, disse Souza.
Segundo Souza, era jogador do Foz Futebol e até do Cerro Porteño da Argentina, na década de 80. Em 1991, após sofrer um acidente de carro que deixou marcas pelo corpo todo, inclusive, a falta de voz, foi aposentado. Ele precisou passar por traqueostomia, um orifício na traqueia para que pudesse respirar. Hoje, para falar, precisa apertar a traqueia.
“Minha esposa faleceu. Minhas duas filhas gêmeas e meu filho vivem em Presidente Prudente (SP). Eu moro aqui porque sou diferente. Não gosto que me comandem”, disse.
Outro morador do antigo Lembrasul é Eliseu Alves, de 30 anos. Ele contou que é viciado em todas as drogas. Trabalha como cuidador de carro para manter o vício. “Vivo aqui há uns três anos. Morava com a minha avó, mas enquanto eu estava preso, ela morreu. Fiquei sem ninguém”, relatou. E completou: “Aqui somos uma família, sempre tem lugar para mais um”.
O caçula é o ex-acadêmico de Engenharia Ambiental Jhonatan Giovanini. Tem 26 anos. “Estou aqui há duas semanas. Vim para ajudar na organização da ‘casa’”, disse tentando se livrar da conversa.
Um milhão de vezes
O secretário municipal de Assistência Social, Elias de Souza Oliveira, afirmou que a secretaria já fez “milhões” de intervenções no local. “Procuramos encaminha-los para abrigos ou casas de passagem. Entretanto os usuários de drogas acabam voltando para o vício”.
Reportagem e Fotos: Abilene Rodrigues
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