H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta
O dilema enfrentado aqui na fronteira é aquele com que se debatem os governos mais sérios desde o início da pandemia de covid-19. Fechar fronteiras, fazer lockdowns e quarentenas bem restritivas ou evitar ao máximo tudo isso para que a economia funcione e as pessoas tenham o que comer?
A covid-19 veio com este dilema. É como se dissesse: “decifra-me ou te devoro”.
Países europeus, como a França, voltam a decretar toque de recolher para tentar conter uma nova onda de pandemia de covid-19, igual ou até pior do que a primeira.
Mas, afinal, fechar escolas e empresas, isso resolve? Para o professor de medicina, epidemiologia e estatística John Ioannidis, da Universidade Stanford, que virou celebridade instantânea, isso ainda precisa ser melhor estudado, comparado com o que sabemos hoje.
Ele é contra. Confinamento não é solução. Com base nas estatísticas, o professor mostrou que a covid-19 é menos letal do que se pensava: na média, morre 0,23% dos que contraem a doença, quando inicialmente se pensava em 4%. Para quem tem menos de 70 anos, a letalidade é de 0,05%.
Se o número potencial de mortes é menor, cresce o ceticismo sobre restrições drásticas, diz ele, “porque há menos a ganhar, comparado aos custos sociais, econômicos e de saúde dessas medidas”, disse Ioannidis, segundo entrevista publicada na Folha de S. Paulo.
Mas atenção. Se confinamento é discutível, o especialista não tem nenhuma dúvida do que funciona: “lavar as mãos, evitar lugares congestionados, manter distância, usar máscaras se não puder ficar longe”.
E fronteira aberta, é sinônimo de risco? Outra grande questão. Coincidência ou não, os números de Foz registraram um aumento na última semana, pós-abertura da Ponte da Amizade. Pode não ter nada a ver.
Sem turismo no verão uruguaio
Seja como for, o Uruguai, país que está na melhor situação em relação à pandemia, na América Latina, com apenas 2.701 casos (menos de um terço do que em Foz) e 53 mortes (bem menos da metade das 134 registradas em Foz), decidiu fechar as fronteiras na temporada de verão.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira, 22, pelo presidente Luis Lacalle Pou. “Vai ser um verão restrito”, disse. A decisão se baseou em experiências de outros países que flexibilizaram o turismo e se viram às voltas com um agravamento da situação sanitária.
Lacalle Pou, que desde o início da pandemia não impôs restrições severas, disse aquilo que ninguém em sã consciência contesta: a forma de se combater a doença é com o uso de máscaras, lavagem de mãos e distanciamento social.
Para se pensar, enquanto a gente analisa o que dizem os números.
Em Foz, mais casos, mais mortes e mais internamentos
Aberta para os paraguaios, Foz do Iguaçu deve temer por isso? Se todo mundo cumprisse com os protocolos sanitários, não haveria motivo para medo. Mas parece que há um relaxo generalizado.
Depois de um período até longo de casos subindo com menos ímpeto, a média móvel voltou a aumentar. Agora, são 73,86 casos por dia, quando na semana até o sábado, dia 10, a média móvel estava em 45. Assusta, não?
O resultado é que, só nos últimos dois dias (quarta e quinta-feira), houve 8 mortes. O índice de letalidade (mortes provocadas pela doença em relação ao total de casos) subiu mais um pouco, de 1,53%, na terça-feira, dia 20, para 1,58% na quinta, 23.
Até quinta, Foz somava 8.478 casos confirmados e 134 mortes. Pra lembrar: três vezes mais casos e 2,6 vezes mais mortes do que no Uruguai, país com uma população 13 vezes maior do que a de Foz.
A ocupação dos leitos de UTI aumentou de 64% para 68%, enquanto na enfermaria subiu de 59,38% para 60,94%.
A regional de Saúde de Foz do Iguaçu mantém-se na liderança, no Paraná, em casos, e permanece em situação de emergência. São 3 casos a cada 100 mil habitantes, ante 1.763 da média paranaense.
Em mortes, o índice subiu de 38,2 a cada 100 mil habitantes para 39,4, enquanto a média paranaense – que também subiu – é de 43,6 óbitos a cada 100 mil. A regional de Saúde de Foz, que estava em 11º lugar nesse indicador, agora está em 8º.
Tem a ver com fronteira aberta? Há quem diga que sim. Mas é mais razoável supor que a população relaxou. Só o hábito de lavar as mãos com frequência já daria um “chega pra lá” no vírus, além de contribuir para afastar outras doenças.
