Acelerador de acesso à informação é a definição dada por pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) para o chat boot Corona AI. A ferramenta online foi implementada em abril deste ano para responder dúvidas e combater fake news sobre o novo coronavírus, fornecendo dados oficiais e confiáveis para a população.
O professor Sylvio Barbon Júnior, do Departamento de Computação, explica que a funcionalidade do chat é bem simples. O usuário envia uma pergunta escrita ou por áudio e, em segundos, a inteligência artificial do programa interpreta a mensagem, acessa bancos de dados oficiais e fornece a resposta. Após seis meses de criação, a média de atendimentos é de 30 por dia.
Criado e modelado em apenas 20 dias, por uma equipe de professores, servidores e estudantes da UEL, o Corona AI foi programado para atuar em três linhas: informações dinâmicas sobre fake news; diagnóstico, sintoma e tratamento da Covid-19; e número de óbitos, incidentes e locais de atendimentos. A base de dados é composta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, além de recomendações de especialistas da área.
“A gente só precisa do chat boot porque existe muita informação disponível”. Neste sentido, o papel do robô é organizar o Big Data – as diversas informações que não estão estruturadas – e fornecer para as pessoas. “Ele é um interpretador”, diz o professor.
De acordo com ele, são duas as principais funções do chat boot – absorver conhecimento dos bancos de dados e fazer a comunicação facilitada com o usuário. O programa simula o diálogo, como se o atendimento fosse realizado por um humano. O mais interessante, segundo o professor, é que o robô pode atender simultaneamente diversas pessoas no mesmo minuto ou segundo.
Além disso, o atendimento é preciso e todos recebem respostas oficias, sempre com a fonte da onde a informação foi retirada. O que muda é a estrutura da resposta para imprimir certa naturalidade para a conversa.
DÚVIDAS – Sylvio já nota diferença nas pesquisas feitas durante esses seis meses. No início, as principais dúvidas eram sobre sintomas e prevenção da doença. Ele lembra também que muitas pessoas estavam curiosas para testar a nova ferramenta e interagir com o robô. “Teve gente que fez até proposta de casamento para o chat”, conta. Com isso, chegaram a ter 700 usuários em apenas um dia. Atualmente, as principais perguntas são sobre atendimento e número de casos e óbitos.
NA PRÁTICA – Para responder a essas questões, a inteligência artificial do programa consulta o banco de dados e faz a busca por palavras-chaves. Segundo o professor, pesquisas genéricas por palavras como coronavírus e Covid-19 trazem resultados mais amplos, o que pode não sanar a dúvida. As pesquisas mais eficientes são as que utilizam palavras específicas como máscara, febre, casos em Londrina e até mesmo dengue. No caso da última, a ferramenta busca os sintomas e apresenta as diferenças com a Covid-19.
FAKE NEWS – Quanto às fake news, o chat boot também faz a busca e indica a notícia falsa. Um exemplo citado pelo professor é o seguinte: ao digitar “Bill Gates” na conversa, o robô retorna com a mensagem “Isso se parece com o boato “Empresa de Bill Gates é a dona da patente do novo coronavírus” e indica o site para acessar a verificação da notícia.
Além do professor Sylvio, a criação do Corona AI contou com a colaboração do pesquisador Hugo Queiroz Abonizio, também do Departamento de Computação e Eduardo Henrique Giroto, estagiário Iniciação Científica.
Entre os demais profissionais convidados estão o professor Alberto Durán González, do Departamento de Saúde Coletiva; Sérgio Henrique Gerelus, coordenador de Comunicação da UEL; Arthur Eumann Mesas, do Centro de Estudos Sociosanitários da Universidade de Castilla-La Mancha; Renne Rodrigues, do Departamento de Saúde Coletiva, e Ana Paula Ayub da Costa Barbon, do Departamento de Medicina Veterinária da Unifil. Também atuaram no projeto os profissionais de TI, Wellington Cardador e Leonardo Pinheiro, da Assessoria de Tecnologia da Informação (ATI).
Pesquisadores da UEL trabalham em novas ferramentas
A expertise aplicada ao Corona AI e às pesquisas já desenvolvidas anteriormente deram know-how para que outros projetos começassem a ser implantados na universidade. O próximo a ser lançado é o chat boot do Portal da Transparência, para consultas de receitas e despesas da UEL, como gastos com materiais, combustível, entre outros.
A função da ferramenta será reunir dados de documentos e planilhas e acelerar o acesso à informação. Segundo Sylvio, este tipo de ferramenta poderá ser utilizado futuramente em outros setores que fazem atendimento ao público, como a Pró-reitoria de Graduação (Prograd), e até mesmo para informações sobre o Vestibular da UEL.
“Estamos no período de transição do papel para a digitalização. Hoje, o que esbarra não é a questão tecnológica, é a transferência de entendimento. Alguém precisa alterar, assinar, autorizar”, afirma o pesquisador. Para ele, seria preciso uma mudança de cultura organizacional para que houvesse mais facilidade para utilização dessas ferramentas no setor público.
De acordo com o professor, outro ponto que dificulta a implementação de ferramentas de inteligência artificial é a legislação e os limites que precisam existir. Ele cita que isso ainda é muito recente no Brasil, a se considerar que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – nº 13.709/2018) entrou em vigor recentemente, em 16 de agosto.
O professor lembra que antes da criação dos buscadores online, como o Google, as pessoas não sabiam que poderiam encontrar tanta informação sobre qualquer assunto. Agora, essa busca está indo do sentido amplo para o específico, ao ponto em que a própria universidade vai organizar essa pesquisa interna.
Ele vislumbra que daqui a algum tempo essa função de chat boot estará disponível para as pessoas pesquisarem sobre a própria vida, em situações como lembrar onde estava certo dia e com quem, onde fez determinada compra com o cartão de crédito, entre outras.
Sobre a utilização da inteligência artificial, ele é categórico. “Não é um caminho sem volta porque a gente não tem nem a ideia do caminho que é oferecido”.
PESQUISAS – As pesquisas do professor Sylvio Barbon Júnior com inteligência artificial iniciaram em 2014, quando o objeto de estudo foram os boots utilizados nas redes sociais. Ele cita o caso dos trends topics do Twitter, em que robôs impulsionavam algum tópico para ser o mais comentado da rede.
Anos depois, o foco das pesquisas passou a ser análise de notícias e identificação de fake news. Em estudos na pós-graduação foram analisados dez mil textos em português, inglês e espanhol. O resultado foi a diferenciação entre textos falsos, verdadeiros e também irônicos, a partir da definição de 21 características, que avaliaram erros ortográficos, lead, formalidade do texto criado, entre outros. O estudo foi apresentado nesta matéria publicada no Jornal Notícia
Comentários estão fechados.