Toda a monumentalidade das Missões Jesuíticas
A Argentina possui um dos mais importantes registros da cultura missioneira distribuídos entre as ruínas de San Ignácio, San Ignácio Mini, Candelária, Santa Ana, Nuestra Señora de Loreto, Santa Maria e San Carlos. Consideradas Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, os trabalhos de preservação possibilitam a observação da monumentalidade dos vestígios de uma parte da história do povo guarani que viveu na região no século XVII.
San Ignácio
Declarada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, San Ignácio foi fundada em 1610 em Guayrá. A redução teve que deslocar-se em 1631, juntamente com a redução de Foreto na atual província de Misiones. O padre Antônio Ruiz de Montoya conduziu o êxodo de 12 mil guaranis através de milhares de quilômetros de selva em 1696, estabelecendo-se no lugar onde hoje se encontra, sendo completamente destruída em 1817. Lá habitaram 4,5 mil índios num espaço de 10 hectares, em torno de uma praça retangular onde levantaram uma igreja, o refeitório, a cozinha e o pátio das oficinas e depósitos, o cemitério, também a residência dos missionários, o conselho e as casas dos índios. San Ignácio representou o desenvolvimento de um povo de mais de 100 mil guaranis que cultivaram a terra, imprimiram livros e desenvolveram uma indústria surpreendente.
Veja a matéria em vídeo que o H2FOZ fez.
Igreja em estilo romano
A atração principal de San Ignácio, a exemplo de todos os demais lugares, também é a igreja, construída em estilo romano por dois arquitetos italianos, com 24 metros de largura, 74 de comprimento e uma altura de 11 metros – quatro a menos que a altura original. A redução fica a 265 quilômetros de Foz do Iguaçu.
O teto era sustentado por duas colunas, que não existem mais. Na porta de entrada podem ser observados dois anjos, um de cada lado: um olhando para o lugar onde nasce o sol e, o outro, para onde o sol se põe.
Os pisos octogonais da igreja são todos originais e, por isso, estão isolados, não podendo ser pisados. Alguns ainda são mantidos intactos, mas a maior parte está rachada. No batistério, observa-se a parede superior à arcada sustentada por colunas de madeira muito bem conservadas.
Na entrada percebe-se indícios da existência de um coro, onde certamente se apresentava o primeiro coral orquestral do rio da Prata, constituído, nessa redução, em 1696.
Fábrica de instrumentos musicais
A redução de San Ignácio, além de sua produção agrícola e de ferro, foi o principal centro de fabricação de instrumentos musicais para as outras reduções e, inclusive, para exportação à Europa, onde competiam em igualdade de condições com os melhores fabricados nesse continente.
No altar da maior da igreja estão enterrados 17 jesuítas, entre os quais dois dos fundadores: José Cataldino e Simão Maseta. As janelas que se observam na igreja tinham todas vidro que era produzido na própria redução, nas cores verde e branco, dos quais ainda podem ser vistos alguns pedaços no museu mantido na entrada da redução.
As portas eram todas muito trabalhadas, com inúmeros entalhes, percebendo-se que algumas não chegaram a ser terminadas. Ao lado da igreja, há cemitério e, do outro lado, as salas de aula, sala de refeições dos padres, cozinha e o depósito de pratos e talheres. Os pisos são todos decorados.
Na antiga biblioteca, os pisos, com um boi em alto relevo, estão praticamente intactos e, para maior proteção, o local é fechado ao público. Observa-se, numa das salas de aula, uma janela com forma octogonal, aberta na pedra. Acima do colégio havia um segundo piso, onde moravam os jesuítas, mas não se conserva mais nada dele além da escada de acesso.
É possível observar ainda 36 pavilhões, com seis a sete divisões cada um, onde moravam os índios solteiros e casados. Originalmente eram 60 pavilhões. Defronte à igreja, no outro lado da praça de armas, existem as ruínas de duas capelas – uma para os solteiros e outra para os casados –, onde os índios rezavam antes de entrar ou sair da redução.