O lado positivo a se destacar é o índice de recuperados, que chega a 94,5%, provavelmente um dos mais altos do mundo.
Mapa do calor
No Paraná, sobe a média móvel de casos, mas cai a de mortes
A média móvel de casos de covid-19, no Paraná, foi de 1.101 por dia, nos sete dias até esta quinta-feira, um acréscimo de 6,4% em relação a duas semanas.
Já a média móvel de mortes foi de 11 por dia, na semana até quarta-feira, 21, uma diminuição de 56,% na comparação com 14 dias atrás.
A letalidade está em 2,4% e o número de recuperados é de 155.614 pessoas, que representam 77% do total.
O Estado registrava, até ontem, 202.217 casos e 4.998 mortes em decorrência da doença. Havia 700 pacientes internados, dos quais 300 em UTIs, fora outros 825 pacientes internados (376 em UTIs) que aguardam resultados de exames.
No Brasil, estabilidade nos casos e queda em mortes
Como sempre, é cedo para comemorar ou sequer ficar com muita esperança. Mas, na última semana, houve uma redução na média móvel de casos de covid-19 no Brasil, que ficou em 22.098 novos casos por dia, menos 12% em relação à média de 14 dias atrás. Isso caracteriza estabilidade.
Já a média móvel ficou em 493 mortes por dia nos últimos sete dias, redução de 19% na comparação com a média de duas semanas atrás.
O Brasil registra atualmente 5.323.630 casos e 155.900 mortes. Há ainda 2.408 óbitos em investigação.
Atualmente, há 388.435 pacientes estão em acompanhamento. De acordo com o Ministério da Saúde, 4.779.295 pessoas já se recuperaram da doença, o que corresponde a 89,8% do total de brasileiros infectados.
Nos estados
O Estado de São Paulo lidera o ranking de casos e mortes: 1.076.939 e 38.482 mortes, respectivamente. Do total de casos diagnosticados, 965.420 pessoas já estão recuperadas, o que significa um índice de 89,6%, superior ao do Paraná.
Depois de São Paulo, os estados com mais mortes provocadas pelo novo coronavírus são Rio de Janeiro (20.021), Ceará (9.243), Minas Gerais (8.621) e Pernambuco (8.527). Os estados com menos mortes são Acre (685), Roraima (690), Amapá (738), Tocantins (1.072) e Mato Grosso do Sul (1.524).
Veja no quadro a posição dos estados. O Paraná é o 11º em casos e o 10º em mortes.
No Paraguai, casos, mortes e internamentos diminuem
Nas 24 horas até quinta-feira, 22, o Paraguai registrou mais 707 contágios e 12 mortes. O total de casos confirmados chega a 57.526 e o de vítimas fatais a 1.267.
Havia, até ontem, 743 pessoas internadas com covid-19, das quais 149 em terapia intensiva, número que, segundo o Ministério de Saúde Pública, vem caindo nos últimos dias, bem como a média de casos e de mortes pela doença.
Os recuperados somam 38.187 pessas, índice de recueração de 66%, ligeiramente superior ao da semana passada.
A letalidade no Paraguai aumentou de 2,1% para 2,2%, ainda assim um índice relativamente baixo. Pra comparar, no Uruguai a taxa é de 1,9%.
A preocupação do setor de saúde paraguaio é a abertura das fronteiras com o Brasil. Mas, como dificilmente isso terá volta, a diretora de Terapias e Serviços de Urgências Hospitalares do Ministério de Saúde Pública, Leticia Pintos, voltou a exortar os paraguaios a cumprir os protocolos sanitários e tomar os cuidados necessários para evitar a propagação do vírus.
Argentina volta a adotar medidas restritivas contra a pandemia
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, que está em Posadas, na província de Misiones – mas não virá a Puerto Iguazú, como se informou anteriormente -, vai anunciar nesta sexta-feira uma nova fase do Isolamente Social Preventivo e Obrigatório, que começa na segunda-feira, 26.
Depois de conversar com os governadores das províncias de Córdoba, Santa Fé, Tucumán, Mendoza, Neuquén, Río Negro, Chubut e San Luis, que hoje concentram 55% dos casos de covid no país, Fernández obteve respaldo para anunciar as novas medidas, segundo a agência de notícias Télam, do governo argentino.
