Ter um animal de estimação em casa é aventurar-se em um universo à parte com doses de amor, alegria e, na medida certa, pitadas de uma boa educação. Dizem que os cães são os melhores amigos do ser humano, mas o contrário não é bem assim. Em Foz do Iguaçu, abandono e maus-tratos dos pequeninos são frequentes. Hoje, estima-se que pelo menos dois mil animais, a maioria cães e gatos deixados nas ruas, estejam sob a tutela de pelo menos 65 protetores e organizações não governamentais.
Presidente do Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais (CMPDA) e da Associação Vida Animal, Noely Cassini diz que todos os dias o conselho recebe denúncias de maus-tratos e faz em média 12 visitas. Ela explica que quando existem maus-tratos aos animais, também há problemas no núcleo familiar, agressões e dependência química. Por isso, é preciso resolver a questão sob a perspectiva da saúde. “Hoje é necessário tratar a questão animal como saúde, envolvendo animais humanos e não humanos e meio ambiente. Só assim teremos resultados eficazes”, salienta.
O abandono ocorre com mais frequência em estradas vicinais e áreas rurais. Com a pandemia, também passou a ser comum deixar os animais em imóveis desocupados. Noely informa que os animais abandonados sofrem todos os tipos de violência nas ruas e, quando são descartados, muitos morrem de depressão. A sobrevida daqueles que estão nas ruas é baixíssima, aponta.
ONGs e protetores travam uma batalha diária para cuidar dos pets. Sem receber recursos públicos, eles fazem rifas e bazares e contam com a boa vontade e disposição de pessoas que queiram adotar os bichinhos.
Não existem dados precisos sobre o número de animais em Foz do Iguaçu. Para isso, há iniciativas em andamento a fim de mapear essa realidade. Uma delas é do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), que em 2019 concluiu a segunda etapa do censo animal. Os dados devem ser divulgados ainda neste mês em uma audiência pública. Outra proposta vem da vereadora Carol Dedonatti (ver texto abaixo).
O último dado populacional de cães e gatos na cidade, feito em 2014, aponta a existência de 54.980 animais, com base na vacinação contra a raiva.
Legislação
Algumas leis já estão em vigor para coibir maus-tratos e abandono. Mas para a advogada e protetora Andréia Cristina da Silva, o problema relacionado aos animais não está na falta de legislação, e sim no fato de a sociedade não entender a crueldade que existe por trás do abandono. “Muitas pessoas pensam que o animal vai se virar, encontrar alguém para cuidar, porém a realidade é muito mais cruel do que este ato em si”, destaca. Ela chama atenção para alguns efeitos do abandono, ou seja, morte por atropelamento, depressão, doenças, agressão, fome e sede.
Em termos de legislação, há a Lei 196/2012, artigo 2, inciso VII, alínea d; o Decreto 24.645/1934, de Getúlio Vargas, no artigo 3, inciso V; e a Lei Federal nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais), artigo 32. A pena é de três meses a um ano, além de multa.
Outra conquista recente quando se trata da causa animal foi a aprovação, na Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu, do projeto que proíbe fogos de alto impacto e com efeito de tiro, a exemplo dos fogos de artifício, que amedrontam os pets. A proposta foi aprovada com 14 votos favoráveis, em setembro do ano passado, e promulgada pela Câmara de Vereadores.
O que configura maus-tratos de animais?
Manter animal acorrentado ou em canil pequeno.
Bater no animal.
Deixá-lo exposto ao Sol e chuva.
Deixá-lo sem água e sem comida adequada.
Omitir socorro de médico-veterinário.
Não tratar pulgas, sarna ou carrapatos.
Projeto prevê diversas medidas em prol da causa animal
Recém-eleita vereadora, a protetora Carol Dedonatti tem uma ampla proposta para mudar a realidade dos animais em Foz do Iguaçu, transformando a cidade em pet friendly. Isso engloba uma série de ações, incluindo iniciativas contra o abandono e maus-tratos e a realização de castração e acolhimento.
Um dos primeiros desafios é fazer um censo para saber quantos animais existem em Foz. E para facilitar a coleta de dados, a ideia é usar um aplicativo que permita ao responsável pelo animal fazer o reconhecimento facial e o cadastro. Campanhas de adoção responsável e instalação de um hospital veterinário público no município também fazem parte da proposta da vereadora. Nesse sentido, já foram iniciadas conversas com o Centro Universitário Uniamérica.
Os projetos da vereadora serão submetidos ao Legislativo municipal para serem aprovados.
CCZ faz a vigilância de animais com leishmaniose
O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) não atua na captura de pets abandonados. O trabalho do centro envolve apenas o recolhimento de animais com diagnóstico de leishmaniose visceral. O trabalho deve ser retomado neste mês.
Entre 2019 e 2020, um total de 1.263 animais foram capturados e soltos em seguida. Mais de 50% dos cães pertenciam a famílias, ou seja, não eram “cães de rua”, apenas estavam nas vias, segundo a prefeitura.
O programa de prevenção à leishmaniose visceral, com o encoleiramento de cães de rua, conforme a prefeitura, visa a reduzir a transmissão da doença, evitando que novos casos surjam, inclusive entre seres humanos.
Comentários estão fechados.