Túmulo do cientista Tadeusz Chrostowski continua abandonado no Parque Nacional do Iguaçu

O pesquisador foi o primeiro ornitólogo a residir no Paraná e ter realizado três expedições no estado; pelos feitos foi consagrado como patrono da Ornitologia paranaense

O conteúdo abaixo foi gentilmente cedido por Revista Mosaicos.

Texto publicado originalmente no portal Revista Mosaicos

 

HISTÓRIA

O Parque Nacional do Iguaçu (PNI) sempre despertou curiosidade a desbravadores e estudiosos da História Natural. Inúmeras expedições foram realizadas, a começar pelo espanhol Álvar Nuñes Cabeza de Vaca em 1942, depois Santos Dumont em 1916, que ao conhecer o PNI lutou para proteger e oficializar a área junto a órgãos competentes. Como resultado da expedição de Cabeza, criou-se então o Decreto- Lei nº 1.035  do presidente Getúlio Vargas em 10 de janeiro de 1939; como também outras tantas pesquisas, expedições e viagens com objetivo científico e de fiscalização.

Dentre os pesquisadores focamos o naturalista polonês Tadeusz Chrostowski por ter sido o primeiro ornitólogo a residir no Paraná e ter realizado três expedições no estado. A primeira (1910-1911), a segunda (1913-1915) e a terceira (19122-1924) incluindo o PNI e por termos a informação de que estaria ali enterrado na divisa com o município de Matelândia às margens na Estrada Velha de Guarapuava que ligava Foz do Iguaçu a demais municípios e a capital paranaense. Fatos estes que sempre despertaram a nossa curiosidade como profissional de imprensa com viés no resgate histórico regional.

Tadeusz Chrostowski em traje militar ( 1878-1923) patrono da Ornitologia paranaense
 / Crédito foto: Jaczewski 1923

 

Casa usada por Chrostowski em Vera Guarany às margens do Rio Iguaçu hoje município de Mateus do Sul. Retrata a forma simples de vida.
/ Crédito foto: Chrostowski 1922
 

 

Decidimos então procurar pistas para localizar o jazigo (não foi fácil) até que tabulamos com funcionários do Posto de Informação e Controle do PNI de Céu Azul, por sugestão de Luiz Alberto Colioni (Beto) secretário da Agricultura da Prefeitura deste município. Chegou o dia agendado, tarde de 29 de setembro de 2018 e fomos acompanhados pelos funcionários Adilson Américo Machado, Paulo Maravilha e Anísio Muniz, coincidindo com suas atividades operacionais naquela direção. Partimos da BR-277 em Matelândia, eles indicando o caminho e nós os seguindo.

Percorremos cerca de 30 quilômetros passando pelas comunidades Santa Lúcia, Bananal, Distrito de Marquesita, Cantinho do Céu até nos depararmos com a Estrada Benjamin Constant batizada de Estrada Velha de Guarapuava e chegar ao local previsto às margens do Parque Nacional do Iguaçu- distante a uns 15 km Oeste da Estrada do Colono, próximo ao conhecido “Cemitério do Romão”. Nesse percurso é interessante registrar que a maioria são proprietários de grandes áreas que arrendam para terceiros para lavouras ou fazendas de gado-isso se confirma pelo levantamento do IBGE de que dos 838 proprietários da área rural do município 137 são arrendatários, 37 parceiros e 33 por comodato e que 45% do total da área do município 639,746 km²pertence ao Parque Nacional do Iguaçu.

Depois de nos situarmos um tanto emocionados por realizarmos o intento, os abnegados acompanhantes sabedores do local do túmulo, logo tiraram uns galhos da vegetação abrindo uma trilha até uns 10 metros da estrada vicinal conhecida como Estrada Velha de Guarapuava e lá nos deparamos com o túmulo de pedra de Tadeusz Chrostowski completamente abandonado sem nenhuma identificação e aparecendo um buraco de onde foram removidas pedras e terra, transparecendo indícios de ação de larápios a procura de algo precioso. Sinceramente, nos decepcionamos do descaso com esta personalidade científica. A história registra que havia um túmulo com inscrição em bronze numa lápide com os seguintes dizeres que também Jornal Mensageiro registrou na edição nº40 de 20 de fevereiro de 1975:

“Ao destemido explorador da Fauna Brasileira Dr. Tadeusz Chrostowski;

Polonês, falecido na sentinela da Ciência, em 04 de abril de 1923

União Central dos Poloneses no Brasil

Honra ao Trabalho Perseverante”

 

No entanto hoje essa lápide também não existe mais. E assim a história se perde. O que fica é o legado de sua pesquisa como bem afirmou José Flavio Cândido professor da Unioeste de Cascavel-PR em 2005 ao se deparar com o jazigo: “E mais uma vez a história se perde por ganância e desinformação. Mas não importa porque estive lá e sei de que o legado de Tadeusz não será esquecido. E espero que seu espírito ronde livre naquela mata, conhecendo e maravilhando com toda aquela beleza e proteja a vida que lá abriga”.

