H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta
Os comerciantes de Encarnación, cidade paraguaia que faz fronteira com Posadas, na Argentina, vivem o mesmo drama que até há pouco assolava nossos vizinhos de Ciudad del Este: querem a reabertura da fronteira para tentar reduzir a grave crise econômica, que afeta todo o departamento de Itapúa (Encarnación é a capital).
Nesta terça-feira, 20, comerciantes, “paseros”, ambulantes, cambistas, taxistas, mototaxistas e até autoridades fizeram uma manifestação para que a fronteira seja aberta com urgência, e criticaram o governo paraguaio por não ter “demonstrado interesse nenhum em levar adiante o plano de reativação econômica da região”, como noticia o jornal Última Hora.
Os trabalhadores dizem que não aguentam mais. Querem que o governo negocie com a Argentina a reabertura principalmente da ponte San Roque González de Santa Cruz, que une Encarnación a Posadas.
A manifestação teve apoio do senador Juan Afara, do deputado diputado Walter Harms, do gobernador de Itapúa, Juan Schmalko, do prefeito de Encarnación, Luis Yd, de deputados departamentais e vereadores, bem como do prefeito de Cambyretá, Javier Pereira, entre outros, listou o Última Hora.
As autoridades se comprometeram a levar ao presidente Mario Abdo Benítez os pedidos e conseguir ajuda o mais rápido possível para os atingidos, enquanto se avançam as gestões com a Argentina.
Mas, enquanto os moradores de Encarnación pedem aos gritos pela abertura, a Argentina mantém a postura irredutível.
Plano de Misiones
O jornal Última Hora diz que o governo da provincia argentina de Misiones já tem um rigoroso protocolo sanitário que será adotado quando for definida a reabertura da fronteira entre Encarnación e Posadas.
Segundo meios de comunicação de Posadas, Misiones exigirá passaporte sanitário, seguro de viagem, resultado de teste de covid-19 negativo, entre outras exigências, que praticamente vão inviabilizar a entrada dos paraguaios mais humildes. Isto é, as medidas podem ser consideradas draconianas (*)
A reabertura da passagem fronteiriça, estima-se em Misiones, deverá ocorrer apenas em março de 2021.
O governador de Itapúa já reclamou da falta de empatia que demonstra o governador de Misiones, Óscar Herrera Auhad, mas depois se retratou e reconheceu a ajuda importante prestada pela província.
Antes disso, houve reação do governador de Misiones. Auhad disse que as vidas de milhares de milhares de paraguaios foram salvas graças à saúde pública de Misiones, como noticiou à época o portal Misiones On Line..
“Aqui, os misioneros respondemos com solidariedade, com trabalho, nos diferentes níveis, social, assistencial e sanitário, sempre. Nunca pedimos uma moeda em troca, nunca olhamos a questão econômica, o quanto nos custava uma pessoa que vinha com uma doença ou com uma necessidade”, afirmou o governador argentino.
Mas, em outra entrevista, disse que esse olhar humanitário, devido à pandemia, exigirá medidas mais restritivas para o resguardo da saúde e do sistema sanitário da Argentina.
O governo provincial tem respaldo na postura do governo da Argentina, que já comunicou oficialmente ao Paraguai, via chancelaria, que não tem interesse na reabertura da ponte.
Questão econômica
No caso de Misiones, por trás da decisão de manter fechada a fronteira, existe também a questão econômica. A província foi a segunda da Argentina em recuperação econômica, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento Produtivo da Nação, com base no faturamento das empresas privadas em agosto.
O secretário da Fazenda de Misiones, Adolfo Safrán, afirmou que o resultado é devido ao efeito positivo produzido pelo fechamento das fronteiras com o Paraguai, informou Misiones On Line.
Milhares de moradores de Posadas e de outros municípios de Misiones (e da Argentina) costumavam fazer as compras em Encarnación, deixando de adquirir no mercado local.
Outro motivo seriam as políticas proativas desenvolvidas pelo governo da província, segundo ele.
(*) A expressão “draconianas”, utilizada no texto, refere-se a medidas rigorosas, até excessivas. A expressão se baseia no conjunto de leis que se tornaram célebres por seu excessivo rigor, criadas pelo magistrado e legislador de Atenas Drácon, na segunda metade do século VII a.C. Foram abolidas por seu sucessor, que instituiu leis mais justas e sábias.
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