H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta
Mesmo que a covid-19 ataque ainda com maior vigor no Paraguai, a partir de setembro, o país deve fechar 2020 com um número de falecimentos inferior ao de 2019.
É o que revelam os registros de mortes até agosto deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, conforme quadro publicado no ABC Color. O quadro tem como base informações do Ministério de Saúde Pública e do Subsistema de Informação de Estatísticas Vitais.
O ABC Color comentou o número de mortes, mas não chegou a levantar mais a fundo a questão, para se tentar entender por que morreram menos paraguaios.
Detalhe importante: os números referentes ao período de janeiro até o final de agosto deste ano incluem as mortes por covid-19.
Aos números, a algumas explicações e a algumas coisas inexplicáveis, que nem a matemática resolve, mas que, certamente, os especialistas terão alguma ideia sobre o que acontece/aconteceu.
Menos mortes este ano
No ano passado inteiro, morreram 22.132 paraguaios, pelos mais diversos fatores. De janeiro a 31 de agosto de 2019, foram registradas 11.096 mortes.
Este ano, não há nem como prever quantas serão as mortes até o fim de dezembro. Mas, de janeiro a 31 de agosto, morreram 7.643 paraguaios, 31% a menos do que no mesmo período do ano passado.
Detalhe muito importante 1: estão incluídas no total de mortes deste ano as 326 provocadas pela covid-19 de março até 31 de agosto.
Detalhe muito importante 2: as 326 mortes representam apenas 4,2% do total de óbitos no Paraguai, em 2020.
Negacionistas
É aqui que entram os negacionistas da covid-19. Muitos deles argumentam que médicos e governos simplesmente imputam ao novo coronavírus qualquer morte, pra encobrir erros ou pra criar alarme na população, entre outros motivos que proliferam na rede social. Como dizem: “Morre de pneumonia, é covid; morre do coração, é covid”.
Na verdade, essas doenças são agravantes. São as tais comorbidades que facilitam a ação do vírus ao entrar no organismo. Ele vai sempre procurar fragilidades nos órgãos para tentar destruir seu hospedeiro. Por que faz isso, se perde um habitat? Ninguém sabe. É da natureza do vírus.
No entanto, caíram as mortes por doenças do coração e por doenças respiratórias no Paraguai, este ano. Como fica, então? Com essa queda, quem atribuiria mortes à covid-19? Alô, negacionistas! Raciocinem.
O que diminuiu
Mais uma vez, os números dão os sinais de que algo está diferente, pelo menos. Em alguns casos, a explicação é simples.
Com a quarentena, caiu o número de mortes em acidentes de trânsito. Foram 1.329, de janeiro a agosto de 2019; e apenas 442 até agosto de 2020.
É fácil deduzir. Mais gente em casa, comércio fechado, empresas total ou parcialmente paradas, escolas sem funcionar. Menos veículos circulando, menor a chance de colisões, de atropelamentos e outras barbaridades do trânsito.
Também se explica isto: em 2019, de janeiro a 31 de agosto, houve 1.329 homicídios; este ano, foram somente 80. Mais uma vez, explicável pelo isolamento social, bares fechados, boates idem, menos gente nas ruas.
E o que não se explica tão fácil
Nesses dois casos acima, é fácil entender. Mas como exlicar que diminuíram as mortes por doenças do sistema respiratório? No ano passado, até agosto, 2.251 paraguaios morreram por causa dessas doenças.
Este ano, bem menos da metade – 997. E, neste total, já estão incluídas as mortes por covid-19. Se não, seriam 671, ou cerca de 30%, apenas, do total registrado nos primeiros oito meses de 2019. Estranho, não?
Os tumores (câncer) levaram a óbito 3.402 paraguaios, até agosto do ano passado; este ano, houve menos da metade esta causa – 1.642 pessoas.
Outro dado que chamou mais chamoua atenção no quadro publicado pelo ABC Color foi o enfermidades cerebrovasculares. Até agosto deste ano, elas mataram 536 pacientes; no mesmo período do ano passado, houve 1.711 mortes.
Hospital é que mata?
Nos tempos em que se fazia muita reportagem de casos policiais, era comum o repórter escrever que “fulano morreu ao dar entrada no hospital” (em tempos mais antigos, no nosocômio).
Dali veio a brincadeira: o que mais mata não é acidente nem tiro ou facada, é hospital. Entrou, morreu.
Chiste à parte, menos gente procurou assistência médica durante todo o período de pandemia. Menos gente foi hospitalizada, a não ser os casos graves, pra dar espaço às vítimas da covid-19. Sem entrar no hospital, menos gente morreu?
A especulação está sendo feita, ainda, em tom de brincadeira. Mas vai quê?
Tentaremos obter um quadro semelhante das causas de mortes no Brasil, este ano e no mesmo período de 2019, pra ver se a conclusão é semelhante ou diferente.
Certamente, há uma grande diferença. O percentual de mortes por covid-19, no Brasil, é muito mais expressivo do que o verificado até agosto no Paraguai. Mas o país vizinho ainda tem alguns meses terríveis pela frente.
Por que os alertas?
Se mata tão pouco em relação a outras doenças, por que esta preocupação tão grande com a pandemia do novo coronavírus? A resposta pode ser simples. As outras doenças têm as mais diferentes causas e podem ter, também, os mais diferentes tratamentos.
Claro que de alguma coisa a pessoa vai morrer. Mas o problema do vírus que ataca o mundo é que, além de não haver cura nem vacina, ele complica doenças já existentes, com as quais os pacientes poderiam ainda viver muitos e muitos anos.
Se há uma doença que não tem tratamento, que não tem cura e que só a diferença de cada organismo representa a possibilidade de viver ou morrer, não será ela, de fato, a que mais deve preocupar médicos e autoridades?
Para as demais, há ou não solução, depende de cada caso. Aí, é “normal”, é da natureza. O vírus, não, é algo que, por acidente, o homem trouxe à tona e, por esse erro, sofre e até morre.
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