Morre Francisco Ferreira Mota, o Motinha, um dos fundadores do Sindicato dos Taxistas em Foz

Além de atuar como sindicalista por 28 anos, Motinha foi também suplente de vereador

Faleceu na madrugada de domingo (12), Francisco Ferreira Mota, no Hospital Costa Cavalcanti, de causas naturais. Motinha, como era conhecido, estava internado há 50 dias, inicialmente por insuficiência respiratória.

Mota nasceu em Igreja Nova, Alagoas, em 14 de novembro de 1930. Chegou a Foz do Iguaçu em 3 de setembro de 1948, com o tio, José Vicente Ferreira, precursor da doutrina espírita na região.

Em Alagoas, trabalhava como alfaiate. Em Foz, veio trabalhar na confecção de Idalino Favassa. Em 1949, ingressou no serviço militar, no então 1º Batalhão de Fronteira. Continuou no ramo de confecção até 1958, quando comprou um caminhão, um Ford, ano 1946. Chegou a transportar areia para a construção da Ponte da Amizade. Casou-se em 1955 com Ana Rodinski. E ainda em 1958, passou a trabalhar com táxi.

Em 1960 Motinha fundou, com alguns companheiros, a Associação Beneficente dos Motoristas Profissionais de Foz do Iguaçu, quando havia apenas 15 táxis na cidade. O primeiro presidente da Associação foi Francisco Kosiuski. Dois anos depois, Motinha assumiu a presidência da entidade. Em 1976, foi criada a Associação dos Condutores Autônomos de Foz do Iguaçu, transformada em sindicato em 1978.

Sindicato – Recebeu a Carta Sindical das mãos do presidente indicado João Batista Figueiredo. Uma de suas grandes conquistas perante a classe dos motoristas ocorreu nessa ocasião. Durante o ato de entrega, Motinha pediu a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o que foi atendido assim que Figueiredo assumiu a presidência da República. O presidente, além de determinar aos governadores a dispensa do ICMS, também determinou à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil que os juros para financiamentos dos novos veículos fossem de 1% ao mês.

Francisco Ferreira Mota defendeu a categoria dos taxistas por longos anos, principalmente em momentos difíceis, após assaltos e muitas vezes, assassinatos desses profissionais. Trabalhava na recuperação dos veículos e assistência às famílias. Esse trabalho era feito não só para taxistas de Foz, mas também para motoristas de outras partes do Brasil.

No sindicato, conseguiu vários benefícios aos associados, entre os quais destacam-se a instalação de um consultório dentário para os taxistas e seus familiares e a aquisição de uma sede própria, para a realização de assembleias e confraternizações.

Mota com a filha, Elaine Rodinski Mota Falcão – Foto: arquivo pessoal

Mota filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em 1974. Foi suplente de vereador no início da década de 80, com um total de 600 votos. Também foi diretor e orador do Flamengo Esporte Clube, por mais de 20 anos. Foi sócio fundador do Grêmio Olavo Bilac, hoje GRESFI e sócio remido do Oeste Paraná Clube, associando-se em 1954, tendo assumido a presidência do clube por 5 meses, em 2003, enquanto não ocorriam novas eleições.

Francisco Ferreira Mota fez parte de vários órgãos de atividade pública, como o Comitê de Fronteira, o Conselho Comunitário de Segurança, o Conselho Municipal de Transporte e Conselho Deliberativo de Acidentes de Trânsito de Foz do Iguaçu, CIRETRAN.

No Comitê de Fronteira, atuou na Delegação Brasileira, procurando solucionar problemas não só de caminhoneiros e taxistas, mas também de qualquer brasileiro que tivesse alguma pendência e que precisasse de auxílio junto às autoridades paraguaias.

Conhecido também por declamar poesias e, com uma voz primorosa, foi seresteiro e participou do Coral Iguaçu, na década de 60, como tenor.

Um dos momentos de destaque na atuação profissional de Francisco Ferreira Mota foi na inauguração da Ponte Internacional da Amizade, em 1965, quando o DNER contratou todos os táxis da cidade (aproximadamente 80 veículos), uma vez que não existia transporte turístico. E ao final, tudo ocorreu com êxito.

Outro momento que ficou marcado na vida do pioneiro Motinha foi a chegada à Foz do Iguaçu de Dom Olívio Fazza, o 1º bispo da recém criada Diocese de Foz do Iguaçu. Mota, mesmo não sendo católico, mobilizou a categoria para recepcioná-lo. Os táxis se deslocaram até o aeroporto, já quase de noite e se posicionaram nos dois lados da pista única de saída. Os motoristas ligaram o pisca-alerta e o luminoso dos táxis e assim que a caravana do bispo se aproximou, fizeram uma saudação, acenando e buzinando, dando as boas-vindas. Em seguida, acompanharam a caravana até a residência do bispo.

No primeiro aniversário da Diocese, o bispo Dom Olívio convidou Mota para tomar parte da missa comemorativa. Dom Olívio, na ocasião, afirmou que veio para Foz do Iguaçu com muita preocupação de que não desse certo, mas quando os motoristas de táxi o receberam na hora da Ave Maria, com um gesto tão carinhoso e espontâneo, teve a certeza de que correria tudo bem. Para Motinha, esse foi um dos momentos mais importantes e especiais de sua vida.

Mota deixou o Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários em 1º de dezembro de 1990. Na função de sindicalista, sempre atuou na defesa e nos interesses de motoristas de caminhões e táxis, permanecendo à frente da categoria por 28 anos.

Francisco Ferreira Mota tinha 87 anos. Deixa esposa, 5 filhos, 8 netos e 8 bisnetos.

Seu corpo será velado a partir da tarde de domingo, na Capela 01 do Cemitério São João Batista. Sepultamento será no mesmo cemitério, em data e local indefinidos até o momento.

* Elaine Rodinski Mota Falcão é jornalista, turismóloga e filha de Francisco Ferreira Mota.

Texto publicado originalmente na Gazeta Diário.

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