Em 21 dias de novembro, Foz registrou 2.645 casos de covid-19 e 28 mortes. Já passou julho inteiro, o pior mês da pandemia, quando houve 2.447 casos e 19 mortes.
Culpa da fronteira aberta, da presença de turistas? O aumento da circulação de pessoas tem a ver, sim. Mas a principal razão é o relaxo da população, o descaso das autoridades, o mundo do faz de conta que o vírus não existe.
As “festas da covid”, aquelas que reúnem grupos de 30, 40 pessoas se espalham por toda parte. Estranhamente, os locais preferidos são loteamentos ainda inabitados, mas com muitas moradias no entorno. Um gosto pra lá de esquisito, este dos jovens iguaçuenses.
A jornalista Patrícia Iunovich publicou um depoimento em sua página no Facebook com a experiência pessoal de denunciar uma “festa da covid” perto de sua casa, na madrugada deste domingo, 22. (leia no final: Atualização)
Ligou para o 190, da Polícia Militar, e lhe disseram que a responsabilidade era da Guarda Municipal, fone 199. Ao ligar para a GM, ficou “atônita” ao saber que não havia efetivo para tomar providências em casos assim, e que a equipe só pode se deslocar para coibir uma “festa da covid” junto com fiscais da Secretaria da Fazenda.
O plantonista emendou, em relação à festa: “Se fosse assim, teríamos que fechar todos os bares e restaurantes, já que por decreto é permitida a realização de festas”.
Ele prometeu, contudo, que se possível enviaria uma equipe para atender uma denúncia de algazarra, caso em que não seria necessária a presença de funcionários da Secretaria da Fazenda (aliás, que estranho! pra uma “festa da covid” em loteamento, pra que fiscais da Fazenda?).
Até as 8h deste domingo, obviamente, não compareceu nenhuma viatura da GM. E a algazarra continuava, com menos participantes (muitos se cansaram e foram embora entre 6h e 7h).
Quando a “festa da covid” termina, começa a “festa da dengue”. Por todo lado onde houve a algazarra, multiplicam-se copos de plástico, garrafas, sacolas e tudo que rola numa comemoração. Lixo ideal para o mosquito que tem nome bonito – Aedes aegypti -, mas provoca uma doença feia e que pode ser fatal.
Voltando à covid, Patrícia Iunovich comentou: “Não adianta Itaipu, Hospital Municipal e Hospital Ministro Costa Cavalcanti se desdobrarem para colocar mais leitos de UTI à disposição da população, se as festas clandestinas pipocam em todos os cantos. É um escárnio”.
Escárnio em todos os sentidos. No uso do dinheiro público para equipar hospitais com materiais e profissionais de ponta; na assinatura de decretos que liberam bailões mediante algumas regras básicas, mas sem fiscalização para ver se são cumpridas; no faz-de-conta que estava tudo bem nas campanhas eleitorais, essas sim, também mais uma das causas para a proliferação da pandemia em Foz. Até um candidato contraiu o vírus.
Quando se fala em “festa da covid”, isto é, numa aglomeração de pessoas pra beber, fumar (inclusive baseado, claro) e ensurdecer (ou acordar) a vizinhança com o batidão do funk e com os roncos de motos e de carros, fala-se também em várias outras infrações. Como as de trânsito.
Às 8h, devidamente alcoolizados, os festeiros embarcam em suas motos e carros e vão pra suas casas, percorrendo ruas e avenidas e colocando em risco a vida de pedestres e de outros motoristas e motoqueiros.
Trazem risco para o aumento da pandemia de covid-19; contribuem para um ambiente propício para a proliferação do mosquito da dengue; trazem perigo ao trânsito. E sabe o que acontece? Nada. Na próxima madrugada eles voltam à cena. Como se não houvesse amanhã. Talvez não haja, para as vítimas dessas barbáries.
Atualização
A jornalista Patrícia Iunovich pediu para fazer uma ressalva: ela é contra o fechamento das fronteiras e do comércio. Tudo deve funcionar normalmente, mas as pessoas precisam adotar os procedimentos recomendados e o poder público deve atuar tanto para orientar quanto para fiscalizar e punir, se necessário.
Ela lembra que o lockdown, já adotado por aqui, já deu mostras de que não é a melhor solução. A Argentina é o exemplo: fechou tudo e mesmo assim é o quarto país no mundo com mais mortes por covid-19, proporcionalmente à população.
“A economia precisa funcionar, não pode parar. Mas não pode faltar bom senso”, diz Patrícia.
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