Irma Rios Pruner, a guardiã de histórias

Filha de Elfrida Engel Nunes Rios e neta de Frederico Engel, pioneiro na hotelaria e no turismo iguaçuense. A história da família Engel coincide com a de Santos Dumont e a desapropriação das Cataratas

H2FFOZ – Renata Thomaz

Foz do Iguaçu perdeu na segunda-feira (17) da semana passada uma vida memorável, e com ela parte da história da cidade. Faleceu nesta data, Irma Rios Pruner, cidadã iguaçuense; que partiu aos 99 anos da vida que tanto amava, deixando um legado de valores traduzidos em uma vida exemplar dedicada ao trabalho, à família e à caridade.

Conhecida como guardiã de histórias; Irma era lúcida sobre datas, nomes e fatos a cerca da terra das Cataratas. Filha de Elfrida Engel Nunes Rios e neta de Frederico Engel, pioneiro na hotelaria e no turismo iguaçuense. A história da família Engel coincide com a de Santos Dumont e a desapropriação das Cataratas.

Nascida em Foz do Iguaçu em 28 de março de 1919, filha de Antônio Nunes Rios e Elfrida Engel, a pequena Irma enfrentou aos 7 anos a morte conjunta do pai e da irmã. Com a infância e adolescência ceifada diante da responsabilidade em colaborar com o sustento da família, a jovem aprendeu logo cedo que era preciso respeitar e agradecer a cada hora de vida. “Ela agradecia a Deus a cada hora vivida”, conta uma das filhas, Jacy Pruner Salfer.

Irma Rios Pruner / Foto: Arquivo Pessoal família Pruner

Católica, devota de Nossa Senhora de Fátima, casou-se em 1944, aos 25 anos, com o brusquense Érico Francisco Pruner, na igreja Matriz – São João Batista. Desta união vieram quatro filhos, nove netos e nove bisnetos, todos admiradores da matriarca.  

Irma esteve por toda vida ao lado da mãe Elfrida, dedicou-se a família e trabalhou até se aposentar como secretária do posto de saúde da rua Belarmino de Mendonça, na região central de Foz. Atendia aos pacientes com atenção, aplicava vacinas, dava apoio aos médicos e dentistas do local. “Por mais que ela tivesse a função de secretária ela não deixava de ajudar ninguém. Todos os pacientes que chegavam até ela recebiam atenção e um atendimento com dignidade”, relembra Jacy.

Segundo a filha as dificuldades da vida a tornaram uma mulher muito trabalhadora. “Ela estava fazendo algo sempre.  Não existia preguiça, ela trabalhava dentro e fora de casa, forrava botão para vender. Ela era independente e tinha tudo muito organizado”.

Toda esta energia deu forças para Irma enfrentar a perda da mãe e do marido. E para manter a cabeça erguida e continuar a criação dos filhos, ela não se deixou abater:  passou a se dedicar-se ainda mais aos trabalhos sociais.

Dona Irma tinha como meta diária produzir ou um gorro ou um par de sapatinhos de lã para crianças, adultos e idosos carentes ou com câncer da região. De acordo com um dos filhos dela, Renato Pruner, ela ia produzindo e acumulando algumas centenas de roupas e peças para doar. “Ela ajudava todos. Ela pensava antes nos outros e depois nela. Era primeiro a mãe, os filhos, os netos, os pacientes, pessoas carentes da comunidade… depois ela”, relembra.

Amiga da família, a jornalista Izabeli Ferrari conta que sempre via a dona Irma como uma guardiã das histórias da mãe e do avô. “Uma pessoa que respeitou e cultuou estes antepassados, que tinha uma lucidez invejável aos 99 anos. Ela sempre lembrava de todas as histórias. Sempre me reconheceu, não confundia ninguém”.

José Maria de Brito

Renato conta que José Maria de Brito saiu do Piauí para colaborar na instalação da 1ª Colônia Militar de Foz do iguaçu. “Depois da construção ele fico na cidade e foi o primeiro professor municipal. Ele ia dar aulas a cavalo, e sempre passava em casa. Era um grande amigo e morreu como indigente. A mãe não admitia isso, então ela e a Elfrida conseguiram na prefeitura a isenção do túmulo. A minha avó cuidava e depois a minha mãe, agora nós não sabemos quem cuidará. Já fomos na prefeitura e no batalhão para ver se eles assumem a conservação dele, mas por enquanto nada. É uma tristeza, porque uma cidade que não preserva sua história é uma cidade sem valor”, desabafa Renato.

Recebendo troféu in memória Frederico Engel das mãos do Professor Jacó Gimennes, Presidente da Paranatur / Foto: Arquivo Pessoal Renato Pruner

Viagens

Irma amava viajar e se programava para isso. “Foi a Jerusalém, adorava viajar de carro para apreciar a natureza e a estrada. Ela tinha uma força de vontade fora do comum, queria conhecer o Chile e o Peru, e levar a família toda com as economias dela. Gostava de apreciar um vinho e cerveja preta.

Doença

O filho conta que Irma era muito saudável, mas que uma erisipela (infecção de pele) muito agressiva a levou ao hospital. E devido aos efeitos colaterais do tratamento, somado a idade avançada da paciente, acumulou-se líquido nos pulmões. Com a saúde então fragilizada o coração não aguentou parou.

Jacy conta que mesmo adoecida, cerca de 20 dias antes de ser internada, Irma ainda produzia peças de roupa para caridade. “Ela sempre foi a raiz da árvore da família, colo para netos e bisnetos. Sempre deixou os pacotes prontos de presentes, seja para o guarda, do homem que entregava água, quem passava limpando a rua, ela lembrava de todos”, conta Jacy que relembra as frases que a mãe costumava proferir e uma delas era: “A vida é muito boa”.

Homenagem

Em homenagem ao aniversário de Irma aos 90 anos, o neto Antonio Frederico escreveu um texto em homenagem a avó:

“(…) o fardo dos dias de trabalho se mostra no seu corpo curvado e a experiência de uma vida inteira está marcada na sua pele e em seus cabelos brancos. Mas isso não foi o bastante  para que o sorriso abandonasse seu rosto, para que aquele colinho gostoso deixasse de ser dado… para que suas mãos parassem de preparar aquela comidinha gostosa, sem esquecermos daqueles doces, sempre feitos com muito carinho. E isso também não foi o bastante para que seus dedos largassem as agulhas de crochê que hoje, aos 90 anos, e com uma disposição de causar inveja a muitas pessoas mais novas, ainda se entrelaçam em meio aos fios para que surjam lindas peças de roupa, que muitas das vezes são entregues às pessoas que não tem condições (…)”

 

Segundo Jacy uma das últimas frases da mãe foi: “Eu estou indo, eu não queria ir, mas eu preciso ir. Eu tenho uma família de ouro, mas eu não queria ir vou sentir muita saudade, mas eu preciso ir”.

A equipe do Portal H2FOZ lamenta a recente passagem de Irma Rios Pruner, e por meio desta matéria, busca colaborar de modo singelo com a perpetuação da história de uma família dedicada ao desenvolvimento de Foz e da região, mas também à memória de Dona Irma, cidadã iguaçuense venerável.

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