Uma divisão simplificada da história de Foz do Iguaçu tem dois períodos: antes e depois de Itaipu. Terminou a era da evolução lenta e penosa, com surtos de progresso esparsos, deu-se ingresso numa era de abrupta e profunda transformação.
Ainda no governo JK foram feitos os primeiros estudos para o aproveitamento do potencial hidrelétrico das Sete Quedas de Guairá, no rio Paraná, mas só em 1961, no governo Jânio Quadros, apareceu um primeiro esboço do projeto, elaborado pelo engenheiro militar Pedro Henrique Rupp. Rupp sugeriu que o rio Paraná fosse desviado para dentro do território brasileiro antes de atingir a fronteira do Paraguai, logo acima dos Saltos de Guaíra, imaginando que o Paraguai ficaria quieto e o Brasil tiraria da usina 25 milhões de quilowatts.
No governo João Goulart, em 1962, o Ministério de Minas e Energia encarregou o engenheiro Otávio Marcondes Ferraz – ministro da Viação e Obras Públicas no governo Café Filho e diretor da construção da usina de Paulo Afonso, inaugurada em 1955 – de retomar e aprofundar os estudos para a construção da “Usina de Sete Quedas”.
Ferraz encampou a idéia de Rupp. Propôs a construção de uma usina exclusivamente brasileira mediante a abertura de um canal de 60 quilômetros, tomando as águas acima de Sete Quedas e devolvendo-o ao leito natural logo abaixo delas, o que renderia, segundo ele, 10 milhões de quilowatts.
O Paraguai se insurgiu contra a pretensão brasileira. Com razão, porque, conforme o Tratado de Limites assinado pelos dois governos em 1872, quando no ar ainda havia cheiro de pólvora da Guerra da Tríplice Aliança, o rio Paraná pertence “em condomínio” aos dois países, no trecho em que divide as duas fronteiras. Qualquer utilização do rio, portanto, também teria que ser feira em condomínio ou, no mínimo, com a aprovação das duas partes.
O presidente Goulart não queria atritos internacionais e convidou Stroessner para um encontro no estado de Mato Grosso. Lá os dois presidentes assinaram compromisso segundo o qual qualquer utilização das águas fronteiriças só se daria mediante consentimento e cooperação mútua entre os dois países. O governo Goulart avançou no projeto da usina no rio Paraná ao ponto de encontrar na Rússia disposição de construir a obra empregando sua tecnologia e em condições privilegiadas de pagamento.
Não deu certo porque Stroessner não concordou em trazer para tão perto “o vírus vermelho do comunismo”. E não deu certo também porque João Goulart foi deposto em março de 1964.
Em 1965, um contingente militar brasileiro penetrou no Paraguai por Guaíra, numa área cujos limites geográficos não estavam claramente delimitados de acordo com o Tratado de 1872. O Paraguai tomou a atitude como provocação e enviou tropas militares à fronteira. Houve protestos em Assunção, inclusive com a juventude do Partido Colorado invadindo e depredando a sede da Missão Cultural e Comercial do Brasil, além de queimar bandeiras brasileiras em praça pública. O Departamento de Estado do governo americano colocou o dedo nessa ferida e pediu uma solução negociada para a crise.
Foi a oportunidade para os dois países deixarem de encrencas e partir para o aproveitamento do fantástico potencial energético do rio Paraná. Em 22 de junho de 1966 reuniram-se no Hotel das Cataratas, em Foz do Iguaçu, os chanceleres do Brasil e do Paraguai. Assinaram a “Ata do Iguaçu”, comprometendo-se a promover a correta demarcação da fronteira em Guaíra e proclamando “a disposição de proceder, de comum acordo ao estudo e levantamento das possibilidades econômicas, em particular os recursos hidráulicos pertencentes em condomínios aos dois países, do Salto de Sete Quedas”.
Também estabelecem que “a energia eventualmente produzida pelos desníveis do rio Paraná, desde e inclusive o Salto de Sete Quedas até a foz do rio Iguaçu, seria dividida em partes iguais pelos dois países”.
Já em 12 de fevereiro de 1967, os dois governos criaram a Comissão Técnica Brasileiro – Paraguaia para a implementação do disposto na Ata do Iguaçu. O trabalho da Comissão se arrastou até abril de 1970, quando o processo evoluiu para a celebração de “Convênio de Cooperação” entre a Comissão Técnica, Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás) e a Administração Nacional de Eletricidade (Ande), do Paraguai. Em 30 de maio foi aberta concorrência internacional com prazo até 7 de agosto para que as empresas de consultoria e engenharia apresentassem propostas para a realização dos estudos conclusivos sobre o aproveitamento energético do rio Paraná.
Da concorrência nasceu o consórcio ítalo-americano formado pela “Internacional Engineering Company Inc.”, de São Francisco, Califórnia, e a “Electroconsult SpA (ELC)”,de Milão, Itália.
O consórcio foi a campo e identificou dez locais viáveis para a instalação da usina, além de perto de 50 alternativas ou concepções diferentes para o aproveitamento do potencial. Postas na peneira, as alternativas se reduziram a duas: a construção de duas usinas, uma no local denominado Itaipu, e outra na localidade de Santa Maria, 150 quilômetros acima; e a construção de uma única usina. Os técnicos e os governos acabaram adotando a segunda alternativa.
O passo seguinte foi dado em 26 de abril de 1973, com a assinatura do “Tratado de Itaipu” pelos presidentes Emilio Médici e Alfredo Stroessner comprometendo-se, pois, a construir a usina. Criaram, para esse fim, a entidade “Itaipu Binacional”, com diretoria empossada em maio de 1974. A entidade Itaipu Binacional partiu para a contratação das empresas de construção da barragem e do complexo eletromecânico.
Em 1975 as obras foram iniciadas. Em novembro de 1982 a barragem estava erguida. Fecharam-se as comportas e o lago foi formado, tomando o lugar de perto de 50 mil pessoas que habitavam a área de 1.800 quilômetros quadrados no Brasil e no Paraguai. Em 6 de maio de 1991, com a entrada em funcionamento do 18º gerador, a usina foi inaugurada pelos presidentes Fernando Collor, do Brasil, e Andrés Rodriguez, do Paraguai.
Estava concluída a maior hidrelétrica do mundo. Seus números, referentes a dimensões e volumes, são superlativos de um gigantismo descomunal. Para dar uma idéia do impacto que teve Itaipu sobre Foz do Iguaçu, basta considerar que quando a obra foi iniciada o Município contava com pouco mais de 30 mil habitantes e que, quando de sua conclusão, contava perto de 200 mil.
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