Há pouco mais de um ano, tudo o que sobra do preparo e nos pratos da merenda dos estudantes do Colégio Estadual Gustavo Dobrandino da Silva (localizado da Região Sul de Foz do Iguaçu) deixa de ir para o lixo comum para gerar biogás e, posteriormente, adubo que é utilizado na horta.
Da horta, sairão os alimentos a serem utilizados na merenda, a ser preparada com a utilização do biogás (um tipo de biocombustível produzido a partir da decomposição de materiais orgânicos) gerado pelo que sobrou nos pratos.
A iniciativa faz parte de um projeto de extensão da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e conta com a ajuda de uma equipe de sete alunos do colégio, os quais se revezam para todos os dias recolher em baldes as sobras acondicionadas pelas merendeiras. O material é pesado e guardado em uma geladeira para, em seguida, ser triturado e colocado em tambores para gerar o gás metano. O biogás é armazenado, então, em uma bolsa com capacidade para mil litros, que é transportada ao laboratório, pelo menos uma vez por semana, para aulas das turmas do ensino médio e fundamental. Ali, a equipe do projeto mostra, na prática, alguns conceitos de química e física.
Além das aulas, o metano produzido vai ser utilizado para o preparo dos alimentos servidos aos estudantes. O primeiro uso na cozinha aconteceu em novembro, e a ideia é substituir, futuramente, o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Hoje, cada quilo de alimento que vai para o biodigestor está produzindo 200 litros de biogás. Ao atingir o nível máximo da capacidade do equipamento instalado, a produção será equivalente a dois botijões de 13kg de GLP (gás butano), o nosso “gás de cozinha”. Ainda insuficiente para a substituição total, mas a ampliação do sistema instalado pode garantir à escola toda a energia necessária para a produção de alimentos.
De acordo com o professor do curso de Engenharia de Energia da Unila e coordenador do projeto, Ricardo Hartmann, “o biodigestor está produzindo muito gás e com qualidade excelente”. Porém os objetivos vão muito além. “Nossa intenção com o projeto de extensão é colaborar com a formação de uma nova geração de cidadãos através da escola pública”, diz.
No Colégio Gustavo Dobrandino da Silva, a professora de Ciências e de Química, Elis Padilha, orienta os alunos quanto aos conteúdos recebidos nas aulas práticas com o uso do biogás. É ela também quem acompanha de perto o grupo de sete alunos que trabalha na linha de frente do projeto, desenvolvendo as atividades rotineiras exigidas para a produção do biogás. “Estamos iniciando esses alunos no método científico, mostrando na prática como é que se desenvolve um projeto de pesquisa”, comenta. Para que o projeto seja uma experiência científica, segundo ela, o suporte da universidade foi fundamental: “Principalmente a parte dos profissionais para fazer com que os critérios sejam válidos para publicações, para que seja realmente iniciação científica. A escola sozinha não consegue isso.”
Experiência de sucesso deve ser ampliada
O projeto teve tanto sucesso que foi selecionado para compor o Ano Internacional das Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável 2022, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Financiado pela Superintendência-Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, do governo paranaense, e pela Unila, o projeto “Investigação do potencial de geração de biogás e biofertilizantes utilizando resíduos orgânicos alimentando pequenos biodigestores em colégios estaduais do Paraná” poderá ser estendido para outras escolas públicas.
Para isso, estão sendo produzido manuais, com instruções detalhadas, gerados a partir da experiência acumulada até agora com a instalação e uso do biodigestor no Colégio Dobrandino. Dois deles estão em fase final de elaboração para publicação: o de montagem de biodigestores de pequeno porte e o de operação. A expectativa é que os manuais estejam disponíveis no início do ano que vem.
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