Faltam médicos, mas Paraguai não permite ingresso dos profissionais de saúde retidos em Foz

Parece mentira, mas a burocracia paraguaia parece não ter limites: médicos querem voltar a Ciudad del Este para trabalhar, mas não conseguem permissão.

H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Já noticiamos por aqui, mas o jornal La Nación foi além no assunto. Cada vez faltam mais médicos em Alto Paraná, departamento do qual Ciudad del Este é a capital, mas até agora os médicos paraguaios retidos em Foz do Iguaçu não receberam permissão para voltar a trabalhar na terra deles.

A covid-19 já deixou fora de combate pelo menos 30 médicos de Alto Paraná, inclusive o pneumólogo Calos Pallarolas, um dos líderes da luta contra o coronavírus em Ciudad del Este, que foi levado para tratamento em Assunção, na terça-feira, 1, exatamente por ter contraído a doença.

Mesmo com esse quadro dramático e com a epidemia cada vez avançando mais, o Conselho de Defesa Nacional (Codena) ainda não respondeu ao grupo de médicos paraguaios que estão retidos em Foz.

O Ministério de Saúde Pública já tem pronto um protocolo para o retorno dos médicos, mas é necessária a permissão do Codena. E o órgão continua protelando a decisão, como denuncia – mais uma vez – a doutora Idalia Medina, titular da Associação de Médicos de Alto Paraná.

“Não se entende o porquê da demora”, diz a médica, já que as pessoas entram e saem de Ciudad del Este “e não se faz nada, enquanto estamos negando a passagem a nossos próprios colegas que cumprem funções, que são realmente necessários”.

Para a médica, o pedido para o acesso dos médicos a Ciudad del Este se sustenta em um protocolo bem estabelecido, já que “ninguém pretende que esses médicos venham passear na região”.

“Eles devem vir, cumprir seus turnos e voltar a Foz, aqueles que residem lá – e vice-versa”, esclarece.

A médica ressalva, ainda, que  o pedido é apenas para aqueles que têm vínculo de trabalho com o Ministério de Saúde Pública ou com o Instituto de Previdencia Social, ambos carentes desses profissionais em Alto Paraná.

Há onze médicos paraguaios retidos em Foz do Iguaçu, que sequer sabem o que fazer, já que o consulado do Paraguai, aqui, não tem nenhuma informação.

Médicos retidos

A pneumopediatra Débora Quiorato é uma das paraguaias retidas em Foz. Consultada pelo jornal La Nación, ela disse que na sexta-feira (28) fez um pedido individual, solicitando a passagem da fronteira, alegando que é a única subespecialista en sua área.

O Conselho de Defesa Nacional lhe respondeu na segunda-feira, 31, solicitando-lhe documentos pessoais e profissionais. Agora, ela está no aguardo, já que não tem vínculo nem com o Ministério nem com a Previdência Social.

Outra médica retida é  Bianca Del Puerto, que até agora só tem conhecimento do protocolo do Ministério de Saúde Pública. Ela não sabe de nenhum avanço no processo de autorização para que possa atuar também em Ciudad del Este.

Jogo de empurra

O ministro Federico González, titular do Conselho de Defesa Nacional, respondeu ao La Nación que a primeira solicitação (dos médicos) “foi respondida há dois meses, com base na opinião do Ministério da Saúde, que não estava de acordo com o plano pelo risco representado pela possibilidade de contágio”.

Disse ainda que a solicitação de cruzar a ponte, “de maneira quase diária”, foi apresentada novamente na semana passada. Mais uma vez, segundo ele, o pedido foi encaminhado ao Ministério de Saúde Pública, que ficou de dar uma resposta nesta quarta-feira, 2.

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