Sonho de cruzeiro de luxo encalhou, no Paraguai. E barco vai virar um shopping

Até 2015, entre altos e baixos, o luxuoso Cruzeiro Paraguay fazia viagens de Assunção a paraísos ecológicos.

H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

O jornal La Nación traz, na edição de domingo, uma bela reportagem sobre o barco Crucero Paraguay, que por alguns anos foi um marco na navegação paraguaia e hoje repousa num alagadiço em Assunção, às margens do Rio Paraguai.

A enorme estrutura do barco de luxo está sendo desmontada para que fique só o “esqueleto”, permitindo que, ao invés de um navio para cruzeiros ecológicos, se torne um shopping flutuante.

O título da reportagem, assinada por Arturo Peña, já diz tudo: “Um sonho encalhado”. Uma associação de investidores tahitiano-francesa conheceu a riqueza natural do Paraguai, principalmente a do Pantanal, e decidiu investir em turismo ecológico, no final dos anos 1990.

Em 1998, eles começaram a transformar o barco – doado pelos Estados Unidos à Armada Paraguaia, que logo o pôs à venda – em uma embarcação de luxo, investindo estimados US$ 4 milhões. A viagem inaugural foi em 2001, de Assunção à cidade de Bahía Negra, no Chaco paraguaio.

A bordo, luxo, com cozinha de primeiro nível, 27 camarotes com banheiro, TV, ar condicionado e frigobar. O barco tinha cinema com tela gigante, bar, lojas, discoteca e uma piscina no terraço, de onde se tinha uma vista completa da paisagem.

O barco tinha 27 cabines, equipadas com todo o conforto. Foto Eduardo Velázquez/La Nación
Piscina e bar no terraço, com vista para a paisagem. Foto Eduardo Velázquez/La Nación

Em cada tour, havia safáris fotográficos e palestras sobre a importância de preservar a natureza, atraindo turistas da Europa, da Ásia e dos Estados Unidos. O projeto teve tal repercussão, diz a reortagem, que vieram equipes das redes NatGeo e Discovery fazer documentários.

O período de maior auge para o barco foi entre 2010 e 2012, com muitas viagens e eventos, como festas de fim de ano e carnaval, bem como concertos de música.

Na época, havia dois pacotes para cruzeiros. Um de três dias, de Assunção a Villa Hayes, onde  era oferecida a experiência de visitar uma típica estância do Chaco, caminhadas, pesca e festas a bordo.

O pacote era oferecvido a 1.490.000 guaranis, ou menos de R$ 1.200 por pessoa. O custo incluía as atividades, mais café da manhã, almoço e jantar.

Havia ainda outro pacote, uma vagem de nove dias, de Assunção até o Pantanal paraguaio.persona para pasajeros nacionales.

Este modelo de negócios sofreu intervalos desde o início da operação. Em 2015, com a queda na arrecadação, a associação vendeu ações a outro grupo investidor que, por sua vez, contratou uma equipe brasileira para buscar um novo rumo ao investimento.

O grupo de investidores que adquiriu o barco abandonado em 2015 pretende retirar os enormes motores que moviam a embarcação e transformar o navio num shopping flutuante, que ficará no Porto de Assunção. Até o nome vai mudar: será Barco Barco Paraguay Entretenimientos. A intenção é que esteja pronto já na primavera de 2021.

A embarcação terá escritórios para alugar, bares, salões para reuniões de coworking e uma área de lazer, com uma pista de baile  para eventos ao ar livre. Prevê-se um invetimento mínimo de US$ 500 mil.

Gilberto Adorno, uma espécie de porta-voz dos investidores, que está cuidando dos trabalhos no barco, disse ao La Nación:

“Hoje a gente o vê como um barco abandonado. Justo quando começaram os trabalhos, veio a pandemia. Os acontecimentos tampouco ajudaram. Mas agora o projeto de resgate retomou força, para (ficar pronto) dentro de um ano. A ideia é ter um produto que olhe para o rio, que a pessoa desfrute o rio. Será modificado um dos lados do barco para que as pessoas possam vir com suas embarcações e estacionar. Haverá restaurantes. Hoje a cozinha gourmet no Paraguai está muito avançada.”

Gilberto Adorno conclui: “Só o tempo dirá se esta embarcação voltará a ser o atrativo turístico que
foi em seu tempo ou se a implacável ferrugem fará antes seu trabalho devastador. Esperamos que seja a primeira hipótese”.

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