H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta
O acordo entre os governos do Brasil, Paraguai e Argentina, além do entendimento técnico entre as usinas binacionais Itaipu e Yacyretá, permitiu elevar o nível do Rio Paraná e a volta da navegação, atendendo a um pedido paraguaio, que precisa da hidrovia para levar cargas aos portos argentinos.
A operação-exportação começou no início da manhã de terça-feira, 12, quando as primeiras barcaças começaram a zarpar rumo aos portos argentinos, levando grãos (trigo, arroz, milho e soja) para o mercado internacional. O valor dessa exportação é de US$ 45 milhões, fundamental para o Paraguai, que teve queda no comércio exterior, este ano.
Ao mesmo tempo, no retorno das barcaças, elas vêm carregadas com fertilizantes e combustiveis, para atender a demanda interna paraguaia, segundo Yacyretá-Paraguai.
No total, 104 barcaças, carregadas com 115 mil toneladas de grãos, esperavam por condições de navegabilidade no Rio Paraná, o que só foi conseguido quando a usina binacional de Itaipu passou a produzir mais energia elétrica e, com isso, lançou no rio mais água turbinada.
De sua parte, Yacyretá também garantiu água suficiente para o transbordo de sua eclusa pelas barcaças paraguaias.
Eclusa em Itaipu?
O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, ficou tão entusiasmado com a operação que já anunciou conversas com o Brasil para construir uma eclusa em Itaipu, que ficaria na margem paraguaia, ainda desabitada no trecho necessário para a obra, segundo o jornal ABC Color.
A construção de uma eclusa na hidrelétrica binacional já está prevista no Anexo B do Tratado de Itaipu, que detalha o projeto da usina e obras complementares.
Diz o documento: “O Projeto incluirá as obras que forem necessárias para atender aos requisitos do tráfego de navegação fluvial, tais como: terminais e conexões terrestres, eclusas, canais, elevadores, e seus similares”.
Nunca saiu do papel por alguns motivos. O principal deles seria o custo, muito elevado, o qual provavelmente seria bancado pelo Brasil.
Outro é a questão do uso. Rio abaixo, isto é, rumo à Argentina, a hidrovia formada com a eclusa permitiria transportar a produção agrícola de uma vasta região, do Paraná a São Paulo e Mato Grosso do Sul. E, ainda, parte dos produtos industrializados que o Brasil exporta para a Argentina e o Paraguai.
O problema, pelo menos nos tempos atuais, seria o retorno. As barcaças voltariam praticamente vazias ou com alguma carga argentina (e uruguaia) destinada aos mercados brasileiros, mas não o suficiente para dar retorno financeiro às operações de transporte.
Brasil precisa de hidrovias
De qualquer forma, mais estudos devem ser feitos. Os países mais ricos são os que têm melhor infraestrutura de transporte, e isso inclui ferrovias e hidrovias (que pouco e mal utilizamos), além do modal rodoviário, usado massivamente no Brasil e o mais caro de todos.
Mas o próprio presidente paraguaio diz que essa não é uma obra para concluir em seu governo, que fará apenas as conversações iniciais com o Brasil. Mario Abdo Benítez fica no cargo até agosto de 2023, quando termina seu mandato.
Agradecimentos
Sobre a operação desenvolvida atualmente, ele fez questão de agradecer aos presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Argentina, Alberto Fernández, “por esta boa predisposição no cumprimento aos acordos de navegabilidade”.
“Sem este acordo, sem este consenso, seria impossível possibilitar que a produção nacional chegasse aos grandes mercados”, concluiu o presidente, conforme matéria da comunicação social de Yacyretá.
Operações em Itaipu
Em Itaipu, a produção de energia aumentou a partir de 3 de agosto, para garantir mais água a jusante (abaixo) da hidrelétrica. Diariamente, houve um acréscimo de 1.000 metros cúbicos de água por segundo, o que permitiu elevar para 1,30 metro o nível do rio na cidade argentina de Ituzaingó, tornando o rio navegável, como informa a usina Yacyretá, margem paraguaia.
Depois de oito dias seguidos, já estava garantida água suficiente para as barcaças deixarem os portos paraguaios rumo ao mercado externo. A operação termina no dia 16, segunda-feira, quando todas as barcaças já estarão esvaziadas.
É a segunda vez, este ano, que Itaipu contribui para o escoamento da safra paraguaia. A primeira foi entre 18 e 29 de junho, mas incluiu não apenas o aumento da geração, mas também a abertura do vertedouro. A medida permitiu a movimentação de 170 barcaças, retidas em decorrência da forte seca, a mais intensa da história, que afetou – e afeta – não só o Rio Paraná, mas também o Iguaçu, o Paraguai e o Uruguai.
O diretor-geral paraguaio de Yacyretá, Nicanor Duarte Frutos, lembrou que operação similar também ocorreu em 2018, naquela época para permitir a saída de um carregamento de arroz, rumo ao Iraque.
“Encontramos uma solução técnica, política e diplomática a este tema, em um trabalho conjunto com o setor privado”, afirmou.
Para o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Joaquim Silva e Luna, a operação gerou um “ganha-ganha”.
“Pudemos ajudar os nossos sócios e, ao mesmo tempo, melhorar nossa produção de energia. Quanto mais conseguimos produzir, melhor para o desenvolvimento dos dois países-irmãos”, disse Silva e Luna.
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