Alexandre Palmar
Após sair do trabalho, Heitor costuma fazer o mesmo caminho para chegar em casa. Ao entardecer, lá está ele, andando pelas ruas de Foz do Iguaçu com uma máquina fotográfica a tiracolo, na esperança de alcançar o estrelato através do seu hobby. Acredita que vai fotografar uma catástrofe, como um acidente cinematográfico ou, quem sabe, um desconhecido caindo de um prédio.
Enquanto aguarda esse dia, continua a colecionar imagens. Meses atrás, fotografou quatro meninos que moram na favela da Guarda Mirim, no mesmo bairro onde mora. O quarteto percebeu a presença do intruso assim que o flash foi disparado. Afoitos, pediram cópias das fotografias. Receberam como resposta uma vaga promessa… Heitor não gostava de ceder suas fotos.
Passados alguns dias, um dos meninos, o menor do grupo, foi até ao portão residência de Heitor. “Tio, cadê a foto?”, perguntou de forma acanhada, com receio de irritar o vizinho. Recebeu como resposta a justificativa de que elas não estavam prontas. No dia seguinte, a mesma pergunta. “Tio, as fotos estão prontas?”, repetiu o moleque. A mesma explicação… A cena se repetiu pelas semanas seguintes, mas, com o tempo, o desejo da criança foi sucumbido por brincadeiras de rua.
Meses depois, a ansiedade mudou de lado. Heitor revelou o filme, mas não encontrava aquele que tantas vezes o havia procurado. Começou a bater na porta de alguns barracos de madeira até descobrir o “número” da moradia do garoto, porém preferiu não entregar as fotografias aos irmãos, nem aos pais dele. Deixou apenas um recado: queria entregar o álbum pessoalmente. Minutos depois, a campainha da casa do “andarilho” tocou por alguns segundos.
“Tio, sou eu, o Fernando. Vim buscar as fotos”, gritou. Heitor as entregou sem imaginar a reação do menino. Enquanto o garoto olhava as fotografias, Heitor tentava descobrir seus pensamentos. Dez minutos depois, o silêncio do encontro foi quebrado. “São as primeiras fotos da minha vida, tio. Posso ficar com uma?”, indagou o moleque, de uns oito anos.
Já prevendo a resposta positiva do “fótografo”, Fernando saiu em disparada, chamando seus pais e amigos para mostrar a eles a prova de sua existência. E também para tirar um sorriso dos espectadores daquela cena que valeria um filme.
Publicado na Folha de Londrina em 2002.
Comentários estão fechados.