Em 1954, o cenário de Foz do Iguaçu era muito diferente do que é hoje. A cidade limitava-se a poucas ruas, como a Avenida Brasil, na época de chão batido, e a Avenida JK, terminando no Gresfi, o antigo Aeroporto do município.
E foi nesse cenário, em 17 de fevereiro daquele ano, que André Lichacovski, com 19 anos, chegou para servir a Força Aérea Brasileira. O aeroporto já operava havia 13 anos, mas recebia poucos aviões.
Passávamos a maior parte do tempo jogando futebol. Uma das primeiras coisas que o sargento me perguntou era se eu jogava, para, então, treinar com o time dele, o Industrial Madeireira, lembra.
Não tinha muito segredo: O aeroporto tinha como função prestar assistência ao Correio Aéreo Nacional. Um avião vinha às quartas-feiras, de Curitiba, e o outro, do Rio de Janeiro, às sextas-feiras que fazia o transporte de militares.
Quando não estavam auxiliando no abastecimento das aeronaves, principal função dos soldados, estavam vestindo a camisa do Industrial, ou jogando vôlei na quadra do destacamento da Marinha. Era essa a rotina, além de passear pela cidade.
Turistas em Foz eram poucos. Não havia aviões civis que faziam a rota direta para a cidade. Existia um vôo Curitiba-Assunção e, dele, desembarcavam alguns curiosos para ver as Cataratas, mas não chegava a ser 10 por semana.
Apesar do pequeno fluxo de turistas, Foz já recebia autoridades. Pouco depois de inaugurar o aeroporto, o presidente da República, Getúlio Vargas, passou pelas terras iguaçuenses, em 1944. Isso foi 10 anos antes de André chegar a cidade, mas ele também teve seus encontros especiais.
Um dia, para nossa surpresa, desceu o brigadeiro Eduardo Gomes de um avião. Ficamos igual pedras, conta o ex-soldado. O brigadeiro não foi a única autoridade que passou pelo aeroporto enquanto Lichacovski era soldado, tampouco foi essa a única história.
Estamos perdidos
Dentre as visitas ilustres que desembarcaram no atual Gresfi, estava o vice-presidente da República, Café Filho, sua comitiva, e o governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha Neto. Não sei precisar a data, mas foi entre final de maio e começo de junho de 1954, começa a história.
A delegação chegou a Foz do Iguaçu numa sexta-feira para visitar as Cataratas e no domingo, já tinham que voltar para Curitiba. Cerca de 40 minutos depois da decolagem (o vôo até a capital paranaense levava aproximadamente 2 horas), tiveram que voltar por causa de problemas no motor.
O mecânico-de-bordo, obrigatório em todos os aviões da época, não encontrou o problema. Eles resolveram passar mais uma noite na cidade, já que não conseguiram identificar o que havia de errado.
À noite, o clima mudou completamente. O domingo ensolarado amanheceu como uma segunda-feira de neblina fechada, impossibilitando, mais uma vez, que o vice-presidente, o governador e todos os outros, saíssem de Foz.
A saída foi enviar, do Rio de Janeiro, o avião da presidência no dia seguinte. Por se tratar de um vôo direto, a chegada estava prevista para 13 horas, mas nem sinal da aeronave. Instantes depois, um recado do comandante surge no rádio: Não estamos encontrando Foz do Iguaçu.
Como a gasolina estava acabando, a decisão foi a de voltar para Curitiba. Depois de uma hora, mais um aviso no rádio: Estamos perdidos. A sala de comunicações do aeroporto ficou apertada para acomodar os oficiais de Foz, o vice-presidente, o governador e a comitiva.
Ninguém falava nada. Se caísse um alfinete na sala, escutaríamos, lembra André. O comandante chegou a pedir que, se acontecesse o pior, que queimassem tudo que estivesse no armário dele. Até hoje não sabemos por que.
Ainda pelo rádio, a tripulação informou que estavam procurando um lugar para fazer um pouso forçado. Encontramos uma estrada. Vamos aterrissar. Em seguida, a continuação da saga: Na aterrissagem, batemos num poste e perdemos parte de uma asa. Populares se aproximam do avião.
Após acalmar os ouvintes e esclarecer que todos estavam bem, a localização, enfim: O avião pousara em Concórdia, divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. No fim das contas, a comitiva levou mais de uma semana para ser levada, aos poucos, de volta à capital.
Ficamos uns 15 dias bem animados, com história para contar, encerra. Claro que o conto extrapolou as duas semanas para ser contado e é lembrado até hoje, principalmente a essa repórter, neta do relator, que fez questão de, enfim, registrar o ocorrido.
Portal H2FOZ – Letícia Lichacovski
www.twitter.com/leca_dpaula
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