* Jackson Lima
Quando uma revitalização mata o que o povo construiu, é urgente encontrar alguém que promova uma ressurreição, assim como aquela em que Cristo ressuscitou Lázaro. Isso é especialmente importante em uma cidade próspera e abundante como Foz do Iguaçu que tem sido, parece, eternamente, dominada pela mesquinhez. No final ela vira uma cidade mesquinha.
A Praça da Bíblia era um sucesso. Se não chovesse estava cheia. Centenas de pessoas todos as noites se dirigiam à praça que era ” o espaço” para pais, mães com seus filhos, os vendedores com seus produtos, artesanatos, brinquedos, pula-pula, piscinas de bolinhas, cadeiras na praça e gente sentada comendo tapioca, sukiyaki, yakisoba, cachorro quente. Daí o olho gordo dos revitalizadores.
A mesma coisa na Praça do Mitre ou Praça das Nações que o povo tinha adotado e agora “desadotou” por causa da energia do olho gordo revitalizante de umas administrações públicas que se sucedem mas não conseguem se livrar do complexo ou da Praga do Toque de Midas ao revés. Corramos todos para salvar a cidade deste mal. E tudo isso apesar da boa intenção.
Os projetos foram encomendados, de cima para baixo pelo Fundo Iguaçu – um fundo que recebe contribuição também dos turistas. E se o turista soubesse que contribuir para o fundo não é garantia de benefícios para o povo criativo de Foz do Iguaçu?
Não se pode generalizar. Quando todo o Porto Meira foi atingido pelo granizo de junho de 2014, o Fundo Iguaçu doou milhares de telhas para promover a volta à normalidade de milhares de pessoas. Isso foi bonito. Mas precisamos parar de contratar projetos alienígenas. Vamos parar de escutar frases como “contratamos uma empresa” para fazer esse ou aquele projeto. E pior vamos extinguir frases como “a prefeitura já tem um projeto” para o bairro, praça ou logradouro.
E ao mesmo tempo vamos todos, ó povo de Foz do Iguaçu, ressuscitar a Praça da Bíblia vítima dessa revitalização raquítica e alérgica ao povo. O povo que viu sua criação morrer à mingua, na revitalização da má vontade, parece estar se transferindo para a Praça Sete de Setembro também no Morumbi.
Enquanto timidamente se toma a Praça Sete de Setembro, rezemos para que as administrações esqueçam a Sete de Setembro porque sem revitalização oficializante a praça se revitaliza. Toda vez que ouvirmos a expressão ” a Prefeitura já tem um projeto para” (o logradouro “A” ou “B”) devemos fazer duas coisas, rezar e exigir que o projeto seja mostrado em público. Claro que isso exige uma comunidade interessada e atenta.
É necessário acabar com esse hábito pasteurizante dos espaços e coisas iguaçuenses. Pasteurizar que é um processo de submeter laticínios, bebidas e outros alimentos à pasteurização, também possui um significado simbólico pejorativo ligado ao social. Significaria empobrecer uma obra, uma teoria com o intuito de agradar ao público. Isso levado ao extremo pode trazer ainda o efeito de dedetização do público, desinfetando o espaço de seus usuários na ânsia de fazê-lo mais chique. No caso da Praça da Bíblia, aquele arco no meio da Praça “detetizou” a população praça-bibliense. Para ver isso basta notar que ninguém quer ficar debaixo da estrutura. É como se o território tivesse sido demarcado por algum predador, o problema é que ninguém sabe quem demarcou, daí o medo de ocupar o espaço da praça que era do povo.
NOTA
No tocante à Praça da Bíblia, a pasteurização desinfetante pode ser corrigida com bancos, por exemplo. E sejamos justos, parabenizamos o projeto por não determinar a destruição do coreto. Era só o que podia ter faltado.
* Jackson Lima é jornalista em Foz do Iguaçu.
Texto publicado originalmente em “O Blog de Foz”.
Comentários estão fechados.