O Paraguai que pouca gente conhece

Com uma bicicleta, uma câmera na mão e muitas ideias, o guia de turismo e historiador Francisco Amarilla Barreto organiza nova aventura aos rincões do Paraguai.

H2FOZ – Alexandre Palmar
Fotos: Marcos Labanca e Francisco Amarilla

Com uma bicicleta, uma câmera na mão e muitas ideias, o guia de turismo e historiador Francisco Amarilla Barreto organiza nova aventura aos rincões do Paraguai

A expedição “Paraguai que pouca gente conhece” tem revelado capítulos da história do país vizinho desconhecidos pela maioria dos moradores das Três Fronteiras. Coordenado pelo guia de turismo e historiador Francisco Amarilla Barreto, o resgate cultural traz na bagagem a publicação de livros, exposições fotográficas e matérias jornalísticas sobre los hermanos.  

O projeto entra agora em uma nova e ousada fase. Com apoio do Marco das 3 Fronteiras, o pesquisador “mergulhará” no interior do Paraguai para registrar em vídeo os relatos de habitantes de pequenos povoados na região de Villarrica, capital do departamento de Guairá, fundada em 14 de maio de 1570 pelo capitão espanhol Ruy Díaz de Melgarejo. 

O objetivo dessa nova expedição é imergir em oito vilarejos para registrar as lendas, curiosidades e causos enraizados ao longo de gerações no interior do estado paraguaio. Serão coletados testemunhos orais de senhores e senhoras com até 100 anos de idade, ou seja, haverá muitos anos de história para contar. Trata-se de um apanhado geral de uma rica cultura para transmitir a emoção, o sentimento, a receptividade e a sensibilidade do povo paraguaio.

O pesquisador filmará o lindo cenário verde-azulado da região – Foto: Francisco Amarilla

Para ilustrar os relatos centenários que sobrevivem de geração em geração, o pesquisador filmará o lindo cenário da região, cujo verde-azulado, símbolo de sonhos e esperanças, convida quem deseja comprovar que a natureza e a cultura podem coexistir como entidades afins e complementares. Um ambiente inspirador para o surrealismo fantástico. 

Histórias, memórias, curiosidades e lendas

Entre histórias, memórias, curiosidades e lendas relatadas pelos povos está o emblemático “mundo à parte”, habitado por 15 pessoas, que moram em quatro casebres. Para Amarilla, a riqueza dos fatos está nos testemunhos orais e na forma como os antigos narram. “Eles falam com convicção, como se fossem testemunhas oculares dos fatos”, comenta o paraguaio, que reside há cinco décadas em Foz do Iguaçu. 

Já na comunidade de Potrero Ramirez há uma casa centenária com paredes de barro e telhado de sapê. Após ser “redescoberta” por Amarilla, a existência do casebre abandonado foi noticiada pela mídia paraguaia e brasileira. A divulgação sensibilizou as autoridades, que iniciaram o processo para tombar a moradia como patrimônio histórico. 

A região também abriga parte de um dos primeiros trens a vapor da América do Sul, implantado pelo presidente Carlos Solano López no século 19. É possível encontrar as ruínas da antiga estação ferroviária, além de escombros da caldeira, vagões e trilhos. São toneladas de ferro abandonadas e de pedra sobre pedra a céu aberto numa área de 1,6 mil metros quadrados. 

Casarões da antiga Estação de Villarrica. Registro feito em expedição realizada em 2017 – Foto:  Francisco Amarilla 

A linha férrea ligava a capital da Argentina (Buenos Aires) à capital do Paraguai (Assunção), passando por Encarnación (capital do departamento de Itapúa, localizada no Sul do país sobre a margem direita do Rio Paraná), entre outras localidades, como Villarrica.

A estação de trem fechou definitivamente em 1991. A partir desse momento, dizem os antigos, ela ficou “mal-assombrada”. “A cada período de chuvas, os fantasmas aparecem.  Um vídeo irá reunir essas histórias, contadas diretamente por ex-funcionários da companhia férrea. São histórias e estórias de arrepiar”, afirma Amarilla.  

Logística da viagem

Viajar para o interior da região de Villarrica é um desafio e tanto. O departamento de Guairá está distante cerca de 240 quilômetros de Foz do Iguaçu. A viagem daqui até a capital do estado será feita de ônibus comercial. Depois, o pesquisador montará uma base na cidade e percorrerá de bicicleta os oito vilarejos.  

De bike porque os povoados são de difícil acesso e sem serviço de transporte. Em alguns casos, o guia turístico pedalará até 40 quilômetros em solo arenoso e repleto de riachos para chegar aos povoados existentes no entorno de Villarrica. “São universos praticamente inacessíveis de carro comum ou moto”, revela. 

Patrocínio

A nova etapa do projeto “Paraguai que pouca gente conhece” conta com o apoio do Marco das 3 Fronteiras – Foto: Marcos Labanca

Por conta da logística e vaivém ao “centro de apoio na cidade”, o historiador calcula que levará cerca de duas semanas para fazer o trabalho de campo. Para resgatar e compartilhar a memória popular do povo paraguaio com os moradores das Três Fronteiras, a nova etapa do projeto “Paraguai que pouca gente conhece” já conta com o apoio do Marco das 3 Fronteiras.

Com o objetivo de viabilizar todo o recurso necessário a fim de garantir a estrutura para a viagem, Amarilla está em busca de novos patrocínios. A marca do apoiador será inserida em todo material de divulgação do projeto, como citações na imprensa e no documentário. 

O recurso será aplicado em viagem de ônibus de Foz do Iguaçu a Villarrica, alimentação, cartões de memória, HD externo para descarregar os arquivos dos cartões diariamente, tripé, fonte de notebook, produção e edição do minidocumentário, além de objetos de manutenção da bicicleta, como câmara de ar reserva, farol e bateria. 

Se depender da disposição do aventureiro, a largada acontecerá em breve. Afinal “todo país tem as suas riquezas, assim como o Paraguai. Quero tornar tudo público antes que elas se percam com o tempo. São pessoas que nasceram, vivem e morrerão nessas pequenas localidades e merecem ter suas memórias registradas. É preciso preservar a história dos antepassados para conhecimento dos mais novos”, conclui Francisco Amarilla Barreto, um apaixonado pelas histórias da fronteira.

O Paraguai que pouca gente conhece – Foto: Francisco Amarilla 

Contato:
Francisco Amarilla Barreto 
(45) 99963-5095

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