O senhor dos sete mares e a aventura à bordo do caiaque de garrafas pet

Chiquinho do Charango chega ao Parque Remador carregando o seu barco debaixo do braço.

* Alexandre Palmar

Chiquinho do Charango chega ao Parque Remador carregando o seu barco debaixo do braço. Segura firme a proa enquanto o sobrinho Cesar Eduardo cata a embarcação pela popa. Um à frente, outro atrás; andam pelas ruas e avenidas do Porto Meira carregando o brinquedo no muque até à beira do lago. É a vídeo cacetada anunciada. Se a canoa não virar…

Durante a caminhada pelo bairro despertam a curiosidade de pedestres, motoristas e comerciantes. Seria mais uma das suas aventuras se não fosse A Aventura. Não demora segundos para uma legião de crianças cercar o guri de bermuda. Os adultos param o cooper para testemunhar o desafio.

Antes de cair n´água, uma pequena explicação aos olheiros. O projeto surgiu para ser usado na travessia do Grupo Guairacá, no Lago de Itaipu, sábado passado. Os escoteiros atravessaram o reservatório da usina com seus caiaques de madeira, porém o piá de 46 anos de idade decidiu fazer algo diferente. Construiu algo do gênero com garrafas pet.

— “Só que a nau não ficou pronta a tempo. O marinheiro ficou a ver navios. Chorei, mas passou, ficou tudo bem. Aí terminei a construção no domingo, testei na piscina, flutuou bem, não teve problema algum de navegação. Agora estou aqui, pronto para enfrentar as águas do Remador”, relata o Chefe Sênior.

O público não esconde a torcida. Alguns gatos pingados querem ver o canoísta sair do desafio encharcado. Um mais sacana canta baixo: o barquinho virou, foi pro fundo do mar, foi por causa…. A maioria, entretanto, torce pelo sucesso do projeto de engenharia simples, feito com ajuda de um vídeo do Youtube.

Cinquenta reais, seis varas de bambu, um quilo de arame, um quilo de fio de náilon, 80 garrafas de plástico tirados do meio ambiente e capricho na amarração. O desenho original previa 60 garrafas, só que como eu sou esperto, não sou louco, não sou bobo, coloquei mais 20 garrafas, conta o moço. Com o reforço, a estrutura totalizou 30 quilos; em contraparida viu sua capacidade de carga aumentar para 120 quilos.

Chega de papo. Aparato n´água. De mansinho, Chiquinho prova que sua criação aguenta firme o seu peso. Uma remada pra direita, outra pra esquerda, a baleeira segue reta até o meio do lago.  Ele inicia a volta na pequena ilha, mas parece ter enroscado nuns gravetos. Suspense…. De repente, exibe uma garrafa de plástico verde retirada do lago. Menos lixo no parque.

Cinquenta reais, seis varas de bambu, um quilo de arame, um quilo de fio de náilon, 80 garrafas de plástico tirados do meio ambiente e capricho na amarração. – Foto: Marcos Labanca

O navegador retorna pra margem são e salvo, quase seco. O colete salva-vidas não precisa ser usado (não sou bobo, repete).  A galera vibra com a proeza.  Começa o griteiro. Uma algazarra gostosa. A molecada faz fila para conduzir o Jurema I –nome escolhido em homenagem a galinha do Didi Mocó.

A adolescente Franciele Cauanã Ferreira Soares é a primeira a vivenciar a aventura. “Senti segurança e vou arriscar”, afirma a garota de 15 anos. Tarde adentro prossegue o revezamento de remadores mirins.  Fica a dúvida se a emoção da piazada seria a mesma se o passatempo fosse um daqueles pedalinhos de cisne.

A vitória encoraja novo desafio. O guri promete aumentar o nível de dificuldade. Vai colocar o Jurema no Lago de Itaipu, rios Monjolo, Boicy, Tamanduá, Iguaçu e Paranazão. Por enquanto, tem bis amanhã, só que desta vez o Jurema viajará do Ouro Verde ao Parque Remador empunhado sobre o cabeção cantante. ♫ Pois bem, cheguei // Quero ficar bem à vontade // Na verdade eu sou assim ♫.

Alexandre Palmar é editor do Portal H2FOZ. 
Texto publicado originalmente no site Megafone, em dezembro de 2012.

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