Quem sabe a União Central dos Poloneses no Brasil junto com alguma universidade, que tenha identidade científica de pesquisa, possa se interessar em revitalizar o túmulo para dar identidade a esse primeiro cientista a estudar a fauna paranaense e ser considerado uma das celebridades que mais contribuíram pelo avanço das ciências naturais do Brasil e que faleceu de malária a serviço da humanidade.

 

Túmulo de Tadeusz Chrostowski abandonado sem identificação. O monumento em pedra erguido em 1934 pela União Central dos Poloneses foi alvo de larápios como se pode comprovar na foto

 

Na missão de encontrar o jazigo, o apoio da equipe do Posto de Informações e Controle do PNI de Céu Azul e de Ieda Maria Piccoli que nos acompanhou

 

Conhecido como “Cemitério do Romão” às margens da Estrada Velha de Guarapuava em propriedade rural

 

Nessa via vicinal que margeia o PNI começa a ser fomentado o turismo do pedal-um projeto de uma ciclovia de 160 km que fará ligação entre Foz do Iguaçu -Cascavel

 

Este Rio Pinheirinho que se forma da junção de pequenos córregos de Matelândia, percorre o município segue no Parque Nacional do Iguaçu, desagua no Rio Benjamin Constant e este no Rio Silva Jardim que nasce em Céu Azul para desembocar no Rio Iguaçu que forma as Cataratas

 

OPORTUNO ACRESCENTAR…

Durante nossa pesquisa, encontramos importantes dados sobre o naturalista Tadeusz Chrostowski no livro Ruínas e Urubus de autoria de Fernando Costa Straube por ter dado ênfase ao personagem polaco em suas expedições que realizou no estado do Paraná documentando a avifauna daquela época e a natureza em um sentido mais amplo. Afirma o autor que a trajetória de Chrostwski embora rica e valiosa para a ciência (coleções zoológicas e publicações) bem como sua exploração pelo Paraná ficou esquecida durante décadas. No Paraná pouco interesse foi despertado por uma tão antiga condição de pesquisa da região. Como também na Polônia que mantém o Museu e Instituto de Zoologia da Academia Polonesa de Ciência, onde está armazenado a parte principal (milhares de espécimes, incluindo 890 aves) da coleção de Chrostowski, nunca surgiu interesse particular.

O legado do explorador, assim acabou mantido como integrante de dois “pedaços de ciência” completamente distintos e separados um do outro pela distância intercontinental entre Brasil e Polônia e pela falta de contatos mútuos em relação ao tema, entre os dois países. Essa condição fez com que no Paraná, pouco se conhecesse das coleções e documentações do cientista em Varsóvia e além disso curadores poloneses do acervo, não tinham consciência de que o distante Brasil mantivesse quaisquer interesses nesses materiais.

Fernando foi reconhecido por produzir numerosas publicações no Brasil e também realizou uma rede de contatos com os zoólogos poloneses. Fernando que é descendente de terceira geração do entomólogo alemão Franz Gustav Straude e por ter trabalhado 13 Anos como ornitólogo no Museu de história Natural em Curitiba, dedicando-se a questões faunísticas, taxonomia e biogeografia é autor de 18 livros e tem publicado 138 artigos em periódicos, mas seu principal esforço criativo concentra-se em uma série de estudos, intitulado “Ruinas e Urubus” metáfora para o tema principal dessa coleção “história e natureza”. A pesquisa de Tadeusz está documentada no sexto volume da série.

Chrostowski considerava a morte como um atributo natural do viajante que se arriscava em prol da ciência. Ele sempre enaltecia seus companheiros de viagem pelo desempenho que tiveram para o sucesso. Dividia os louros da expedição com todos os participantes em especial com seu amigo Tedeusz Jaczewski. O seu falecimento foi notícia até em periódicos importantes dos meios científicos- foi até editorial da famosa revista Sciense em 13 de julho de 1923. Depois da morte de Chrostowski a empolgação para a pesquisa deixou de existir e Jaczwski em 13 de outubro de 1923 acabou embarcando para a Europa. Chegou em Varsóvia em 18 de março de 1924 dando por cumprida a importante expedição. Uma de suas primeiras tarefas foi produzir um obituário do amigo Chrostowski publicado em quatro versões.

# O internauta que tiver interesse pode conferir no Google Tadeusz Chrostowski, pai da ornitologia do Paraná  por Fernando Costa Straude

IDENTIDADE  POLONESA EM MEDIANEIRA

Por não encontrarmos nenhuma referência a Medianeira (PR) sobre o Monumento Braspol e designação de Rua que prestou homenagem ao Papa João Paulo II pela  União Central Polonesa, evidenciamos como complementação de pesquisa:

Homenagem do Núcleo Braspol de Medianeira em 2011 a beatificação de Karol Jozef Wojtyla `”Papa João Paulo II. Este monumento se localiza na Praça Central Angelo Darolt de Medianeira (PR)

 

Travessa batizada de Karol Josef Wojtyla defronte ao monumento “ Papa João Paulo II”, também por iniciativa do Núcleo Braspol de Medianeira com aprovação da Câmara Municipal e oficialização pela Prefeitura gestão 2009/2012

 

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