A ideia dos governadores é segurar as medidas restritivas e manter as condições de prevenção vigentes por mais 14 dias. Mas, para a região metropolitana de Buenos Aires, que já não é mais o epicentro da pandemia, deverão ser anunciadas flexibilizações.
“Disputa” com a França
Na quinta-feira, 22, a França aparecia na frente da Argentina em número de casos, com a nova onda da pandemia no continente europeu. Nesta sexta, o posto voltou para a Argentina, que está em 5º lugar em casos (1.053.650) e em 12º em mortes (27.957).
A diferença da Argentina para a França é de apenas 11.659 casos, por isso pode haver alteração de postos a qualquer dia. Já em mortes, a França está bem à frente, com 34.237, ou 6.280 óbitos a mais.
A Argentina, nos últimos quatro dias, comparando com o último balanço que publicamos aqui, teve uma média diária de 18.610 casos e 444 novas mortes.
Mudança de ordem
Outra prova de que a pandemia está forte na Europa é que, em mortes, Itália, Espanha e França passaram à frente do Peru, que estava em 6º lugar e agora passou ao 9º.
Do 1º ao 10º lugar, em mortes, aparecem, pela ordem: Estados Unidos, Brasil, Índia, México, Reino Unido, Itália, Espanha, França, Peru e Irã.
Esses 10 países, no caso de óbitos, apenas trocam de posições, periodicamente. No dia 28 de julho, a ordem decrescente era esta: Estados Unidos, Brasil, Reino Unido, México, Itália, França, Espanha, Peru e Irã.
Índices da Europa, América Latina e Brasil
Os índices europeus da primeira fase da pandemia são hoje registrados na América Latina, numa “competição” que aproxima uns e outros.
Veja um comparativo de casos e mortes em relação à população de cada país:
Brasil: 2.476 casos e 72,7 mortes por 100 mil habitantes.
Espanha: 2.075 casos e 72,3 mortes por 100 mil habitantes.
Itália: 719 casos e 60,8 mortes a cada 100 mil habitantes.
De todos os países analisados, na Europa e na América Latina (excluindo-se os de população muito pequena, onde dois ou três casos já fazem um percentual exagerado), a covid-19 mata bem mais no Brasil.
Mas há três exceções. Na Europa, a exceção é a Bélgica, com 2.011 casos a cada 100 mil habitantes (menos que no Brasil), mas espantosas 91 mortes por 100 mil habitantes.
Na América Latina, as exceções são Bolívia e Chile. A Bolívia tem proporcionalmente metade dos casos do Brasil, mas são 74,9 mortes por 100 mil habitantes.
Já o Chile “ganha” nos dois indicadores. Por lá, são 2.640 casos e 73,1 óbitos a cada 100 mil habitantes.
Na Bolívia o índice de letalidade do vírus é o mais elevado desse comparativo: 6% do total de casos. Na Bélgica é de 4,5%. E no Chile, de 2,8%. Morre-se mais no Chile exatamente pelo número bem maior de casos.
É situação semelhante à brasileira. A taxa de letalidade é de 2,9%, mas, como o Brasil ostenta o 3º lugar no ranking de casos, vem a máxima: “quanto mais casos, mais mortes”.
Ao mesmo tempo, para contrariar a máxima, é surpreendente saber que os Estados Unidos, embora liderem o ranking de casos e de mortes, têm proporcionalmente menos mortes pela covid-19 que o Brasil.
Nos Estados Unidos, são 2.505 casos a cada 100 mil habitantes, índice um pouco superior ao do Brasil. Mas são 67,1 mortes a cada 100 mil habitantes. Isto é, no número absoluto, quase seis brasileiros morrem mais do que lá.
Situação de outros países próximos
Na Colômbia, 1.495 casos e 58,61 mortes por 100 mil habitantes.
Na Argentina, 2.233 casos e 59,5 mortes por 100 mil habitantes.
No Paraguai, 797 casos e 17,3 mortes a cada 100 mil. Dos vizinhos nossos, aqui da tríplice fronteira, é a situação mais confortável.
Mas está longe, bem longe do Uruguai, com seus 2.701 casos e 53 mortes. Proporcionalmente, são 74 casos por 100 mil habitantes; e 1,4 óbito por 100 mil uruguaios.
A letalidade (mortalidade em relação ao total de casos), no Uruguai, é de 1,99%. É inferior à do Paraguai (2,1%), da Argentina (2,66%) e, claro, do Brasil (2,9%).
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