Turismo na Tri-Fron – nomes e lembranças

O turismo da fronteira não começou ontem e nem nasceu em chocadeira.

* Jackson Lima

O tenente Edmundo Xavier de Barros que administrou a Colônia Militar do Iguassú por pelo menos três anos é um dos nomes mais importantes para o turismo de Foz do Iguaçu e da região – especialmente com o lado argentino. Foi ele o responsável pela divulgação da existência de uma trilha que ligava o Porto na região do Porto Meira até as Cataratas. Era uma trilha ervateira – criada para facilitar a exploração da erva mate e o trânsito de peões (mensus) e trabalhadores em geral. 

Em 1897, chegou ao porto da Colônia Militar um barco argentino chamado Cometa. O comandante do Cometa, capitão Jordan Hummel conversou largamente com Edmundo de Barros. No encontro, o tenente contou a Hummel sobre a picada até as Cataratas. O marujo do rio, levou o segredo consigo até Posadas. Dias depois ele contou a história para o governador da Província, então território, de Misiones, Juan Miguel Lanusse. 

Três anos depois, há registro, Lanusse chega à fronteira com uma equipe. A maioria não chegou a ver as Cataratas pois não quiseram fazer todo o caminho pelo mato. Alguns heróis tentaram e conseguiram. Foi nessa viagem que veio abordo uma mulher rica, patrocinadora das artes e patriota argentina, chamada Victória Aguirre. Ela nunca chegou às Cataratas mas fez uma contribuição em dinheiro para a abertura de uma picada parecida em Puerto Iguazú. 

Lanusse não parou por aí. Pôs na cabeça que teria que desenvolver o “turismo” na região. Foi à Buenos Aires para convencer ao magnata da navegação no Prata, Nicolas Mihanovich a criar uma linha turística para as Cataratas do Iguaçu. Mihanovich que é outro nome importante no turismo na região que vai do Estuário do Prata até as Cataratas, topou. 

O turismo na fronteira estava nascendo. O governador Lanusse fez o que os governos de hoje chamam de “atrair a iniciativa privada” para aproveitar as oportunidades de negócios. A preferência foi dada aos empresários de Trincheira de San José – o nome antigo de Posadas.

Lazaro Gibaja dono de vapores que viajavam entre Posadas, Argentina e Porto Mendes, hoje às margens do Lago de Itaipu. Lázaro Gibaja abriu um hotel às margens do rio Iguaçu. O administrador e meio sócio escolhido por Gibaja foi Leandro Arrechea. Por sua vez Arrechea contou com a mão de obra especializada de Jesus Val para tocar o que tinha direito a se chamar de “unidade” ou filial nas Cataratas do Iguaçu, lado argentino. O gerente da unidade no cafundó onde estavam as Cataratas se chamava Sandálio Rodríguez. 

Muito tempo depois, já nos anos 20, o americano Burton Holmes – o pai dos guias de viagem – foi hóspede no Gran Hotel de Arrechea em Puerto Aguirre. Ele se hospedou na unidade de selva onde vivia e sofria o pobre Sandálio Rodríguez. Holmes registrou um pouco da irresponsabilidade de Arrechea que mandava turistas sem comida, sem água e sem provisões. Sandálio Rodriguez se suicidou um dia por não agüentar mais o descaso do patrão. Outro hóspede famoso das duas unidades hoteleiras do Gran Hotel foi Alberto Santos Dumont em 1916. 

Quando Alberto Santos Dumont chegou à fronteira em sua histórica mas pouco conhecida viagem de 1916, ele conheceu os quatro experimentos hoteleiros existentes na fronteira argentino-brasileira. Em Foz do Iguaçu ele se hospedou no centro da cidade no Hotel de Frederico Engel e também na “unidade de selva” do empreendimento. Foi nessa viagem que ele escutou a noticia de que as Cataratas estavam em área particular. 

Quando Santos Dumont esteve nas Cataratas, a área já pertencia Jesus Val – aquele que veio para tocar os hotéis de Lázaro Gibaja com Leandro Arrechea. Jesus Val recebeu o título de propriedade da área oficialmente via Ministério da Guerra e 5ª Brigada de Curitiba da qual ainda hoje Foz do Iguaçu é parte. Tudo feito legalmente. 

Graças àquela intervenção de Santos Dumont em Curitiba, o Paraná conseguiu fazer a primeira desapropriação de uma área de interesse público. Em 1919, Jesus Val finalmente recebe a indenização do Governo do Paraná. E o turismo entra em novas etapas. Mas vai ser na década de 30 após a criação dos Parques Nacionais que o turismo da região vai ter mais novidades.

* Jackson Lima é jornalista em Foz do Iguaçu. 

Texto publicado originalmente em O Blog de Foz.

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