Introdução

Quem visitar Foz do Iguaçu, na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, se surpreenderá com a cultura das 65 etnias que compõem a população local. A região é exemplo para o mundo de convivência pacífica entre povos de diferentes costumes e nacionalidades.

Foz do Iguaçu une povos de diferentes nacionalidades 

Quem visitar Foz do Iguaçu, na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, se surpreenderá com a cultura das 65 etnias que compõem a população local. A região é exemplo para o mundo de convivência pacífica entre povos de diferentes costumes e nacionalidades. 

“Aqui, o árabe vive bem com o judeu, o polonês pode viver bem com o 
alemão, o brasileiro com o paraguaio e o argentino e vice-versa”, define o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek. 

Os traços dessa variedade cultural se refletem nos hábitos peculiares – religião, vestuários, alimentação e línguas – encontrados somente nesta fronteira. É comum, pela manhã, cumprimentar as pessoas com o tradicional “bom dia” em pelo menos três idiomas diferentes. Brasileiros, argentinos, paraguaios, árabes, chineses e coreanos “dobram a língua” para se comunicar com descendentes de alemães, italianos, japoneses e portugueses. 

Essa conjunção de línguas e costumes é formada por cinco cidades: uma na Argentina (Puerto Iguazú), quatro no Paraguai (Ciudad del Este, Presidente Franco, Hernandárias e Minga Guazú) e uma no Brasil (Foz do Iguaçu). São 772,3 mil pessoas que vivem num raio de 20 a 30 quilômetros. 

Isso sem contar as cidades brasileiras de Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu e Medianeira, próximas a Foz, entre 10 e 40 quilômetros, com uma população de 80.627 moradores, o que eleva o total de habitantes da região para 853 mil. 

Brimos – A comunidade árabe da Tríplice Fronteira tem uma ampla estrutura com direito a uma mesquita e quatro escolas. Sua importância é tanta que mereceu a visita especial do primeiro-ministro do Líbano, Rafki Hariri, em 2003. “O Brasil é a nossa segunda pátria e aqui destaco a Tríplice Fronteira, onde convivemos em paz numa relação harmoniosa com todos”, reforça Fouad Fakih, um dos líderes da colônia árabe. 

Os árabes participam ativamente da vida econômica da região. Na Avenida JK, por exemplo, eles administram três lanchonetes, dois açougues, uma escola de dança do ventre, um salão de beleza, um supermercado, uma confeitaria, um cyber-café, uma mercearia especializada em legumes, frutas e verduras e uma série de bares e vendas. Essa verdadeira rede de comércio de serviços atende especialmente os migrantes, em sua maioria vindos do Líbano. 

Hermanos – A presença de argentinos e paraguaios em Foz foi identificada já na época da formação da colônia militar, no século XIX. Estudo feito pelo Exército em 1889 identificou uma população formada por 324 pessoas, em sua maioria hermanos que imigraram para o território tupiniquim. Atualmente, eles são parte integrante do município. 

Perto do rio Iguaçu, na região da grande Porto Meira, uma avenida funciona quase que exclusivamente para atender os argentinos que compram alimentos e buscam os serviços brasileiros. São supermercados, lojas de materiais de construção e até oficinas mecânicas especializadas em atender clientes de origem portenha. 

A região é habitada por descendentes de paraguaios que trouxeram a xipa, a sopa paraguaia, o tererê e outros costumes guaranis. Mas a bebida que faz mais sucesso na região é a cerveja argentina Quilmes, de um litro, que leva o singelo apelido de Nhonho – o personagem obeso da série televisiva Chaves. 

Entre as décadas de 40 e 70, gaúchos e catarinenses e posteriormente cariocas, paulistas, mineiros e nordestinos escolheram a região para produzir a terra, construir a Itaipu Binacional e criar seus filhos. A gauchada que trouxe o churrasco e o chimarrão modificou o sotaque regional com os parlari e as carroças com um erre só. Os CTG’s (centros de tradição gaúcha) são comuns na região. 

Os chineses e coreanos foram os últimos a embarcarem no caldeirão lingüístico. O mandarim já é ouvido e falado nos bares, confeitarias, escolas, supermercados e até danceterias. Há agências de turismo, imobiliárias, médicos e construtoras que atendem somente clientes orientais. 

Caldeirão – Toda essa variedade ressalta que a região vive o multilinguísmo descrito no clássico Blader Runner (O Caçador de Andróides), filme de Ridley Scott. A fita mostra que a língua falada numa grande metrópole de 2025 é um codemixing(mistura de línguas) de vários dialetos. 

Aos 19 anos, Marcos Krats, é exemplo disso. Analfabeto, fala o inglês e o espanhol e ajuda no sustento da família, trabalhando como piranha (autônomos que agenciam turistas em cruzamentos e recebem comissão pela indicação). Ele agencia visitantes que preferem as pensões e hotéis mais baratos. Ganho de US$ 100 a US$ 200 por mês e sustento a minha família, conta. 

O tino comercial de Krats reflete a importância do turismo na fronteira. A região é a segunda escala no Brasil para o turismo internacional. Guia de turismo que não domina uma (inglês) ou mais línguas, tem o seu mercado de trabalho reduzidíssimo. 

A preferência pelo turismo internacional trouxe a Foz e região uma leva de profissionais estrangeiros que trabalham em diversas áreas de prestação de serviços. É fácil encontrar bailarinos argentinos que dançam nas casas de shows; americanos proprietários de agências de turismo; franceses livreiros e portugueses hoteleiros. A região chegou a ter o The Informer jornal em inglês para turistas, editado pelo poliglota jornalista Jackson Lima. 

O caldeirão cultural da Tríplice Fronteira rendeu nome para o espaço mais democrático da comunidade. Localizada no centro de Foz, a Praça das Nações recebeu esse nome justamente numa referência as 65 etnias do município. Ela é o palco das manifestações dos povos que formam uma região única no planeta.

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