Getulio mantém, mais vivo do que nunca, o circo dentro de si

Getulio Souza, neto de ciganos, nasceu em Cravinhos, São Paulo, e é exemplo de vida intensa, cheia de desafios e histórias pelas estradas do Brasil.

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Faces do Iguassu – Filipe Lafuente
Texto e foto

Uma boa memória é uma de nossas melhores qualidades. Conseguir relembrar fatos distantes com riquezas de detalhes, é proporcionar, para quem ouve esses casos, uma volta no tempo, e a oportunidade de reviver momentos que se tornaram inesquecíveis.

Getulio Souza, neto de ciganos, nasceu em Cravinhos, São Paulo, e é exemplo de vida intensa, cheia de desafios e histórias pelas estradas do Brasil.

Sua mãe, bem antigamente, trabalhava numa padaria. Certa vez, seu pai, que era circense, havia montado o circo bem próximo ao estabelecimento e foi comprar pães. E Souza conta, como se estivesse presente na data, a forma como seus pais se conheceram:

– “Meu pai, que tinha o apelido de Pelanca, entrou na padaria, e viu minha mãe, ainda menina nova, fazendo bolinhos. Começou a gostar dos bolinhos e dela. Ele contou que trabalhava no circo e que todo dia cedo iria comprar pão. Era uma desculpa pra conversar com ela. E isso durou quinze dias. A família da minha mãe começou a desconfiar e achar ruim a ideia dela querer namorar um cara de circo”.

Mas o amor à primeira vista falou mais alto. Os dois fizeram um trato: – ela fugiria com ele no dia que o circo fosse embora da cidade. Como na cena de um filme o esperaria na janela, determinada a viver uma aventura de amor. Promessa feita e cumprida. Os dois foram embora juntos e voltaram depois de quatro meses. Ela já grávida. A família, enfim, concordou e os dois se casaram.

E dessa união inusitada e apaixonada, nasceram Getulio e seus irmãos. Já dentro do circo, pulsava na veia dessa família circense, arte e alegria.

Seu Pelanca, pai de Getulio, ensinou sua mãe, que não tinha nenhuma habilidade com os palcos, a fazer algumas performances. E no arame, bem alto, com uma sombrinha, ela ia se equilibrando de ponta a ponta, para o delírio da plateia. Mas foi na porta do circo, na entrada para o espetáculo, que sua mãe se estabeleceu definitivamente, vendendo café e guloseimas.

– “A primeira coisa que fiz dentro do circo foi o trapézio. Depois comecei a fazer número de salto, corda balanço e luta livre. E fui palhaço por mais de 20 anos. Assim fomos tocando o circo, trabalhando muitos anos com toda a família”, relembra.

Nesses anos de circo, Getulio conheceu várias duplas famosas, que na época estavam no início da carreira, como Milionário e José Rico e Chitãozinho e Xororó. E com o Beto Carrero, ele e sua família, tiveram uma amizade especial, que foi interrompida por causa da morte do ícone, que alegrou gerações em cima do Faísca, seu cavalo branco.

As curiosidades que seu Getulio conta são incríveis e interessantes. Administrar um circo nunca foi tarefa fácil. As dificuldades encontradas no meio do caminho eram compensadas por aplausos calorosos ao final dos espetáculos.

Há 25 anos, depois que sua mulher faleceu, Getulio vendeu toda a estrutura do circo da família e abriu um comércio em São Miguel, São Paulo. Pouco tempo depois veio para Foz do Iguaçu, onde sua filha, a Mocinha, já morava. Aqui na fronteira abriu um estacionamento na região da Ponte da Amizade. Era o auge do movimento de consumidores, que atravessavam para o país vizinho em busca de mercadorias.

Nos encontros familiares, com as quatro gerações, não faltam assuntos. É tanta coisa boa pra contar, que fazem todos caírem em risos. E mesmo depois de tanto tempo, ainda surgem fatos inéditos, para o delírio da família, que hoje é a trupe e a própria plateia. Seu Getulio, acima de todas as outras experiências que passou na vida, mantém, mais vivo do que nunca, o circo dentro de si.

* Faces do Iguassu é um belo projeto que valoriza a trajetória de moradores de Foz do Iguaçu.
Publicado em março de 2016. Clique aqui.

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