No museu, na atual entrada da redução, há uma pia batismal toda trabalhada, utensílios domésticos e outros materiais que eram produzidos na redução. São trabalhos não só em cerâmica como em ferro, e ainda pisos de vários tipos, vidros e telhas.
Há detalhes curiosos, como uma figueira cobrindo uma parede das ruínas, a raiz de uma árvore em forma de mulher e toda uma coluna envolvida por uma figueira, chamada pelas pessoas do lugar como “a árvore do coração de pedra”.
Ruínas de San Ignácio Mini
Um dos principais recursos turísticos da província, situada no coração do conjunto permite apreciar quase com exatidão o que era o traçado urbano nas reduções. No acesso das ruínas se encontra o Centro de Interpretação com nove salas, que contam a história desde a chegada dos primeiros espanhóis, o habitat dos guaranis, até a maquete do que foram as reduções.
Candelária
Localizada a 25 quilômetros de Posadas, ali se instalou a primeira capital da província de Misiones, com a presença jesuítica.
Santa Ana
Ruína Jesuítica situada na localidade de Santa Ana a 700 metros da Ruta Nacional nº 12, a 40 km de Posadas e 16 Km de San Ignácio. A primeira redução de Santa Ana foi fundada em 1633, em terras brasileiras (Brasil) para logo migrar em 1637, e fugir de ataques dos Bandeirantes. Em 1784 restaram somente 1754 descendentes, junto com os religiosos. Em 1767, ano da expulsão dos jesuítas, a população de Santa Ana já havia alcançado 4.344 habitantes; em 1784 restaram somente 1.754 descendentes.
Na construção do templo da selva, pode-se apreciar a Praça Central, a Igreja, as moradias, seus estúdios e o cemitério, utilizado pelos primeiros povoados da localidade de Santa Ana. Também se observa o que foi a estrutura produtiva desta redução, seus bebedouros, mansões, horta e sistema de irrigação escalonar. As ruínas foram declaradas Patrimônio Mundial pela Unesco em 1984.
Nuestra Señora de Loreto
Esta missão foi fundada no ano de 1632 pelos padres José Cataldino e Simón Maceta, sendo um dos povos jesuíticos mais importantes por sua grande produção de erva mate e por haver contado com a primeira oficina de impressão da época, na qual foram escritos numerosos livros, muitos deles no idioma guarani. Depois da expulsão dos jesuítas se sucederam vários saques e incêndios, o que motivou a migração de seus habitantes. Encontra-se localizada em Loreto, a 2 quilômetros da Ruta Nacional nº 12, a aproximadamente 50 km da cidade de Posadas, a 10 km de Santa Ana.
Santa Maria
Em 1626, os jesuítas Cláudio Ruyer e Diego Boroa fundam a Redução de Santa Maria, num sítio localizado ao Norte do Rio Iguaçu e a Leste do Rio Paraná, em 1636. A redução estava em plena etapa de consolidação quando sobrevivem à expulsão dos jesuítas em 1767. Presume-se que os sacerdotes tinham intenção de construir uma igreja nova em escala maior.
O traçado urbano desta Missão é similar às demais reduções jesuíticas, contando com uma praça central, a igreja, a casa do padre jesuíta, o cemitério, as moradias e a capela. Destaca-se a igreja com bonitos enfeites e cárcere de sete celas corridas separadas por paredes de 60 cm de espessura. Ali funcionou uma imprensa, entre 1722 e 1724, onde foram publicados livros de muito valor, em especial Arte de la lengua guarani. Esta obra, conjuntamente com as impressões de Loreto e San Francisco Javier foram as primeiras publicadas no atual território argentino. Localização: Ruta nº 4, a 111 km de Posadas.
San Carlos
Fundada em 1631 pelo padre Mola em Caacapi, parada próxima do rio Uruguai no atual território brasileiro, mudou-se em 1637 onde hoje se encontra a província de Corrientes, a 22 km da localidade de San José. Foi destruída completamente em 1817 pelas tropas do Brigadeiro Chagas.
As ruínas desta redução estão dentro do perímetro urbano de San José, onde se pode visitar também um interessante museu, o centro de documentação com valiosas coleções documentais e arqueológicas sobre as missões guaranis.
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