Dificuldade de controle na reabertura da ponte preocupa médicos de Ciudad del Este

Mas Vigilância da Saúde pondera que não há saída: se a fronteira não for reaberta, haverá outros riscos para a população.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Se quiser dar nome ao “bicho”, pode chamá-lo de coronavírus. E a situação difícil é enfrentada pela Saúde Pública do Paraguai, que ficou no dilema de correr ou deixar como está.

De um lado, a favor da reabertura da fronteira, está a redução de casos de covid-19 em Alto Paraná (a capital é Ciudad del Este), pela quarta semana consecutiva; de outro, o risco de abrir a fronteira e contribuir para a proliferação de casos.

“Claro que é um risco abrir as fronteiras, mas deve-se entender que, se não abrirmos, vamos enfrentar outro tipo de riscos”, pondera o médico Guillermo Sequera, diretor de Vigilância da Saúde do Paraguai, conforme entrevista ao ABC Color.

Responsabilidades

O médico pulmonologista Carlos Pallarola, que já chegou a ficar internado com covid-19, reconheceu que a abertura da Ponte da Amizade vai ajudar na recuperação da economia de Ciudad del Este, mas disse esperar que os comerciantes cumpram os protocolos de segurança.

Em entrevista à rádio Universo 970, conforme o jornal Hoy, Pallarola disse que vê a reabertura “com cautela e otimismo”. “Esperamos que as pessoas não baixem a guarda e continuem diminuindo os casos. Estamos melhor, na questão epidemiológica, mas veremos as consequências (da reabertura) 15 dias depois”, afirmou.

Segundo o médico, a ocupação de leitos de UTI, em Ciudad del Este, está atualmente em 90%, e a de leitos comuns em 50%. Também houve queda no número de consultas, mas em contrapartida continuam chegando pacientes com quadros graves para internamento.

“Pode haver uma nova onda de casos entre 15 e 20 dias depois da abertura da ponte, e oxalá os leitos estejam vazios e não tenhamos que internar nos comércios, porque esperamos que as entidades privadas possam assumir a responsabilidade. É pesado o custo que poderíamos assumir. Oxalá estejamos equivocados”, concluiu.

Não tem volta. Na semana que vem, ponte já não aparecerá tão vazia. Foto governo do Paraguai

Que protocolo?

O jornal Última Hora traz entrevista com a médica Idalia Medina, da Associação de Médicos de Alto Paraná, para quem “é quase impossível exercer o controle, que vai depender muito do que fizerem os comércios”.

Ainda mais que as lojas têm empregados procedentes de Presidente Franco, Minga Guazu e Hernandarias, que vêm trabalhar em Ciudad del Este e voltam para suas cidades, o que poderia aumentar os casos em locais onde existe hoje baixa quantidade de contágios, segundo a médica.

Ela vai além no prognóstico: “O comércio provavelmente não vai se recuperar com a reabertura. Há coisas que já estão perdidas, por causa do governo. Aqui, por mais que digam que vai baixando a curva (da pandemia), temos uma alta porcentagem de ocupação de leitos”.

Idalia Medina lembrou que muitos de seus colegas estão em isolamento. Eles têm dois ou três vínculos empregtícios e estão trabalhando com maior carga horária por necessidade. Quando há um contágio, têm que ficar de quarentena por no mínimo duas semanas, prejudicando o atendimento.

A médica disse que a associação se preocupa com a questão sanitária, principalmente, enquanto os comerciantes “veem o que lhes convém”. E criticou: “Dizem protocolo, mas não existe nenhum protocolo, amanhã você vai perguntar ao ministro (de Saúde Pública) e provavelmente vão estar começando a elaborar”.

Casos e mortes por covid no Paraguai

Mesmo em queda, covid-19 tem cada vez mais casos e mortes. Foto Ministério de Saúde Pública do Paraguai

Apesar de o ministro de Saúde Pública, Julio Mazzoleni, considerar que está ocorrendo uma leve desaceleração nos casos de covid-19 no país (com mais ênfase em Alto Paraná), o Paraguai fechou a terça-feira, 22, com novo recorde diário de mortes: 27. Agora, as vítimas fatais são 705.

O total de casos confirmados subiu para 34.828, com 19.257 recuperados. O índice de recuperação aumentou para 55%, mas ainda é baixo.

Nos hospitais, há 680 pessoas internadas, das quais 157 em unidades de terapia intensiva.

Críticas à “festa” feita pelo prefeito

Ftos que circularam em Ciudad del Este causaram indignação. O jornal La Clave as publicou.

Os jornais paraguaios trazem na edição on line desta quarta-feira, 23, imagens de uma comemoração na Prefeitura de Ciudad del Este, depois que a reabertura da ponte foi confirmada.

“Uma atitude vergonhosa e totalmente irresponsáel foi protagonizada pelo prefeito de Ciudad del Este, Miguel, Prieto, vereadores leais e funcionários”, diz o jornal La Clave, chamando a confraternização de “farra”.

Além de estarem bebendo e fumando, os participantes da “farra” não obedecem a nenhum protocolo sanitário, sem distanciamento social e sem uso de máscaras, “fazendo de conta que a covid-19 não existe”, diz La La Clave.

O prefeito tinha decretado o fechamento da prefeitura, permitindo aenas o funcionamento de uma ou duas dependências, como forma de pressionar o governo a decretar a reabertura da ponte. Mas “para a farra estava tudo habilitado”, conclui La Clave a sua crítica.

Governo viu-se obrigado a atender ao pedido de reabertura

A reabertura da Ponte da Amizade e de outros pontos de fronteira entre o Brasil e o Paraguai deve ocorrer já na semana que vem, provavelmente na terça-feira, 29. Falta apenas uma conversa entre os presidentes do Brasil e do Paraguai.

Mas certamente não tem volta. A tensão social, principalmente em Ciudad del Este, onde até o governador e o prefeito ameaçaram sair à rua com os manifestantes, estava tornando a situação tensa demais para o presidente Mario Abdo Benítez.

O decreto que ele assinou, embora com abertura “como teste” por três semanas, atende a tudo o que estava sendo reivindicado.

Confira:

Pressão foi demais! Governo paraguaio anuncia abertura total da Ponte da Amizade

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