H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta
O governador da província de Misiones, Oscar Herrera Ahuad, simplesmente ignorou os protocolos elaborados pelo Conselho de Desenvolvimento Trinacional (Codetri) para “reabertura gradual e segura” da Ponte Tancredo Neves, cuja primeira fase começaria nesta quinta-feira, 10.
Em entrevista nesta segunda-feira, 7, o governador reafirmou que a província manterá sua postura de continuar com as fronteiras fechadas, tanto com o Brasil quanto com o Paraguai. “O entorno regional está mais complexo”, disse o governador, referindo-se ao aumento de contágios por covid-19 nos países vizinhos e na própria província da Argentina.
“O Paraguai emitiu um alerta pelo incremento de casos”, disse Ahuad, enquanto o Brasil “está com um alerta igual ou superior com restrição de atividades noturnas em cidades que fazem limite com Misiones”, como informou o portal El Territorio, de Posadas. O portal completou a informação do governador acrescentando que ele fazia referência a Foz do Iguaçu, onde foi decretado toque de recolher depois do registro de mais de 240 casos em apenas um dia.
Para o governador, é fundamental manter os protocolos vigentes, para preservar a população, evitando um aumento de contágios.
“Estamos a pouco tempo, de acordo com informação oficial, de aplicar a vacina contra o coronavírus, que embora não seja a solução para isso, é uma ferramenta com que vamos contar para dar mais segurança sanitária à nossa população”, disse Ahuad.
E completou: “Não podemos, de um dia para o outro, gerar uma abertura de todos os níveis, nas questões internacionais”, sob risco de haver impacto de aumento da pandemia em Misiones.
PLANO SEGURO
Com essa decisão, o governador de Misiones descartou o documento enviado no início de dezembro pelos presidentes do Codespi (Conselho de Desenvolvimento de Puerto Iguazú), Codefoz (Conselho de Desenvolvimento de Foz) e Codeleste (Conselho de Desenvolvimento de Ciudad del Este), em que pediam a reabertura da Ponte Tancredo Neves, de forma gradual e segura.
“Não podemos deixar para 2021, pois sem essa reabertura em dezembro, período de férias e turismo, a economia de Puerto Iguazú não resistirá até o ano que vem”, disse na época o presidente do Codespi, Pablo Bauzá.
O protocolo de reabertura da Ponte Tancredo Neves previa um plano-piloto de 15 dias de duração, a partir do dia 10, em que seria permitido o ingresso de 3 mil pessoas por dia, no Brasil e na Argentina (6 mil visitantes), 10% do fluxo anterior à pandemia.
Depois disso, a ponte seria aberta para mais pessoas e os horários de entrada e saída também seriam ampliados, com avaliação epidemiológica permanente.
DESINTERESSE
Desde o fechamento das fronteiras, em março, o governador de Misiones tem se manifestado contrário à reabertura, alegando a questão do vírus, mas também dizendo que nunca a província arrecadou tanto como nesse período.
Sem dar bola para o turismo, Ahuad é favorável principalmente a que se mantenha fechada a ponte que liga a capital, Posadas, à cidade paraguaia de Encarnación. O motivo é simples: calcula-se que 50% dos moradores de Posadas faziam suas compras no Paraguai, deixando o comércio da cidade às moscas.
Agora, a situação se inverteu: é o comércio de Encarnación que vive o desespero de não ter a quem vender. Nesta segunda-feira, 7, os moradores de Encarnación e do departamento de Itapúa fizeram uma grande manifestação, que reuniu centenas de carros e motos, numa carreata que percorreu a cidade e terminou em concentração na entrada da ponte que liga a Posadas.
Os manifestantes exigem do governo soluções efetivas à crise econômica provocada por quase 10 meses de fechamento da Ponte Internacional San Roque González de Santa Cruz, por onde só passam mercadorias de importação e exportação.
“FÁBRICA DE POBRES”
Até agora, a Argentina só autorizou o ingresso de turistas dos países vizinhos por avião, e exclusivamente em Buenos Aires, cumprindo uma série de protocolos sanitários. Mesmo com a séria crise econômica que o país atravessa, que a pandemia apenas agravou, o governo adotou um dos mais rigorosos bloqueios ao vírus, sem ter muito sucesso, já que a Argentina tem o segundo maior índice de mortalidade pela doença.
Enquanto isso, a economia faz mais vítimas. Nos últimos dois anos, o número de pobres aumentou 10%, e agora eles já representam 44,2% da população.
O analista argentino Carlos Pagni, em texto publicado no jornal La Nación, de Buenos Aires, diz que seu país virou “uma fábrica de pobres”. Segundo ele, nos últimos 25 anos a Argentina foi o único país do mundo que aumentou seus níveis de pobreza. “Há lugares onde há muitos pobres, como a Etiópia, como o Brasil, mas eles hoje são menos do que eram há 25 anos”.
“Os argentinos, que nos considerávamos excepcionais, sobretudo na América Latina, por não termos o drama da pobreza, agora somos excepcionais por sermos uma fábrica de pobres”, avalia.
Sobre a situação na Argentina e em Puerto Iguazú, leia:
Cenas de miséria explícita em Puerto Iguazú, num país que vê a pobreza se multiplicar
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